"O Reino de Deus está em vós e à sua volta.
Parte um pedaço de madeira e ali estarei.
Ergue uma pedra e me encontrarás.
Não estou apenas em construções de madeira e pedra.
Estou em ti."
Jesus Cristo, O Vivo
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A Mensagem |
De
fato, na sua publicação em 1946, o livro foi muito aclamado e se tornou um best-seller duradouro. Mas suas origens
são um pouco misteriosas, tendo sido profetizadas por um santo indiano do século
XIX, Lahiri Mahasaya. Ele predisse que, cinquenta anos depois de sua morte, um
livro seria escrito sobre ele que ajudaria a propagar a mensagem da ioga ao
redor do mundo. Foi deixado claro a Yogananda por seu guru Swami Yukteswar (ele
mesmo discípulo de Lahiri Mahasaya), que a tarefa de cumprir essa predição era
dele. Devidamente, exato meio século depois da morte do santo, o livro surgiu
e, apesar de seu título, ele também incorpora as histórias de vida de Mahasaya
e Yukteswar.
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Mahasaya e Yukteswar |
Infância
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Mukunda Lal Ghosh |
Sua
família tentou dissuadir Mukunda de se tornar sannyasi, ou renunciar, mas ele encontrou outro guru em Sri Yukteswar,
da ordem dos swamis. Sri Yukteswar
respeitava os costumes do Ocidente tanto quanto os do Oriente, tinha discípulas
assim como discípulos e mostrava grande conhecimento de ciência, ainda que não
parecesse ler nunca. Assustadoramente para os jovens monges, Yukteswar possuía
o poder ióguico específico de sintonizar-se à mente de qualquer um que ele
escolhesse, não apenas lendo seus pensamentos, mas pondo pensamentos em suas
mentes. Yogananda o descreve como apropriado para a definição encontrada nos
Vedas sagrados de uma pessoa de Deus: "mais suave que a flor, quanto à
bondade; mais forte que o raio, quando os princípios estão em jogo".
Contra
suas inclinações, Mukunda foi forçado a obter um diploma universitário em
Calcutá, pela argumentação de que isso o tornaria mais respeitado quando a vida
o levasse ao Ocidente. Assim, com os ensinamentos de Sri Yukteswar, seu destino
começou a tomar forma. Ele adotou o nome Yogananda, que significa "êxtase
(ananda) por meio da união divina
(ioga)".
Palavras
como "guru" e "ioga" são parte do inglês (e do português)
universal, mas, quando Yogananda foi para a América, na década de 1930, o mundo
da espiritualidade oriental e da filosofia ainda era muito exótico. Como
aconteceu de ele ter viajado para o Ocidente?
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Guru Yogananda |
A
viagem levou dois meses, e, quando ele chegou, participou de um congresso
religioso internacional, em Boston. Este foi o primeiro de centenas de discursos
que vagarosamente aumentaram a percepção do hinduísmo e introduziram a ioga a
centenas de milhões de pessoas. Em 1925, o autor tinha se estabelecido na
vizinhança de Monte Washington, em Los Angeles, e se tornou uma
minicelebridade, sendo até convidado para um encontro com o presidente Calvin
Coolidge.
Celebrado
quando finalmente voltou para a Índia, Yogananda viu seu guru e seu pai pela
última vez, organizou as tarefas de sua escola e aumentou a organização Self-Realization Fellowship – que atualmente possuí centros na América do Norte, na
Índia e no Reino Unido e continua seu trabalho.
Autobiografia de um iogue
inclui as narrativas de Yogananda encontrando vários santos pela Índia e além,
comumente em lugares remotos. Essas explorações foram ajudadas pelo uso de um
carro Ford (que o autor descreve como "Orgulho de Detroit") que um
devoto havia doado. Os sábios que encontrou incluem o Santo do Perfume, que
podia materializar os odores que quisesse, o Swami Tigre, que tinha lutado e
vencido tigres e o Mestre Levitador, Badhuri Mahasaya, que tinha aparentemente
desistido de grandes riquezas familiares para tornar-se iogue. O Mestre
Levitador notou que as pessoas mundanas são os verdadeiros renunciantes, tendo
desistidos do êxtase da comunhão com Deus por conta de coisas ilusórias.
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Mãe Permeada por Alegria |
Yogananda também se encontrou com Shankari Mai Jiew, uma ioguine (uma mulher iogue) de idade avançada, e Nirmala Devi, a bela Mãe Permeada por Alegria, que dedicou muito do seu tempo num estado de samadhi (transe extático). Ele nota que essa mulher pueril tinha resolvido o problema essencial da vida – estabelecer a unidade com Deus –, enquanto o resto de nós permanecia "obscurecido com milhões de problemas".
Ele
viajou pelo coração de Bengala para achar Giri Bala, a santa que não comia, que
usava uma certa técnica de ioga que a permitia existir sem comida por décadas,
sem efeitos ruins, e provada por observação cuidadosa. Estranhamente, a mulher
gostava de cozinhar para os outros, mas, quando perguntada sobre o propósito de
não comer, Giri Bala respondia que era para mostrar que nós, humanos, somos
espíritos, essencialmente, e que iremos aprender gradualmente como viver das
energias da luz astral, como ela. Yogananda também dedica um capítulo à sua
visita à mística alemã Therese Neumann, que por anos existiu sem nada mais que
uma hóstia por dia, e sangrava semanalmente de suas mãos e seus flancos
(estigmas), em empatia com a agonia da crucifixão de Jesus.
