sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Singularidade

Um dia em um hotel que hoje não vem ao caso dizer qual, Jucks conheceu uma garota, ou melhor, uma mulher-menina, que mesmo em toda plenitude de sua personalidade de mulher formada, mantinha toda florescência de uma meninice encantadora de garota.

Eles se encontraram no elevador e coincidentemente, ou pela ação magistral desta Força Motriz que magicamente faz as coisas acontecerem, desceram no mesmo andar e se cruzaram na saída do elevador esbarrando-se. Ao se olharem, Jucks me disse que teve um "branco" ou um lapso de tempo, e que ela ao lhe sorrir perguntou: "Tudo bem?" – e ele ainda meio aturdido disse apenas: "Melhor agora!" – e teve certeza que havia soltado à pior cantada de sua vida, mas que saiu de maneira tão espontânea que ele apenas pôde ficar vermelho.

Mas ao contrário do que ele esperava, ela deu seguimento a conversa, querendo saber quanto tempo ele ficaria na cidade e lhe contou que estava participando de um desfile de moda que acontecia ali perto. Em uma breve conversa de corredor se conheceram e marcaram de se encontrar para conhecer a cidade, afinal eram dois estranhos em uma cidade estranha, nada mais conveniente do que compartilhar esta afinidade que surgiu de repente.

Foram três as noites que ela desfilou, em uma delas ele a acompanhou e se maravilhou com uma arte que ele não conhecia, a arte que se vale da beleza feminina para ser plena. Naquela noite ao voltarem ao hotel, uma quinta-feira de muito calor, ao descerem do elevador no mesmo andar, eles não se esbarraram, mas seguiram para o mesmo lado do corredor. Daí pra frente são momentos que não nos cabe acompanhar...

Na sexta-feira, como acontece em muitos hotéis ao redor do mundo, a maioria dos hospedes realiza sua saída e naquela manhã, mais uma vez Jucks e a maravilhosa mulher-menina se encontraram, sorriram um para o outro e com um abraço selaram uma despedida, que não tinha como não ser feita.

Em respeito a singularidade, uma pequena e leve poesia:

Simplesmente Linda

Eu poderia escrever sobre o amor
e dizer como ele nasce de repente,
mas isso parece ser meio inconseqüente.
Então recolho estes pensamentos
para poder descrever como eu lhe vejo.
Linda como se saída de um conto de fadas,
delicada como uma rosa recém desabrochada.
E nisso, eu que estava perdido em algum lugar,
fui encontrado por você, fada encantada.
Que com a leveza de suas mãos suaves
me levou de volta ao sonhar.
Devolvendo-me o sorriso que havia sumido.
Restituindo-me a simplicidade
que só se encontra junto à felicidade.
Assim, eu que não possuía um lugar,
ofereci meu coração para abrigá-la.
Um lugar simples reconheço,
mas que permanecerá aberto,
caso ache conveniente voltar a visitá-lo.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Ode

Em 28 de outubro do ano 0070, o apóstolo Judas Tadeu, foi martirizado por perseguidores do Cristianismo, então nesta data, que marca a elevação do apóstolo a Santo, celebra-se o dia em sua homenagem. São Judas Tadeu é visto como "O Professor", pois dos apóstolos, foi o que mais buscou disseminar os ensinamentos do Cristo aos povos.

Após a sua ressurreição, Cristo passou 40 dias com seus apóstolos, para transmitir-lhes seus últimos ensinamentos, que deveriam ser ensinados aos povos. No evangelho de São João, narra-se que Judas Tadeu indagou ao Mestre: "Mestre, por que razão hás de manifestar-te só a nós e não ao mundo?", e recebeu como resposta do Mestre, que Ele se manifestaria a todos que guardassem e vivessem seus ensinamentos.

Na mesma ocasião outro Judas, mais conhecido como Tomé, mostrou-se incrédulo ao que seus olhos viam e quis tocar Cristo para ter certeza que Ele, era Ele mesmo. Pois para Tomé, Cristo não havia morrido, pois vivia dentro dele. Tomé havia tornado-se como "gêmeo" espiritual do Mestre, ele havia se tornado o apóstolo do Cristo "vivo", pois ele vivia os ensinamentos do Mestre.

