segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A primeira aventura

É com imenso prazer que publico hoje o primeiro episódio de "As aventuras de Nótlim Jucks". Um pequeno conto que narra uma célebre peripécia do sonhador poeta, que desde pequeno sempre esteve às voltas com o mundo da imaginação, ou talvez desde que esteve em tal mundo, nunca mais saiu. Assim acompanhemos a primeira aventura, "A Capa Lavada":

Ele marcou no relógio, faltava uma volta completa do ponteiro pequeno, até ser Sábado de manhã. Depois de cinco dias combatendo o mal, ele precisou deixar sua capa para lavar, ou melhor, sua mãe tomou-lhe a capa na sexta, com a promessa de devolvê-la de manhã, limpinha.

A noite foi longa e ele sentiu que por pouco não descobriram seu ponto fraco. A menina de cabeça invertida que de vez em quando aparecia debaixo de sua cama, desta vez não deu sinal de vida - ou seria de morte? – pensou. Ele só sabia que teve de dormir com a luz acesa, pois não estava invulnerável como nas outras noites.

Quando acordou no meio da noite e percebeu que tinham apagado a luz, ele ficou consternado, pois se seus pais estavam dormindo, quem poderia ter apagado a luz. De bate pronto ele se levantou e correu até o compartimento secreto, que ficava em baixo da revista em quadrinhos do 'Capitão América' - que ninguém podia tocar - e pegou a revista da grande moça nua que o protegia nas noites escuras. Afinal de contas uma moça com seios tão grandes e nua, só podia ser uma super-heroína muito poderosa.

Quando voltou pra cama e colocou sua super-heroína embaixo do travesseiro, pensou porque guardava uma única revista do 'Capitão América', então se lembrou: "É o único super-herói loiro que conheço." – então se deitou mais confortável, afinal estava protegido e se alguém perguntasse segunda na escola, ele poderia dizer que era o 'Capitão América' e ninguém descobriria sua identidade secreta.

Sábado mais cedo que de costume ele se levantou, tomou rapidamente seu leite e um composto que ficava numa garrafa que dizia algo como: "Biotônico" – certamente o Dr. Botânico tinha controlado a mente de sua mãe para que ela lhe desse aquele composto. Intrigado, ele decidiu que depois investigaria, ele tinha algo mais importante a fazer, e afinal de contas, ele já tinha as pistas necessárias; um composto chamado "Biotônico" só podia ser coisa do Dr. Botânico, a rima era clara.

Mais rápido que um raio, ele correu até o quintal. Ela estava lá. Tremulando ao vento, brilhando aos primeiros raios do sol matutino. Ele se sentiu aliviado. Correu até onde estava sua capa, mas percebeu que ela estava ligeiramente mais alta que ele; exatamente, quase um "ele" a mais. Então, com sua super-visão ele olhou ao redor, porém não encontrou nada que pudesse ajudá-lo na difícil empreitada de pegar sua capa.

Foi quando viu o banquinho branco que não podia ser pisado. Olhou mais uma vez ao redor e não havia sinal de perigo, sua mãe estava cuidando do jardim. Assim, ele sorrateiramente foi até o banquinho branco e o pegou, correu ligeiramente - em silêncio - para baixo do varal. Ao que ele subiu no banquinho sua mão pode tocar a maravilhosa capa vermelha que fazia seus olhos brilharem e seu sorriso se abrir. Num único e preciso puxão ele fez o prendedor pular. Com a capa em mãos e uma destreza sem igual, ele fez um rodopio longo e demorado sobre a cabeça, terminando no pescoço com o laço rápido que seu avô havia lhe ensinado fazer.

Ele estava pronto. Invulnerável novamente. Invencível. Pronto para enfrentar o Dr. Botânico e a menina de cabeça invertida.

Houve então um pequeno momento de silêncio; sua super-audição havia captado um grito de socorro. Lois! Ela estava em perigo. Ele precisava salvá-la!

Ele olhou rapidamente para o quintal, para longa escada que findava a garagem, e tomou uma decisão: "Preciso de um impulso!" – correu até o começo da garagem, olhou o fundo do quintal e partiu em disparada com a certeza de que precisava de sua super-velocidade para pegar um bom impulso. Ao atingir o primeiro degrau no topo da escapa ele estendeu um braço, colando o outro de punho cerrado junto ao corpo e voou. Por incríveis mais de dois segundos ele voou, voou de testa no chão libertando seu temível super-grito, que fez sua mãe correr mais rápido que o 'Flash'.

Algumas horas e pomadas para contusões na testa depois, ele conseguiu diagnosticar o que havia dado errado: "Mamãe, preciso aprender a pousar!" – e sua mãe quase precisou ser socorrida pelo pai.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O Nascimento de Jimeno

E aí pessoas, beleza?! Depois de um período de férias, volto com as publicações do Mirtu's Blog, com a meta de cumprir as promessas feitas em 2009. E por falar em 2009, um pequeno depoimento no estilo 'viver a vida', feito por Nótlim Jucks:

"Eu tinha 30 anos quando perdi tudo. Eu me tornei paranóico e o cara mais chato da face da terra. Para se ter uma noção eu não conseguia mais conversar comigo mesmo, o que me fez parar pra pensar que outros podiam estar tendo a mesma dificuldade em lidar comigo.