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Yogananda e Giri Bala |
Autobiografia de um iogue é um
livro cheio de contos de curas milagrosas, pessoas sendo ressuscitadas e
intercessões estranhas. Mas as descrições desses eventos soam verdadeiras. Yogananda
se esforça muito para discutir como o aparentemente impossível é cotidiano para
os iogues. Ele nota que a teoria da relatividade de Einstein resumia o Universo
a pura energia, ou luz. Matéria era simplesmente energia concentrada, e a
solidez das coisas, em alguma medida, ilusória. Einstein mostrou que a matéria
nunca podia igualar a velocidade da luz, que é o motivo de classificarmos a
matéria como sólida e a luz como efêmera.
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Energia do Universo |
A
habilidade do iogue de "tornar-se luz" – concentrar energia luminosa –
é o motivo de as manifestações divinas em todas as religiões serem, muitas
vezes, descritas como clarões cegantes. Mestres espirituais veem o universo
como Deus viu quando ele foi criado: uma massa indistinta de luz. Tornando-se
um ser com essa luz, tanto o sábio hindu quanto o santo cristão ficam livres
das restrições da matéria, permitindo que milagres ocorram. De fato, tais
ocorrências estão completamente de acordo com as leis do Universo, mas a
maioria dos humanos não é capaz de trabalhar com elas. Quando Yogananda visitou
Therese Neumann, ela lhe disse que era energizada somente pela luz e pelo ar.
Conforme ele nota, fazer esse milagre é possível para qualquer um "que
percebeu que a essência da criação é luz".
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Therese Neumann e Yogananda |
Enfim...
Quando
você pega esse livro, pensa que vai ler uma história de vida agradável de um
sábio oriental; o que você ganha é uma introdução para alguns dos mistérios do
Universo. No começo há a citação: "Se não virdes sinais e prodígios, não
acreditareis" (João 4:46-54). Yogananda a incluiu porque sabia que as
pessoas estão tão fixadas no que acreditam que só milagres podem fazê-las
ponderar sobre questões divinas. Gurus normalmente não gostam de discutir seus
poderes especiais, porque tiram a atenção do aprendiz do caminho verdadeiro,
mas Yogananda sabia que ocorrências miraculosas eram o mel que atraía as
abelhas ao pote espiritual.
Enquanto
a autobiografia proporciona uma introdução fascinante à literatura espiritual
hindu – os Vedas, As Upanixades, o Mahabharata –, uma grande surpresa do livro
é que ele pode nos dar novos olhos para a Bíblia. Yogananda foi um excelente
erudito da Bíblia, e o livro é rico em notas de rodapé comparando conceitos e
dizeres das escrituras hindus com as encontradas no Antigo e no Novo
Testamentos. Ele se refere a Jesus como o "Mestre da Galileia", que
tinha poderes similares sobre a matéria aos dos grandes iogues.
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O Mestre da Galileia |
Quando eu for somente um sonho
poesia de Paramahansa Yogananda
Venho para falar Dele a todos,
De como guardá-lo no peito
E da disciplina que atrai Sua graça.
A ti, que me pediste
Guiar-te à presença do meu Bem-amado,
Com minha silenciosa mente te advertirei,
Ou falarei contigo, através de um doce e expressivo olhar,
Sussurrarei baixinho com a voz do meu amor,
Ou te alertarei em voz alta quando te afastares Dele.
Mas quando eu me tornar apenas uma lembrança,
Ou imagem mental, ou voz silenciosa,
Quando nenhum apelo terrestre revelar
Meu paradeiro no espaço insondável,
Quando nenhuma leve súplica ou ordem severa
Trouxer de mim uma resposta,
Sorrirei na tua mente quando estiveres certo,
E quando errares, chorarei através de meus olhos,
Fitando-te veladamente na escuridão.
E chorarei através de teus olhos talvez;
E murmurarei através de tua consciência,
E raciocinarei contigo usando da tua razão,
E amarei todos através do teu amor.
Quando não mais puderes me falar,
Lê meus "Sussurros da Eternidade";
Por meio deles, falarei contigo eternamente.
Incógnito, andarei a teu lado
Protegendo-te com braços invisíveis.
E assim que conheceres o meu Bem-amado
E ouvires a Sua voz no silêncio,
Reconhecer-me-ás novamente, mais tangível
Do que me conheceste na Terra.
Mas quando eu for somente um sonho para ti,
Voltarei para te lembrar que também não passas
De um sonho do meu Bem-amado Celestial.
E quando souberes que és um sonho, como agora eu sei,
Estaremos despertos Nele para sempre.
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Um pouco mais sobre o quociente espiritual você encontra em:
http://jrmilton.blogspot.com.br/2013/04/grandeza.html
E um pouco mais sobre a Luz, essência da criação, em:
http://jrmilton.blogspot.com.br/2012/04/um-feixe-de-luz.html