Então, aqui temos dois Judas que levaram a palavra do Mestre de maneiras distintas, mas ao mesmo tempo iguais. Judas Tadeu que aprendeu os ensinamentos do Mestre e interpretando-os os levou ao povo, que não entenderia bem aqueles ensinamentos reservados aos apóstolos; e Judas Tomé, que viveu os ensinamentos do Mestre e foi ao encontro dos preparados para com eles compartilhar o "viver em Cristo" e os tornar apóstolos.

Desta forma temos dois grandes professores, um que prepara e forma o povo para viver os ensinamentos do Mestre, e outro que vai até os preparados e compartilha com estes o "viver" os ensinamentos do Mestre.

Nada poderia ser mais antagônico do que Cristo ser traído por um apóstolo chamado Judas; pois Ele possuía outros dois Judas que seriam: o disseminador de seus ensinamentos e o formador de seus apóstolos.

Esta postagem é minha contribuição, para honra de São Judas Tadeu, por ser ele o santo dos casos desesperados e/ou de difícil solução, e ter me concedido uma graça, intercedendo por mim junto a Deus, em um momento que eu muito precisava, e como Nótlim Jucks também é devoto do santo, hoje entramos em comum acordo e abdicamos de publicar uma de suas poesias.

Já minha citação a São Judas Tomé Dídimo, ou simplesmente São Tomé, é referente à minha conversão espiritual, que ocorreu quando li o livro "O Quinto Evangelho" de Huberto Rohden, em que Rohden nos apresenta os ensinamentos do Mestre, vividos por Tomé. Cristo deixou apenas 1 mandamento "Ama teu próximo como a ti mesmo", e uma infinidade de ensinamentos. O desafio é tentar vivê-los.

Fica aqui uma poesia, da qual não sei quem é o autor, mas que celebra o dia de São Judas Tadeu:

Ode a São Judas Tadeu

São Judas Tadeu, suplica por nós,
ressoe lá no céu dos pobres a voz!
Na paz do Senhor nos faze viver,
e o mal opressor não deixes vencer!

És do Cristo um apóstolo amado,
do Evangelho, fiel seguidor,
mas não eras assim tão lembrado,
só por causa de um tal traidor!

Porém hoje és um santo querido,
sempre a ti pede o povo favor,
e de Deus tu não és esquecido,
pois te atende no justo clamor!

Do cortante tu fazes cajado,
e apascentas ovelhas no amor,
das que sofrem nos queres ao lado,
partilhando também sua dor!

A Verdade que sempre liberta
tu revelas em gestos de luz,
e por nós intercedes, na certa,
quando em nós dói o peso da cruz!

Teu exemplo de amor já floresce
em mil vidas tão cheias de amor,
e na glória do céu resplandece
o teu nome, em sublime esplendor!

No teu nobre fervor caminhando,
eis o povo na paz a viver,
e com todos o pão partilhando,
mundo novo aqui faz florescer!

São Judas Tadeu, suplica por nós,
ressoe lá no céu dos pobres a voz!
Na paz do Senhor nos faze viver,
e o mal opressor não deixes vencer!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Vontade

O poema-conto publicado aqui hoje, é na verdade uma narração alegórica que envolve o preceito moral da vontade, em que se tenta retratar uma jornada mística, uma competição valorosa, ou simplesmente a vida e seu maior bem. Jucks acredita que em outros tempos, o personagem sempre oculto do poema, poderia ser considerado um profeta atravessando suas provações, cujo fim é apenas um novo começo, ou a aurora de um novo dia, em que as provações estão em cada momento, no momento exato que estamos vivendo agora.

Como aço, como o vento... simplesmente vontade.

