Diante
das incertezas politicas e econômicas, a questão é saber se o copo está meio
cheio, ou meio vazio. Riordan Roett
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O Novo Brasil |
No
mundo, muitos ainda associam o Brasil somente ao futebol (e olha que levamos 7
da Alemanha), samba e a "Garota de Ipanema", mas Riordan Roett,
professor da Universidade Johns Hopkins, onde lidera os programas de Estudos
Latino-Americanos e Ocidentais, se dedicou a apresentar um Brasil diferente em
seu livro "The New Brazil"
(O Novo Brasil - do Atraso ao BRICS) – infelizmente sem tradução para o
português. Publicado um pouco antes do resultado da eleição de Dilma Rousseff
em 31 de Outubro de 2010, o livro de Roett termina com o segundo mandato do
ex-presidente Lula e refaz o percurso histórico do nosso país desde a situação
do Brasil como uma colônia portuguesa negligenciada, passando pela ditadura
militar do século XX, até o seu papel como uma nação moderna e comercialmente
influente.
O
estilo acadêmico de Roett torna o livro um tanto denso, com detalhes exaustivos,
mas é certo que se aprende muito sobre o Brasil. Então, sendo assim, passo o bastão
da narrativa a Riordan Roett e presto atenção a sua visão exterior:
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Políticas internacionais |
Apesar
do seu caminho para a modernização não ter sido suave, o Brasil é agora um
líder econômico e político mundial. O país é uma estrela na recém-reconfigurada
fase pós-Guerra Fria, juntamente com seus parceiros do BRICS: Rússia, Índia, China e África do Sul. Graças, em parte, a medidas fiscais sensatas colocadas em prática desde
1994, o Brasil resistiu à crise financeira de 2008-2009 melhor do que a maior
parte dos países. A sua independência energética, um programa de etanol
robusto, e a descoberta de petróleo e gás natural na sua costa ajudaram o
Brasil a obter um papel de liderança nas políticas energéticas internacionais.
O país também se uniu aos seus parceiros do BRICS para confrontar as nações industrializadas
em questões como crescimento global e mudanças climáticas. Para entender como
surgiu este "novo Brasil", primeiro, você precisa entender a história
do "velho Brasil".
Colônia,
Império e República
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Império do Brasil: 1822–1889 |
O
rei de Portugal no século XVI, Dom João III dividiu o Brasil Colônia em
latifúndios, conhecidos como "capitanias hereditárias". Os favoritos
da corte portuguesa assumiram a responsabilidade de desenvolver estes
territórios. Assim o Brasil, o maior país da América do Sul, acabou ficando
para trás do resto do continente em desenvolvimento. Enquanto outros países sob
colonização espanhola tornavam-se repúblicas independentes, o Brasil continuou
como uma monarquia até 1889. O seu sistema feudal limitou a evolução do Brasil,
contribuiu para a desigualdade de renda, limitou o mercado interno e manteve
uma separação rígida entre os que tinham posses e os que não tinham. A força
econômica do Brasil vinha da riqueza dos seus recursos naturais e minerais,
como açúcar, café, ouro, diamantes, pau-brasil e algodão. Os comerciantes de
escravos portugueses importaram mais de quatro milhões de africanos para
trabalhar nas fazendas. A escravidão ajudou a definir e demarcar as classes da
sociedade brasileira por séculos. O país se expandiu sobre uma vasta área que
compreende mais da metade da América do Sul.
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Brasileiros |
A
família real portuguesa, sob o cerco das forças de Napoleão, fugiu para o
Brasil e aqui se estabeleceu, governando o país mesmo após a independência.
Portugal, embora beneficiado pelas riquezas do Brasil, nunca chegou a integrar a
colônia em sua própria sociedade. Após os movimentos revolucionários do final
do século XVIII, o Brasil finalmente conseguiu a independência de Portugal em
1822. O Brasil precisava de um governo que reconhecesse o papel do imperador e integrasse
o seu vasto território. Em 1824, o país adotou uma nova constituição que
garantia a liberdade e os direitos individuais e previa a eleição de
representantes. Mas muitos brasileiros permaneceram marginalizados. O imperador,
sofrendo a oposição de partidos liberais, abdicou em 1831. E depois de muita
disputa política, o país instalou o seu filho de 14 anos de idade como
imperador em 1840.
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Imperador D.Pedro II, rodeado por destacados políticos e figuras nacionais, 1875 |
O
café logo se tornou o principal produto de exportação do Brasil. Os britânicos
reconheceram as oportunidades econômicas do Brasil e investiram no país,
enviando engenheiros e produtores que contratavam trabalhadores não escravos. A
imigração adicional ajudou a reduzir a dependência do comércio de escravos, que
terminou em 1855 (e foi proibido em 1870). Na década de 1850, o país se tornou
república, em parte devido à influência dos produtores de café nas províncias.
