domingo, 19 de setembro de 2010

O Urso Vermelho

Para contar a história do Urso Vermelho (ou Pequeno Urso de Rus'), precisamos voltar um pouco no tempo e buscar algumas origens. Para isso vamos tentar condensar as origens dos patriarcas do Pequeno Urso de Rus', independente de descendências legítimas ou ilegítimas.

O Pequeno Urso de Rus' é da linhagem direta de Francisco de Oliveira Silva (à esquerda), descendente dos índios Araxás (Araxãs, ou Arachás) - uma das mais antigas etnias do Brasil – que são aqueles do "lugar onde primeiro se avista o Sol"; e que foram destruídos como grupo étnico por volta de 1688, como conta a "Lenda de Catuíra":

"Diz à lenda que os arachás foram destruídos em conseqüência da traição de um de seus guerreiros, Iboapi, que estava apaixonado por Catuíra, filha do cacique Andaia-Aru. Entretanto, Andaia-Aru entregou Catuíra em casamento para outro guerreiro, Maú como prêmio, após uma luta vitoriosa. Iboapi, revoltado, procurou a expedição de Ignácio Corrêa Pamplona, indicando-lhe o caminho e a localização da aldeia. Durante as comemorações do casamento de Catuíra e Maú, os soldados de Pamplona atacaram a aldeia destruindo-a totalmente e assassinando a maioria de seus habitantes. Somente escaparam uns poucos, entre eles Maú, Catuíra e o próprio cacique Andaia-Aru, que foi preso, porém, liberado mais tarde em respeito a sua bravura. Diz ainda à lenda que Iboapi se incorporou à expedição de Pamplona e com ele seguiu até Vila Rica, onde morreu cheio de remorso pela traição cometida".


A designação Pequeno Urso é de origem Xamânica, que representa o animal sagrado que o irá acompanhar pelo caminho da Boa Estrada Vermelha (vida física) até as portas do Mundo da Estrada Azul (mudo espiritual). Onde só poderá entrar se durante seu caminho, respeitou Todos os Seus Parentes; que aqui se refere às Criaturas-Animais, o Povo de Pedra, o Povo-em-Pé (as árvores), à nação do Céu, à Mãe Terra, e os quatro Espíritos Principais – Os Espíritos do Ar, da Terra, do Fogo e da Água. E assim deve ser, pois, Somos todos Um.

O Pequeno Urso de Rus' também é da linhagem direta de Stanislaw Mackoviak (à esquerda), descendente dos Eslavos de Rus'; estado que foi formado a partir de pequenos estados efêmeros espalhados durante os séculos IV e VI, e que com grande influência dos Escandinavos tornou-se o primeiro grande estado do leste europeu. Uma breve apresentação desta história é feita no filme Rei Athur – de 2004 – até certa forma fidedignamente – em que os Eslavos de Rus', são associados como sendo os Sármatas:

"Por volta de 300 D.C., o império romano estendia-se da Arábia até a Bretanha. Mas os romanos queriam mais. Mais terras. Mais gente fiel e subserviente a Roma. Mas não havia povo mais importante que os poderosos sármatas do leste. Milhares morreram naqueles campos. E quando a fumaça dissipou-se no quarto dia, os únicos sármatas vivos eram membros da dizimada, mas lendária cavalaria. Impressionados por sua bravura, os romanos pouparam suas vidas. Em troca, esses guerreiros foram incorporados ao exército romano. Mas antes tivessem morrido naquele dia, pois como parte da barganha, empenharam não só a si mesmos, mas também seus filhos e os filhos de seus filhos, para servir ao império como cavaleiros."