Enquanto as estrelas me guiarem,
enquanto houver forças em mim para continuar, eu o farei.
Os inimigos estavam mais perto do que eu podia imaginar,
mas com os instintos dos animais e a ajuda do Criador,
sobrepujei a todos.
Meu nome foi concebido para ser duro, forte e destemido.
Não temido, respeitado.
Considerando o que aconteceu;
considerando o que vivi,
nada se compara ao que eu aprendi.
Em momento algum, eu disse ser mais do que realmente era,
também não expressei nada mais que a verdade.
Mas mesmo assim houve os que disseram o contrário.
Eu corri com o vento, dormi com os cães
e comi o que me foi dado.
Atravessei o rio e suas armadilhas.
Ouvi o cantar dos pássaros e senti o frio da morte.
Mas mantive-me de pé, pois meu bem era maior.
Eu estava lutando por amor,
por meu destino.
Não nasci forjado pelo aço,
mas lutei como se fosse feito dele.
Minhas mãos endureceram durante a viagem,
meus lábios partiram e meu sorriso sumiu;
mas minha coragem me fez continuar,
eu estava lutando por amor,
por meu destino.
A tentação rondou-me a noite,
mas como um lobo e com um Lobo eu a afugentei.
Eu corri como o vento, eu me tornei o vento.
Ao final da jornada como uma brisa cheguei,
mas uma brisa com aparência de furacão.
Não nasci forjado pelo aço,
mas vivo como se fosse feito dele,
e enquanto as estrelas me guiarem,
enquanto houver força em mim para continuar, eu o farei!

Da Bíblia Sagrada

Do livro de Salomão, foi retirado o texto publicado aqui hoje, que é também um pedido de desculpas deste humilde redator ao seu autor exclusivo. Nótlim Jucks me solicitou que não mais usasse na chamada dos poemas, a frase - série de poesias dedicadas a "Feliz Fantasia" – isso, pois ele argumentou dizendo que os poemas aqui publicados, nasceram de sonhos e fantasias, muitos da experiência própria de ser humano, em toda sua intensidade, ou até mesmo em sua debilidade; que estes poemas devem participar da vida das pessoas que os lêem e não retratar exclusivamente um sentimento dedicado. O Poema "Feliz Fantasia" ainda será publicado aqui, mas será o último que teremos a real noção de que pertencia a uma série de poesias; e isso também foi julgado pelo autor, adequado, pois segundo ele, é um de seus mais belos poemas.

Súplica e Reconhecimento

Que Deus me conceda falar conforme desejo, e ter pensamentos dignos dos dons que recebi.

Pois é Ele o guia da Sabedoria e que corrige os sábios.

Em suas mãos estamos nós e nossas palavras, assim como toda prudência e habilidade.

Foi ele quem me deu conhecimento exato de tudo que existe, para eu compreender a estrutura do mundo e as propriedades dos elementos, o principio, o fim e o meio dos tempos, as alternâncias dos solstícios e as mudanças das estações, os ciclos do ano e as posições dos astros, a natureza dos animais e os instintos das feras, as forças dos espíritos e os raciocínios dos homens, a variedade das plantas e as propriedades das raízes.

Tudo o que está oculto e tudo o que se vê, eu aprendi, pois a Sabedoria, artífice de todas as coisas me ensinou.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Apenas observando

Segundo o calendário de Jucks, hoje é exatamente dia 21, dia de "Feliz Fantasia", pois foi neste dia que o poeta conheceu uma mulher deslumbrante, que o encantou como ele jamais esperava que fosse acontecer.

Ela o conquistou com a expressão pura de seus sentimentos, com o encantamento da descrição de um momento singular e único de sua vida, uma experiência contada de forma tão maravilhosa e cheia de paixão, que se fosse escrita viraria poesia. Disse-me Jucks, que foi neste dia que ele se apaixonou pela "Feliz Fantasia".


Sendo hoje então, um dia tão marcante para o poeta, eu quis saber mais sobre o que aconteceu entre eles, mas Jucks não quis me contar muita coisa, apenas me disse que o romance deles viveu todas as fases do extraordinário: aconteceu em inconformidade aos costumes; de maneira rara; sem obrigação de ser; de forma excepcional (também em todas as suas fases: em excesso; com excentricidade, anormal, etc.); muito grande ou descomunal; singular; assombroso; estupendo.


Para o poeta, o modo como eles se conheceram, aconteceu como se uma missão especial tivesse sido atribuída ao Universo; a de colocá-los juntos.