Estas elites do café em conjunto com os militares pressionaram a favor da
renovação e modernização. Em 1889, o imperador foi para o exílio permanente na
Europa. Do final de 1800 até 1930, o Brasil viveu a fase da república velha. Em
1891, uma nova Constituição criou um sistema clássico federal que devolvia
certo poder aos estados do Brasil, mas centralizava o governo nacional no Rio
de Janeiro. A política interna estava estabilizada, mas nenhum líder ou
instituição conseguiu efetivamente unificar o país ou estabelecer uma
identidade nacional. O café continuava a impulsionar a economia, sufocando
outras indústrias.
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Alguns momentos após a assinatura da Lei Áurea, a princesa Isabel - na varanda central do Palácio da Cidade - é recebida por uma enorme multidão |
Na década de 1920, algumas revoltas desafiaram a oligarquia
cafeeira. Depois de muito tumulto político e com a crise econômica de 1929,
Getúlio Vargas assumiu o poder, tornando-se um dos mais importantes líderes do
Brasil no século XX.
Os
Primórdios de um Brasil Moderno
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Getúlio Vargas em outubro de 1930 |
Vargas
governou o Brasil por 18 anos em muitas fases: como líder provisório, como
Chefe do Executivo nomeado, como ditador "soft" e como presidente eleito. Ele centralizou a autoridade,
estabeleceu um Ministério da Educação e Saúde e garantiu boas relações com a
Igreja Católica (resultando com o Cristo Redentor no Corcovado). Em 1934 a
Assembleia Nacional escreveu uma nova Constituição que estabelecia um único
mandato de quatro anos para presidente do país; porém em 1938 o Brasil
enfrentou nova turbulência política. Pouco antes do fim do seu mandato, Vargas
derrubou o governo representativo e criou o "Estado Novo". Após
aniquilar os seus adversários políticos, Vargas mudou seu foco para a
industrialização. Enfatizando as iniciativas econômicas e utilizando os seus
instintos políticos sagazes, Vargas foi capaz de consolidar o seu poder ao
longo dos anos 1940, apesar do surgimento de opositores. Considerado o
"pai do Brasil moderno", ele deixou o cargo apenas durante grande
oposição militar após a Segunda Guerra Mundial.
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Exerceu a presidência da república do Brasil por convocação das Forças Armadas, como presidente do Supremo Tribunal Federal, após a derrubada de Getúlio Vargas |
Em
1946, o Brasil criou uma nova república e começou uma transição gradual para a democracia.
Mas os líderes brasileiros tornavam-se cada vez mais pessimistas quanto ao
futuro econômico do país, principalmente devido a sua confiança excessiva nas
exportações. A administração de Eurico Gaspar Dutra não conseguiria lidar bem
com estas questões. Após reassumir a presidência, Vargas criou o Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social e, em 1953, criou a companhia nacional de
petróleo, a Petrobras. Contudo ele perdeu o controle do poder depois que um dos
seus adversários políticos sofreu uma tentativa de assassinato. Com os
militares novamente exigindo a sua renúncia, Vargas suicidou-se em 1954.
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A morte de Vargas marcou o fim de uma era |
Por
10 anos o Brasil ficou à mercê de vários governos, todos incapazes de lidar de
forma eficaz com a dívida nacional, um sistema de ensino inadequado e uma
infraestrutura decadente. Novas políticas promoveram a indústria frente às
importações, mas as dificuldades econômicas continuaram a agravar as tensões
políticas. Grupos comunistas ganharam popularidade e os militares, operando nos
bastidores, forçaram uma grande mudança em 1964.
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Milagre econômico (Construção da Ponte Rio-Niterói) |
O
chefe do governo fugiu do país e um presidente interino assumiu o cargo.
Ninguém sabia o que esperar, mas os líderes brasileiros sentiram que haviam
chegado a um divisor de águas. O Brasil precisava se modernizar e
desradicalizar. A resposta foi um "Estado inteligente": O exército
estabeleceu um governo burocrático-autoritário sob uma administração civil. O
governo manteve a sua constituição, mas o novo líder assumiu poderes mais
amplos. Infelizmente, isso incluía a ação policial contra grupos
"subversivos", uma campanha que levou à tortura e repressão. O novo
regime implementou o seu "milagre econômico", entre 1968 e 1973. A
economia do Brasil progrediu com um maior papel federal nos investimentos e
gastos. Mas, apesar de novos programas e evolução do setor fiscal, a
popularidade do governo repressivo caiu drasticamente. A agitação civil
aumentou.
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Agitação civil - Passeata dos Cem Mil |
Para
manter o controle do poder durante as turbulências econômicas e escassez de
energia dos anos 1970, o governo militar instituiu outro plano de
desenvolvimento econômico que se concentrava na substituição das importações,
nos investimentos de infraestrutura e no crescimento econômico sustentado. O
plano foi bem sucedido o suficiente, porém sob o fardo do aumento da dívida. Ao
mesmo tempo, os líderes da nação entenderam que o único caminho para enfrentar
a agitação interna seria através da abertura do sistema político. A ideia da
transição de volta a um governo civil ganhava crescente aceitação pública. Ao
mesmo tempo, os sindicatos brasileiros começaram a reunir nova força política,
gerando greves e lentidão no final da década. Surgia um novo líder trabalhista:
Luiz Inácio Lula da Silva.