Aqui, o Pequeno Urso de Rus', liga-se aos seus antepassados Indo-Europeus que migraram para uma ilha mítica no Oceano Atlântico, de nome Hy Breasil (em céltico); ou O'Brazil (em gaélico) – que significa: "os descendentes do vermelho", referência ao enorme vulcão das histórias contadas na ilha. Ilha essa, que um mortal comum não podia ver e somente uns poucos escolhidos eram abençoados com sua visão; ilha essa, que mais tarde descobriu-se não se tratar de uma ilha, mas de um continente, por assim dizer. Ao qual deram o nome Brasil – nome que não foi retirado da madeira avermelhada encontrada em suas terras, mas sim das narrativas míticas que levaram à sua identificação. Pois, porque se chamaria àquela madeira pau-brasil, se a palavra Brasil não tivesse um significado mítico, ligado com certeza às brasas vermelhas da erupção do maravilhoso Celta - que hoje jaz adormecido - e assim o admite a etimologia céltica e germânica.

Então, muitos anos mais tarde, quando os filhos dos descendentes dos que primeiro avistam o Sol, se encontraram com os filhos dos descendentes dos eslavos de Rus', os antigos descendentes do vermelho se encontraram com os novos descendentes do vermelho, e deste encontro nasceu o Pequeno Urso de Rus' (ou Urso Vermelho). Cujo nome Cristão é Milton Junior – e o significado deste nome na origem grega é coincidentemente – O mais jovem vermelho.

Brasileiro do mundo, na descendência e no nome, brasileiro nato; índio, negro, europeu – até de pardo podem chamar, mas brasileiro, sem sombra de dúvida; das brasas ancestrais de uma mitologia confusa, que se confunde com os povos que aqui se fundem. Brasil, um lugar para amar.
Notas de pesquisa:

- Os índios Araxás foram um grupo indígena que originalmente habitou o estado brasileiro de Santa Catarina, que emigrou devido ação dos colonizadores e posteriormente com as demandas nas fazendas de produção. Seu grupo étnico foi desestruturado por volta de 1700 e existem poucas referências disponíveis, sabe-se apenas que estiveram na Bahia, em Goiás e Minas Gerais; onde provavelmente foram assimilados pelos povoamentos lusos e negros, e pelos novos imigrantes mão-de-obra: italianos, espanhóis, etc.

- Rus Kyivana ou Rus' de Kiev, foi o primeiro estado do leste, formado por volta do século IX, a partir de pequenos estados espalhados pelos territórios hoje compreendidos pela Ucrânia, Bielo-Rússia, Rússia, República Tcheca e Eslováquia, Polônia, Eslovênia, Macedônia, Croácia, Sérvia, parte da Alemanha, Hungria, sul da Áustria, norte da Albânia e proximidades da Grécia. Cada um destes pequenos estados ou principados tinha seus nomes e existem vários relatos que falam da presença dos normandos (vikings) na formação dos estados do leste.

Para encerrar a publicação de hoje, que se tornou uma genealogia pessoal, Nótlim Jucks me enviou dois poemas intrinsecamente ligados a natureza e a nós:

Espírito das Águas
poesia de Nótlim Jucks

Quase sinto tua presença.
Ó mar!
Tuas ondas a quebrar na praia,
tua força a arrastar pra ti.

Que belezas escondes?
Ó mar!
Quanta força possuí tuas águas profundas?
Quantas jóias pegaste pra ti?

Será que há, algum ser que não te queira ver?
Ó mar!
Belo, essencial e vida,
belas vidas tomadas por tuas águas mortíferas.

Por tuas águas, o mundo e as conquistas.
Ó mar!
Foste feito Elemental,
elementar que seja água.

Ó mar!

Antes de publicar o segundo poema gostaria de sugerir novamente, como uma fonte de riqueza mítica e de conhecimento atemporal, a série de entrevistas de Joseph Campbell com Bill Moyers, entitulada "O Poder do Mito"; e que após essas sessões vocês possam assistir Avatar (de James Cameron). Algumas atitudes dos Nav'i, os nativos do planeta Pandora, lhes remeterão aos nativos do continente Americano.

Agora sim:

O Sol, O Amor
poesia de Nótlim Jucks

Resplandecente
o Sol
Ausente o Amor.

Das águas que correm,
flores nascem,
sentimentos morrem.

A derradeira verdade,
não se esconde,
nem desaparece;
surge como uma tempestade.