Recentemente, Jucks me confidenciou que parece que seu romance com a "Feliz Fantasia" findou, e tristemente me disse que como tudo foi elevado ao extraordinário, parece que terminou de maneira ordinária (comum), provavelmente devido à rotina e outras coisas que ainda vão perturbar a cabeça do poeta por um tempo, enquanto ele continuar tentando descobrir, ou até ele simplesmente aceitar.


A única coisa certa que há, é que deste romance foi composta a série de poesias dedicadas a "Feliz Fantasia", e como milagres acontecem todos os dias e a vida nunca deixa de ser extraordinária, cabe a nós apenas acompanhar até onde essas poesias vão nos levar...

Apenas observando

A chuva caí fina e leve esta manhã
e a luz do sol faz as gotas brilharem.
Há certa paz diferente hoje.
Sinto como se tudo estivesse certo
e acredito que esteja mesmo.
Você continua deitada sonhando
com algo que tem te feito sorrir dormindo.
Eu apenas te observo atentamente,
sem fazer barulho para não acordá-la.
Há este sopro de ar que entra pela porta
e levemente toca o lençol que te cobre.
O lençol se move delicadamente
e novamente se modela ao seu corpo.
Eu seria capaz de ficar horas aqui,
apenas olhando você dormindo
e imaginando com o que você tem sonhado.
Sua respiração tão tranqüila
combina com a natureza deste dia.
Lá fora ainda chove
e até mesmo a chuva caí leve
para não incomodar seu sono.
Bem em frente à varanda deste nosso quarto
há uma árvore que me faz recordar,
uma época que eu só precisava sonhar.
O passarinho que mora em seu tronco
me pergunta se ele pode cantar.
Eu peço que ele cante uma música calma
que não seja capaz de te acordar.
E as flores do jardim lá embaixo
me lembram alguma coisa de você
e deve ser por isso que todas elas
são mais vivas e mais belas.
As gotas brilhantes da chuva
escorrem de pétala em pétala
e como lagrimas chegam ao chão.
Existe essa paz diferente hoje,
que acalma meu coração
e faz com que eu sonhe acordado.
Você se vira na cama ainda com preguiça
e o lençol descobre suas costas.
O sol agora se aproxima dos seus pés
e impõe um brilho incomum a sua pele.
Você se vira uma vez mais
e seus olhos não querem se abrir,
então você simplesmente sorri.
Quer saber o que estou fazendo.
Digo que estou apenas observando
uma das coisas mais lindas que Deus fez.
Ela.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Um primeiro amor

Foi em uma noite no fim do verão que o ônibus que a levava partiu; essas coisas sempre acontecem no fim do verão. Nótlim Jucks há um tempo me confidenciou que conhecera uma jovem linda, quando ambos estavam na flor da idade, ou na idade do verão, entre os 15 e os 17 anos.

Eles eram todos sorrisos acanhados, olhares encantados e corações carregados. Carregados daquela adrenalina que faz o coração pulsar mais rápido, por estar fazendo algo que se acredita que não se deve fazer. Então, entre as paredes de uma sala semi-escura, com os pais dormindo no quarto dos fundos, eles se amaram puramente; puramente é um jeito que pode ser definido como "amável", em que um carinho mais malicioso faz mais cócegas do que causa excitação, alguma coisa de descoberta, alguma coisa quase infantil.

Naquele verão eles se amaram, descobriram o primeiro amor de verdade, aquele que parece mágico e cheio de fantasias. Aquele amor sem preocupações, sem imaginar o que será amanhã, ou o que deve ser feito depois amanhã; todos os dias era apenas aquele amor. Simples, puro e porque não dizer ingênuo.

Mas este amor, em sua mais sublime concepção, aos olhos dos outros foi visto com malícia e dogmatizado, pois aqueles olhares certamente não entendiam, e desta forma eles foram obrigados a se despedir.

Sobre este primeiro amor, Nótlim Jucks escreveu dezenas de poemas, afogou todos os seus sentimentos em palavras e versos, sobrando apenas uma incerteza do que poderia ter sido, a incerteza de não saber se aquele primeiro amor poderia ter sido o verdadeiro. Mas a verdade é que todo amor, quando intensamente vivido, é genuíno, real e assim verdadeiro.