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O líder trabalhista |
A
crise iminente da dívida brasileira obrigou os seus políticos a instituírem um
programa de austeridade em 1979; em 1982, o governo superou a relutância em
aceitar as condições do Fundo Monetário Internacional em troca de ajuda
econômica. Em 1984, a inflação havia saído do controle, chegando a 200%. Um
governo civil ganhou a eleição presidencial de 1985, mas o novo presidente,
Tancredo Neves, morreu antes de tomar posse, levando o Brasil a anos difíceis
de má transição.
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José Sarney e Tancredo Neves |
Com
a morte de Tancredo, o vice-presidente José Sarney assumiu e precisou navegar
por perigosas águas políticas e econômicas, mas não conseguiu controlar a
dívida e a inflação galopante. Um número de presidentes e ministros das
finanças chegaram e partiram, cada um trazendo novos planos econômicos, criando
e desvalorizando moedas e impondo impostos.
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Medidas desesperadas |
Depois
de anos de dificuldades, o Brasil atingiu um ponto crítico com a ascensão do
presidente Fernando Henrique Cardoso em 1º de Janeiro de 1995. FHC havia
introduzido o Plano Real (o mesmo nome da nova moeda) em 1993, quando ainda
ministro da Fazenda. O plano manteve a inflação sob controle, estimulou o PIB e
elevou o poder de compra dos cidadãos. FHC foi mais além com políticas para
reduzir o tamanho do setor público, aumentar a privatização e institucionalizar
a responsabilidade fiscal. Apesar de algumas medidas não vingarem, como a
reforma da segurança social, a maré econômica havia mudado e as soluções de
longo prazo foram se firmando.
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A face do Real |
Apesar
das crises externas, como a crise do peso mexicano de 1994 e a Crise financeira
na Rússia em 1998 fustigarem o Brasil, as políticas de FHC foram bem sucedidas
o suficiente para lhe garantir um segundo mandato. Então, em 1999, as tensões
econômicas pressionaram o Real supervalorizado e o governo de FHC não teve
escolha a não ser permitir que a moeda flutuasse livre. Com isso, o real perdeu
40% do seu valor e FHC nunca se recuperou.
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O Brasil em 1999 |
O
Brasil de Lula
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FHC recebe Lula, o presidente eleito |
A
presidência marcante de Lula começou em 2003, após quatro tentativas de ser
eleito presidente. Apesar de ser um líder sindical e de esquerda, Lula mostrou
aos eleitores que também possuía um lado pragmático através da sua "Carta
ao Povo Brasileiro". A sua presidência combinou políticas sociais
progressistas com princípios fiscais conservadores. O resultado: um Brasil revigorado.
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Um Brasil revigorado |
Durante
os seus oito anos de mandato, Lula: 1) Reformou o sistema de segurança social; 2)
Tirou milhões de brasileiros da pobreza extrema por meio do programa
"Bolsa Família"; 3) Ampliou o financiamento da educação; 4) Ajudou a
país a se tornar um credor externo líquido pela primeira vez; 5) Estabeleceu o
Brasil como um líder na produção de etanol e o preparou para se tornar um
grande exportador de combustível fóssil; 6) Integrou o setor financeiro com os
mercados mundiais; 7) Acolheu novos investidores domésticos e estrangeiros; 8)
Promoveu a integração econômica na América do Sul; e 9) Firmou o Brasil como
líder político mundial, trabalhando em conjunto com os outros países do BRICS para desafiar a supremacia política das nações industrializadas do G-20, em
especial os EUA.
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Ainda há muito a fazer |
Embora
Lula tenha feito algumas jogadas políticas controversas no cenário mundial,
como exemplo o apoio ao presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad e o seu
"programa nuclear civil", ele deixou o cargo de presidente reconhecido em todo o mundo como uma força política e econômica voltada para o
futuro.
E algumas questões permaneçam e
o futuro é uma incógnita...
Tocando em Frente
poesia de Almir Sater
em parceria com Renato Teixeira
Ando devagar
Por que já tive pressa
E levo esse sorriso
Por que já chorei de mais.
Hoje me sinto mais forte
Mais feliz quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei, eu nada sei.
Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir.
Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha,
Ir tocando em frente.
Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Vou trocando os dias
Pela longa estrada eu vou, estrada eu sou.
Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir.
Todo mundo ama um dia
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
No outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
De ser feliz.
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Um pouco mais sobre o Brasil:
O Brasil Deu Certo(?) E Agora?
https://archive.org/details/Brasil.Deu.Certo
Histórias do Poder - Capítulo 1 - Partidos, Alianças e Frentes
https://archive.org/details/Historias.Poder01
Histórias do Poder - Capítulo 2 - A Batalha pelo Voto
https://archive.org/details/Historias.Poder02
Histórias do Poder - Capítulo 3 - Militares, Imprensa e Igreja
https://archive.org/details/Historias.Poder03
Histórias do Poder - Capítulo 4 - Administração Pública
https://archive.org/details/Historias.Poder04
Histórias do Poder - Capítulo 5 - Economia e Política
https://archive.org/details/Historias.Poder05
Arquitetos do Poder
https://archive.org/details/Arquitetos.Poder
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