Dos dias que passam,
lembranças ficam
e não cicatrizam.

A sorrateira mentira,
nos engana,
nos aflige
e por muitas vezes nos inspira.

Há dias que nascem,
e apenas vemos o Sol,
resplandecente.

Há sentimentos que morrem,
e apenas sentimos o Amor,
ausente.
--
O Poder do Mito:

A Saga do Herói
A Mensagem do Mito
Os Primeiros Contadores de Histórias
Sacrifício e Felicidade
O Amor e a Deusa
Mascara da Eternidade

terça-feira, 14 de setembro de 2010

República Federativa do Brasil

(Parênteses político no Mirtu's Blog, a publicação originalmente programada será realizada no fim de semana)

Um traço característico do subdesenvolvimento no âmbito político é a debilidade da participação popular como cidadãos. Tendo uma nação em que o povo não tem consciência dos seus direitos e deveres, não tem consciência da significância do estado e se abstém de participar, tornando-se uma clientela passiva.

Para que possamos fazer uma transição do clientelismo para cidadania, existem apenas dois caminhos: a educação da população e a educação política da população - ou seja, a população deve passar a conviver com praticas de busca coletiva de interesses, de forma que ela saiba definir o que são interesses coletivos, percebendo assim que os interesses da política não devem ser interesses individuais, e através desta pratica comum, desta busca comum do bem coletivo, possamos sair da estagnação popular para o exercício da cidadania.

(a esquerda, alegoria da República Federativa do Brasil; pintura de Manuel Lopes Rodrigues)

A população brasileira brada aos quatro ventos, que tem cumprido com seus deveres, ao pagar seus impostos – em quantidade exacerbada, diga-se de passagem; mas não tem sabido cumprir com seus direitos! Saber cumprir com seus direitos? Parece estranha essa afirmação, porque o que é de direito da população deveria ser cumprido pelo estado e não pela população. Mas a população cumpre com seus direitos, quando exige do estado, ou seja, exige daqueles que foram nomeados por ela como seus representantes, que seja respeitado e concretizado – no mínimo – o artigo 6º da Constituição Federal Brasileira, que determina o seguinte:

"São direitos sociais: a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição."

Assim sendo, quando formos escolher nossos representantes, devemos ter muito bem esclarecido em nossa mente, o que queremos que estes representem. Se, os interesses de um grupo que se intitula sob uma sigla partidária e apenas sabe se digladiar com outro grupo que também está sob outra insígnia, em que os objetivos mútuos parecem residir apenas no vangloriar-se de feitos que teoricamente fizeram, porque o outro grupo não os fez e assim manterem-se no poder; ou, os interesses – mínimos que sejam – da nação.

Uma população com educação e consciência cidadã, deixa de ter "vida de gado".

Admirável Gado Novo
poesia de José Ramalho Neto

Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!

Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou!
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!

O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam esta vida numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A arca de Noé, o dirigível,
Não voam, nem se pode flutuar
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!

Esta canção é a faixa dois do álbum "A Peleja do Diabo com o Dono do Céu" de Zé Ramalho, lançado em 1980 e enigmaticamente atual depois de três décadas.

Esta é uma publicação apartidária; é um apanhado das idéias expostas por Plínio de Arruda Sampaio - intelectual e ativista político brasileiro, Lúcia Avelar - cientista política e professora da Universidade de Brasília (UnB) e uma interpretação minimalista do 5º episódio de "Histórias do Poder" 
(http://www.sescsp.org.br/sesc/hotsites/historiasdopoder, ou
 http://archive.org/bookmarks/jrmilton)

Hino Nacional Brasileiro
poesia de Joaquim Osório Duque-Estrada
e composição musical de Francisco Manuel da Silva

1ª parte

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante,
E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.

Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio, ó Liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!

Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido,
De amor e de esperança à terra desce,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido,
A imagem do Cruzeiro resplandece.

Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza.

Terra adorada
Entre outras mil
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo
És mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!