Aproveito a publicação do poema intitulado "Essa certeza incerta", para indicar a vocês um excelente filme, chamado "Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera". Eu poderia fazer uma resenha do filme e explicar porque decidi indicá-lo aqui, mas cada um que assiste a este filme, encontra algo de si em uma das estações pelas quais o filme e a vida percorrem. Existem coisas que não podemos controlar, inexoravelmente o tempo e inexplicavelmente o coração das pessoas; por isso faço uso mais uma vez dos ensinamentos de Antoine de Saint Exupéry: "Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.".

Espero que apreciem, o poema é sobre uma despedida de um primeiro amor:

Essa certeza incerta.

Uma vez, não há muito tempo,
eu tive você em meus braços.
Agora as noites estão mais curtas
e os dias mais longos.

Eu me lembro que foi algo repentino,
você me olhou fixamente e eu retribuí.
Foi como se tudo estivesse congelado
e apenas nós nos movêssemos.

Não consigo explicar o que aconteceu.
Você tinha todas aquelas dúvidas
e eu todos aqueles problemas,
mas o mundo parecia querer se entregar a nós.

Havia um certo surrealismo no ar,
uma alegria que de tão alegre era triste
e que de tão triste não cabia em si de alegre,
confundindo todas as coisas.

Talvez porque não fosse para acontecer.
Talvez porque no mundo existam regras.
Regras que limitam nossos sentimentos,
que reprimam este amor que sentimos.

Mas eu sei que eu tive você em meus braços,
eu ainda sinto seu coração batendo,
ainda sinto seu peito pressionando o meu
num movimento tranqüilo e aconchegante.

Enquanto você esteve em meus braços,
minhas noites nunca foram vazias
e meus dias nunca foram sem graça.
Hoje tudo me parece tão estranho.

Há essa certeza de que tudo está certo.
Essa alegria que não existe,
essa tristeza que persiste.
E há esse sentimento de que estou errado.

Mas no meio disso tudo eu tenho uma certeza.
Agora minhas noites são vazias e curtas
e meus dias são longos e chatos.
Pois já não te tenho mais em meus braços.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Entre o desejo e a consecução

Hoje eu gostaria de compartilhar com vocês um poema escrito por Nótlim Jucks, que não chega a ser um romance ou uma novela de cavalaria, mas que trás em sua essência um pouco de amor cortês, um misto de contradição entre o desejo erótico e a realização espiritual alcançada através da conquista da mulher amada. Que no ideário dos que viviam os preceitos cavaleiresco, não havia nada mais sublime do que ser recebido no leito da mulher amada e por incontáveis momentos se sentirem como um só ser, completos, plenos e satisfeitos.

É estranho imaginar que numa época tida como "Idade das Trevas", havia os que procuravam a luz do amor, simples, mesmo que não duradouro, mas idealizado e sonhado, com uma intensidade que talvez seja difícil de encontrar hoje em dia, ou que apenas viva na imaginação dos bardos que compuseram canções e lendas, sobre Brunilda e Siegfried, Tristão e Isolda, e tantos outros. Sugiro que se tiverem um tempo e puderem, adquiram "Sagas de Heróis e Cavaleiros", volumes 1 e 2. São histórias simples e riquíssimas, vale à pena.

Sem mais delongas:

Entre o desejo e a consecução

Oh Deus!
Aclamar-vos-ei, pois meu coração se embaraça com minha mente.
O amor de um homem deveria ser sagrado
e o de uma mulher imaculado.

Mas eis me aqui diante de teus olhos,
a caminhar sobre tuas terras sem compreender,
porque fazes isso a meu tão exíguo ser
perante tua grandeza.

Quão afável é a dama
que ocupa todos os meus pensamentos e sonhos?
Quão grande é minha culpa
por fazer-me parte dos pensamentos de outra dama?

O mundo, no momento em que este meu sentimento se expôs,
nada significa! Pois grande seria a minha alegria
se aquela a quem meus pensamentos se põe aos pés,
dissesse que o que sente por mim é tão grande quanto o que sinto por ela.