É difícil para eu dizer isso, e muitos dirão que estou louco, mas, além do meu ego, havia mais alguém vivendo dentro de mim. E esse alguém, esse 'companheiro oculto', não gostava de mim.

A verdade é que demorei muito para saber da existência do 'companheiro oculto' e nesse tempo todo em que ele esteve comigo, sem eu saber, ele influenciou demasiadamente meu ego.


Meu ego sempre foi um cara muito confiante, um egocêntrico por assim dizer, depois que começou a conviver com o 'companheiro oculto', chegou até mesmo a tentar um egocídio. Se algum de vocês assistiu Homem-Aranha III, conseguirá me entender melhor. Eu possuía um simbionte, no estilo Venon, compartilhando minha vida.


Mas quando eu estava perdido, achando que tinha perdido tudo, eu percebi que na verdade eu não tinha perdido nada. Que tudo não passava de um complô entre meu, agora egocida e o simbionte 'companheiro oculto', com intuito de me fazer acreditar que eu era um lixo. Porém eles não contavam com minha astucia, e assim como Peter Parker, consegui me livrar do simbionte e ainda salvar o meu ego. Não saí desta batalha sem seqüelas (algumas, ainda estou descobrindo), mas com certeza saí melhor e hoje estou aqui, contente por poder contar essa minha experiência para vocês.


Valeu."


Putz! Bom, vamos continuar. Passada régua em 2009; estreamos em 2010 com as novidades prometidas.


A partir de hoje vamos acompanhar as séries: "As aventuras de Nótlim Jucks" com nosso intrépido poeta, "Os amores de Jim Russovi" sobre as peripécias de um Dom Juan de araque e "Os ensinamentos do mestre Issa" para nos trazer um pouco de espiritualidade.


Começamos então com o episódio piloto de "Os amores de Jim Russovi" - O Nascimento de Jimeno, espero que gostem:


Essa é a história de Jimeno Russo Viaggio e ela começa numa tarde escaldante de verão.

Ana Maria Jiménez estava com umbigo saltado como um grande olho de peixe, quando sentiu a primeira contração. Seus olhos se esbugalharam e ela sentiu uma pontada na espinha. Jimeno queria sair.

A parteira Dolores foi chamada e a casa de Ana Maria virou uma feira. Havia pelo menos quinze pessoas por cômodo. Não que estivessem ali para ajudar, mas Carlos Viaggio tinha acabado de mandar instalar um potente ar condicionado a pedido de sua esposa Ana.

Em meio ao alvoroço de gente que se acotovelava querendo ver o espetáculo do nascimento de Jimeno, Ana berrava que queria todos fora dali, o que não adiantou. Assim, Dolores e mais três mulheres se puseram a trabalhar para trazer Jimeno ao mundo, e Ana agora já estava enfurecida, com as pessoas, com a parteira e suas ajudantes e com Jimeno, pois berrava como nunca antes tinha se visto uma mulher berrar:

_ Jimeno porco mio, saíííííííí!!! - e estrebuchava buscando ar para mais uma contração que quase lhe arrancava os olhos da fronte.

_ Saíííííííí italianinho filho da put...! - e os espectadores seguravam a respiração pensando como uma mulher tão linda podia pronunciar tantos palavrões em tão curto espaço de tempo.

Eis que o italianinho com nome espanhol veio ao mundo num estrondo. Dolores puxara o guri pelas pernas com tanta força, que ao que ele saiu, não conseguiu segura-lo, deixando-o cair na bacia que estava diante das pernas abertas de sua mãe. Rapidamente as ajudantes acudiram o menino, e ao pegarem-no, estranharam, pois tiveram a nítida impressão que o pequeno lhes sorria.

Dolores cortou o cordão umbilical e embrulhou Jimeno em panos limpos, o entregando aos braços de Ana, que estava exausta, suada e continuava enfurecida. Mas ao segurar seu pequeno nos braços, ela abriu um largo sorriso e o beijou com carinho. Ao olhar ao seu redor, Ana viu que todos os seus vizinhos, compadres e comadres estavam ali, com a boca aberta e sem dar um pio. Então ela virou o menino para eles e disse: "Este é Jimeno, digam 'Oi' para ele!" – e a sala explodiu em alegria. Todos se abraçaram e cumprimentaram Carlos, que ainda estava extasiado com o momento.

Assim nasceu Jimeno Russo Viaggio, filho da espanhola Ana Maria Jiménez e do italiano Carlos Viaggio, e neto de Francesco Russo Viaggio, que morrera dois dias antes do nascimento do menino. Mas que certamente estava em espírito abençoando seu querido neto.


Jimeno possuía certo encantamento em seu ser, e todas as pessoas, ou melhor, as mulheres que estavam na casa, brigaram para ver quem seria a primeira a segura-lo. Mas isso já é parte de outra história, que veremos outro dia.