2ª parte

Deitado eternamente em berço esplêndido,
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!

Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores,
"Nossos bosques têm mais vida",
"Nossa vida" no teu seio "mais amores".

Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro dessa flâmula
- Paz no futuro e glória no passado.

Mas se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada
Entre outras mil
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo
És mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O Retorno do Mestre

Olá navegante, depois de meses sem conseguir conversar com o mestre Issa, este fim de semana nos encontramos. Conversamos sobre sua viagem a Dharamsala, seu encontro com os lamas e o autógrafo do mestre Tenzin que ele havia me prometido. Acho que esse último foi só pra tirar um sarro comigo, mesmo o mestre Issa sendo avesso a essas "brincadeiras", mas no fim a conversa foi engrandecedora para mim.

Como de costume eu tinha algumas reclamações para desabafar e o mestre estava com paciência para me ouvir. Falei sobre algumas coisas que tenho feito e que acho que não tenho visto o resultado esperado; comentei sobre minha apreensão quanto minha estabilidade financeira e meu futuro profissional; sobre meus relacionamentos interpessoais e outras coisas mais.

Eis então que o mestre resolveu me brindar com um de seus conselhos; o qual lendo e relendo depois as anotações que fiz, me pareceu um conselho abrangente, que pode servir para muita gente, assim decidi compartilhá-lo com vocês:

"..., você deve cuidar de suas atitudes para que não se desvie do seu caminho; você sabe que o que foi plantado necessita de cuidados para florescer e que ao florescer, o cuidado deve ser transformado em dedicação, para que mesmo quando a florada se esvair, exista ânimo para florescer novamente.

"Quando seus medos e inseguranças aparecerem, centre seus pensamentos e tome as decisões necessárias, por mais difíceis que possam ser; como diria Ralph Waldo Emerson: 'Adote o ritmo da natureza. O segredo dela é a paciência' – pois tudo acontece em seu tempo e com paciência a vida irá lhe surpreender positivamente.

"Para recuperar as oportunidades desperdiçadas, os relacionamentos familiares abalados, ou mesmo seus projetos que estavam parados, você deve usar sua energia individual para buscar iluminação; que é a motivação e o estímulo para as conquistas. Seja um sol para si mesmo.

"Todos passamos por vários estágios transformadores em nosso processo de evolução, veja sempre o lado bom de qualquer situação, por mais que esta seja negativa, nunca perca sua alegria, pois só assim você conseguirá se desenvolver plenamente, conquistar e prosperar. Mesmo que tudo lhe pareça muito vagaroso, é desta forma que se obtém os resultados esperados. 'Siga a sua alegria, e o mundo abrirá portas para você onde antes só havia paredes', é o ensinamento de Joseph Campbell.
Você e a sociedade
"Há uma antiga história Zen a respeito de um leão que foi criado por ovelhas, e pensava que era uma delas, até que um velho leão o capturou e o levou até um lago, onde lhe mostrou o seu próprio reflexo. Osho se vale desta parábola, para comparar a sociedade a um rebanho de ovelhas e comparar o indivíduo a um leão. As ovelhas estão sempre em rebanho, na esperança de que estar em grupo será aconchegante. Em meio à multidão, o indivíduo sente-se mais protegido, seguro. Já o leão anda só, sem temor. Então dê uma olhadela no seu próprio reflexo no lago e tome a iniciativa de libertar-se do rebanho, acorde o leão adormecido dentro de você, quebre o que quer que lhe tenha sido imposto como condicionamento pela sociedade, seja o indivíduo maravilhoso que você é.

"Lembre-se que o movimento pelo qual as coisas se transformam, está relacionado à bipolaridade cósmica, onde há o positivo e negativo, yang e yin, masculino e feminino, céu e terra, ação e a reação; duas forças opostas, que entendidas, levam a realização do Tao (O Caminho). Só através da harmonia interior é possível viver sem medos e preocupações, pois você irá encontrar o equilíbrio do fluxo da vida.