Diz a lenda, que um homem sentado em uma nuvem branca,
branca como a barba do homem sentado nela,
redige a vida das pessoas
e que a cada linha redigida um caminho é traçado.

Pois a cada momento que me coloco a refletir,
vejo o homem a minha vida redigir
e a ele atribuo os infortúnios de meu caminho,
como se minhas faltas não fossem minhas e sim dele.

Mas este velho o qual chamam destino,
podia fazer-me sentir o gosto vigoroso da vitória.
E que vitória regozijaria mais meu coração,
do que a conquista da mulher amada.

E quais devaneios se fazem presentes
nos pensamentos de tão esperançosa dama,
que me adora sem saber como realmente sou,
simplesmente adora a imagem que tem mim.

Que culpa tenho eu?
Pergunto-me incansavelmente tentando descobrir;
que culpa tenho eu se ela faz de mim
objeto de seus devaneios.

Meus pensamentos ao extemporâneo são postos,
a expurgar minha mente me vejo,
pois preciso fazer-me esquecer
tudo isso que acontece a minha volta.

Mas quão virtuosos são meus atos, que a mim não encantam,
pois como um larápio de sonhos me vejo,
cujo fardo que me recaí é o de amar aquela que nestes braços já esteve
e como um raio a cortar o céu se esvaiu.

Por ser eu, um homem pobre de pecúnia,
tento me engrandecer nos sentimentos
e talvez isso me torne virtuoso nos atos,
mas apenas sentimentos não fazem uma vida.

Que grande valia tem um sentimentalista virtuoso
diante de um pecuniário grandioso?
Talvez o fato de não se ajoelhar e servi-lo
honrando a si mesmo e aos que acreditam.

Deus! Aclamar-vos-ei uma vez mais.
Pois como um grão de areia na imensidão do oceano me sinto.
Faze com que meu coração se acalme,
pois meus pensamentos agem de maneira inconcebível.

Pequeno sou diante destes pensamentos
por agir a mente do homem de maneira impulsiva.
Uma solução a mim cabe encontrar,
pois esquecer se faz impossível.


Mesmo que eu coloque meus pensamentos em outro lugar,
dirija-os há outros tempos,
eles parecem ajustar-se voltando a este momento,
como se só houvesse agora e aqui.

Mas que solução cabível requer
o amor que sinto por esta mulher,
e que solução cabível seria
a que não feriria a mulher para qual sou o que não sou.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Desse jeito

Hoje aqui no Mirtu's Blog vou lhes apresentar uma poesia, que considero particularmente especial. Ela narra às peripécias de uma menina que para Nótlim Jucks é sua Alice no País das Maravilhas, uma poesia que tenta ir até um tempo que ele não conheceu, que ele não viveu, mas que através da imaginação e dos sentimentos tentou trazer a todos a visão da menina "Feliz Fantasia" ainda criança.

"Feliz Fantasia" é uma pessoa feita de pura magia, que com um sorriso muda o dia e faz o Sol raiar; ela é uma música dos Beatles e linda como não se fazem mais pessoas lindas assim. A delicadeza e a força de sua certeza em si inspiram os que a conhecem, e fazem brotar lágrimas nos olhos daqueles que não a merecem.


Então, é com muito orgulho que o Mirtu's Blog publica o primeiro poema de uma série dedicada a "Feliz Fantasia":

Você criança

Eu imagino você contando estrelas
e sorrindo cada vez que perde a conta.
Sentada com seus pensamentos,
eu te vejo fantasiando com as nuvens.
Vejo você colorindo todas as folhas brancas
pois o mundo precisa de mais cor.
E criando novas histórias para contar
pois as antigas não são tão belas.

Eu imagino você correndo na chuva
e gritando a liberdade que lhe pertence.
Girando com seu vestido encharcado
e pulando na piscina a gargalhadas.
Você toda serelepe correndo e brincando,
como se a vida fosse feita dessa sua energia.
Desconhecendo qualquer tristeza deste mundo,
que deixa de ser triste quando você sorri.