"Assim sendo, não se renda à ansiedade, pois você estará pronto para encarar o futuro e todas as mudanças que acontecerão."
Depois de meditar o conselho do mestre Issa, decidi pegar meu livro do Tao Te Ching – brilhantemente traduzido e comentado por outro grande mestre da minha vida, Huberto Rohden – e dar uma "passeada" pelos poemas milenares de Lao-Tsé. Quando li o poema 23, eu tive certeza de que eu deveria publicá-lo como complemento ao conselho do mestre Issa, o que faço abaixo.

Vitória pela auto-suficiência
poesia de Lao-Tsé

Quem pouco fala encontra atitude certa
Em todos os acontecimentos.
Não desespera quando rugem tufões,
Porque sabe que não tardam a passar;
Sabe que uma chuva não dura o dia todo,
É produzido pelo céu e pela terra.
Se tudo é tão inconstante,
Como não o seria o homem?
Por isto o que importa
É a atitude interna,
Isto é: adaptar-se em silêncio
A todos os acontecimentos.
Quem harmoniza os seus atos
Com o Tao da Realidade
Se torna um com ele.
Quem, no seu agir, é determinado
Por seu próprio ego
Identifica-se com o ego.
Quem identifica o seu agir com coisa qualquer
É identificado com esta coisa.
Quem sintoniza com a alma do Infinito
Assemelha-se em tudo ao Infinito.
E quem assim se harmoniza com o Infinito
Recebe os benefícios do Infinito.
Tanta confiança recebe cada um,
Quanta confiança ele der.

Explicação filosófica do mestre Rohden
Aqui é enunciado o antiqüíssimo princípio hermético: o homem só pode receber algo na medida que ele dá. O receber de Deus é diretamente proporcional ao dar ao semelhante. A receptividade é proporcional à datividade. O segredo de enriquecer não está no receber, mas sim no dar. As águas da Fonte Cósmica só enchem os canais humanos à medida que estes se esvaziarem.

Logo que terminei minha leitura, chamei o poeta Nótlim Jucks para conversar a respeito do assunto e ele me disse: "Tenho um poema, mais ou menos místico que se enquadra no tema. Faz assim, coloca o conselho do mestre Issa, uma imagem do tei-gi, o poema do Lao e o meu no fim; pois tudo isso no fundo tem haver com amor." – e sorriu pra mim com cara de satisfação por ter conseguido associar mais uma vez um de seus poemas aos temas que publico no Blog.

Um com você
poesia de Nótlim Jucks

Sinto sua pele tocando a minha,
sinto seu perfume no ar que respiro.
Ouço sua voz em minha mente,
como se falasse aqui ao meu coração.
Vejo seu sorriso e imagino o mundo belo,
que existe quando você sorri,
ou mesmo quando você chora.
Pois as coisas só tem sentido
quando refletidas em você,
quando sentidas com você.
Essa vontade que sinto de não ser mais um,
mas de ser um com você;
tem percorrido cada veia do meu corpo,
irrigando meu coração que bate calmo e descompassado,
rápido e tranqüilo,
inebriado em sentimento,
confuso mas sem tormento.
Preenchido pela confusão da ausência
e saciado pela plenitude da presença.
Não que haja abandono, pois não o há!
Existe pois, um distanciamento não ausente,
uma presença não tangível.
É como se esse sentimento todo,
viajasse o cosmo misturando-se sem se perder,
mantendo-se um, mesmo que para ser um,
exista a necessidade de ser muitos.
Para enfim então chegar e povoar, não um corpo,
mas almas que distantes se encontram no infinito
e se amam sem procurar um sentido,
tendo sentido no próprio fato de se amarem.
Eu amo você assim,
sem necessidade de um lugar no espaço,
sem necessidade de uma relação no tempo,
pois amo você desde outro tempo,
desde outro lugar,
e te amarei enquanto assim quiserem
estes corações que distantes batem juntos,
e que perto batem como um.

Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo - já dizia John Donne - o desafio é não perder a si mesmo em prol dos interesses da sociedade!