Eu sou capaz de jurar que te vejo
subindo numa árvore pra comer goiaba verde.
E te vejo ralar o joelho no muro,
apenas para olhar do outro lado.
E ouço sua mãe gritar: "Você vai se machucar!"
Mas esse alerta só serve pra te incentivar.
Pois você sorri desse seu jeito maroto e continua,
afinal de contas você tem essa maneira toda sua.

Daqui do meu sonho eu sou capaz de te ver.
E vejo seus olhos brilhando de alegria,
pois você conseguiu mais uma vez o que queria.
E também ouço daqui você ser repreendida
e igualmente ouço sua resposta mais que rápida,
com a petulância infantil que lhe cabe: "Você não me manda!"
e vejo fumaça sair da cabeça de quem não manda,
mas certamente aceita, porque te ama.

Sobre essas e outras peripécias eu poderia contar,
mas sobre esse tempo só me cabe imaginar e sonhar.
Pois como você sabe e mais ninguém vai interpretar;
eu não vi você se lambuzando de sorvete,
muito menos se deliciando com mousse de chocolate da sua Vó.
Mas ainda assim fico imaginando você menina,
com aquele vestido que você não gostava de usar,
correndo e pulando na piscina só pra pirracear.

Eu te vejo assim, nem tão menina... criança.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Aprendendo a voar

O poema de Nótlim Jucks que está sendo publicado hoje é inspirado em um desenho do premiado artista de ficção científica e fantasia: Rodney Mathews. Na pintura de Mathews ele consegue expressar a solitude, como um momento a ser valorizado, em que se pode trabalhar os sentimentos, as idéias, pensar ou descansar sem perturbação. Ou simplesmente trazer a tona um sentimento de liberdade, ou desapego de algo para iniciar um novo. Na pintura, Mathews coloca um homem sobre uma plataforma altíssima, em que não se vê o chão, mas se vê pássaros voando abaixo dele e apenas isso, o homem e a liberdade que dá a sua própria alma.

Nesta linha, segue:

Aprendendo a voar

Eu me sento sobre a ponte
e olho o rio que corre lá embaixo.
Sinto a chuva que cai fria,
e sei que não deveria estar aqui,
não agora, não com este sentimento.
Eu só queria voltar para casa,
encontrar você e saber quem sou.
Eu sinto sua falta, e isso dói.
Algumas coisas parecem fora de lugar,
e não há tempo para organizá-las.
Eu olho o rio que corre lá embaixo
e sinto que estou cada vez mais confuso.
Onde foi que eu deixei as coisas
que faziam minha vida ter sentido.
Eu gostaria que você estivesse aqui,
para me dizer quem sou,
para segurar minha mão sob a chuva.
Talvez algum dia eu entenda
porque certas noites são tão escuras,
e o silêncio é tão incomodo.
Eu fecho meus olhos procurando
uma lembrança que não seja sua,
e me sinto tão longe de casa,
tão longe do que eu chamaria de lar.
Não vou conseguir dormir esta noite,
alguns pensamentos estão me deixando louco.
Eu tento mudar o mundo a minha volta,
mas é como se certas mentiras continuassem
apenas para me mostrar
que sou eu quem deve mudar.
Eu realmente gostaria que você estivesse aqui.
Está anoitecendo e a chuva não quer parar,
eu trouxe aqueles bolinhos que você adora.
Sinto que hoje talvez eu consiga.
Você me deu asas, e toda verdade que conheço,
então não há porque ter medo.
Apenas deixo meu corpo cair,
estendo meus braços para o alto e tenho certeza,
estou aprendendo a voar.

Das definições

Vou tomar a liberdade de citar Paulo Coelho hoje no Blog, pois em seu livro Maktub II, que pode ser encontrado gratuitamente na internet, ele faz referência ao amor usando duas citações para tentar defini-lo. Porém não irei tão longe e apenas exporei um sentimento que para quem ama, é certamente o mais difícil de aceitar e muitos não gostam nem de imaginar o real sentido da frase publicada abaixo, mas segue:

"Se amas alguma pessoa, deixa-a em liberdade. Se ela voltar, foi porque precisou. Se ela não voltar, foi porque precisou."