domingo, 3 de maio de 2015

Relações humanas

Em vez de condenar os outros, procuremos compreendê-los. Procuremos descobrir por que fazem o que fazem. Essa atitude é muito mais benéfica e intrigante do que criticar; e gera simpatia, tolerância e bondade. - Dale Carnegie
Por que as pessoas fazem o que fazem
Existem alguns livros que transformam vidas. E eu posso afirmar que tive minha vida transformada por muitos, e cada um deles me fez rever a mim mesmo. Essa análise perspectiva se iniciou em 1993, com o pequeno livro de crônicas de capa roxa, chamado Maktub, de Paulo Coelho, e não parou mais. De lá pra cá 'O Despertar dos Mágicos – Introdução ao Realismo Fantástico', de Louis Pauwels e Jacques Bergier; 'O Paraiso Perdido', de John Milton; 'O Inferno', de Dante Alighieri, na tradução de Malba Tahan; 'O Quinto Evangelho', de Huberto Rohden, entre tantos outros, que me conduziram em uma maravilhosa jornada; a do autoconhecimento.
O Despertar dos Mágicos
Mas conforme eu caminhava na estrada do "conhece-te a ti mesmo", havia a necessidade de me aprimorar, de corrigir algumas deficiências e fortalecer alguns pontos que já estavam sedimentados como base da minha personalidade. E foi em uma palestra que assisti por acaso, que conheci um dos livros mais importantes para o processo de me tornar a pessoa que sou hoje, o livro de título duvidoso, 'Como fazer amigos e influenciar pessoas', de Dale Carnegie.
Como fazer amigos?

O título 'Como fazer amigos e influenciar pessoas' cheira falsidade. Afinal, quantas pessoas se orgulhariam de "ganhar" um amigo e influenciá-lo em prol de seu próprio ganho pessoal? Isso não parece nada certo. Contudo, há uma estranha inconsistência entre a desfaçatez do título e o muito do que realmente está no livro.

Quando lido com cuidado, não é de todo um manual para manipulação, à maneira de 'O príncipe', de Maquiavel. Carnegie menosprezou genuinamente o "ganhar amigos" por uma razão: "Se tentarmos simplesmente impressionar as pessoas e fazê-las se interessar por nós, nunca teremos amigos verdadeiros e sinceros. Amigos, amigos de verdade, não são feitos dessa forma". A energia que torna o livro uma ótima leitura vem do amor às pessoas. Talvez o livro ainda seja adquirido por ego, maníacos superficiais, mas já era hora de o clássico de Carnegie ser visto sob uma luz mais verdadeira e gentil.

Carnegie escreveu o livro nos Estados Unidos dos anos de 1930. O país ainda estava saindo da Grande Depressão, e as oportunidades – particularmente para pessoas com educação – eram escassas. E Carnegie ofereceu um caminho para passar à frente, tomando proveito de uma das únicas coisas que definitivamente nos pertence: nossa personalidade.
Individualidade consciente
Pelos padrões modernos, as afirmações feitas em 'Como fazer amigos e influenciar pessoas' não parecem muito fortes; a Psicologia Motivacional está agora bem estabelecida. Mas tente imaginar o impacto causado em 1937, antes da grande prosperidade do período pós-Segunda Guerra Mundial. Para muitas pessoas era como ouro puro. Para muitos hoje, ainda é.
1937
'Como fazer amigos e influenciar pessoas' é um manual autodeclarado de ação, "que entrega ao leitor um segredo". Não há nenhuma teoria, apenas um conjunto de regras que funciona "como mágica". O estilo convencional de Dale Carnegie foi um sopro de ar fresco para aqueles que tentaram ler a Psicologia acadêmica, e foi algo mais atraente para aqueles que não tentaram. Ideias que visam poupar trabalho são uma característica da cultura norte-americana, por isso um livro prometendo a transformação de uma vida, sem longos anos de labuta e construção de caráter, estava predeterminado a ter uma boa recepção.
Manual autodeclarado de ação
O livro não foi escrito com o objetivo de se tornar um best-seller, mas como um livro didático para os cursos de Carnegie, sobre: falar eficazmente e relações humanas (o "como" que faz parte do título é um presente do curso). A tiragem inicial foi de apenas cinco mil exemplares. Em vez de ser concebido como parte de um plano mestre para lucrar com os instintos mais básicos das pessoas, o objetivo era levar as mensagens dos cursos de Carnegie para um público maior.

O fenômeno
Lançamento de 'Como fazer amigos e influenciar pessoas'
Inicialmente, sem dúvida alguma por causa do próprio título, o livro causou um frenesi. É um dos best-sellers mais vendidos da história (mais de quinze milhões de cópias, em cada uma das principais línguas do mundo) e ainda é o maior vendedor global no campo de auto-aperfeiçoamento. Em seu prefácio à edição de 1981, Dorothy Carnegie observou como as ideias de seu marido preencheram uma necessidade real que era "mais do que um fenômeno passageiro dos dias pós-Depressão".

Na verdade, 'Como fazer amigos e influenciar pessoas' aparece em compêndios como o Most Signifcant Book of the 20Th Century e tem seu lugar na Ultimate Business Library: 50 Books that Made Management (os livros mais influentes que construíram o conceito de gestão), entre os títulos de Henry Ford, Adam Smith, Max Weber e Peter Drucker.

A mensagem: educação, não manipulação
Educação, não manipulação
O sucesso dos cursos para adultos ministrados por Carnegie revelou um profundo desejo de educação nas "competências sociais" das pessoas de liderança, na expressão de ideias e criação de entusiasmo. É fato, hoje em dia, que só o conhecimento técnico ou a inteligência não constrói uma carreira de sucesso, mas na época de Carnegie a ideia de que o sucesso era composto por muitos elementos estava apenas começando a ser pesquisada. Ao ver que as habilidades das pessoas podem fazer toda a diferença, Carnegie popularizou efetivamente a ideia da inteligência emocional, décadas antes que fosse estabelecida como um fato da Psicologia acadêmica.
Habilidades pessoais que fazem a diferença
Ele manteve em mente uma declaração de John D.Rockefeller (o Bill Gates da época) que a capacidade de lidar bem com as pessoas era mais valiosa do que todas as outras juntas, mas mesmo assim era surpreendente o fato de que ele não conseguia achar nenhum livro sobre o assunto. Carnegie e seu pesquisador leram com avidez tudo o que conseguiram encontrar sobre relações humanas, incluindo Filosofia, decisões judiciais na vara da família, artigos de revistas, textos clássicos, os trabalhos mais recentes em Psicologia, e biografias – especialmente sobre a vida daqueles reconhecidos por excelência em liderança. Carnegie aparentemente entrevistou dois dos inventores mais importantes do século XX, Marconi e Edson, bem como Franklin D.Roosevelt e até os atores de cinema Clark Gable e Mary Pickford.
Capacidade de lidar bem com as pessoas
Um conjunto de ideias básicas emergiu dessas pesquisas. Escrito originalmente como uma breve palestra, essas ideias foram testadas incansavelmente no "laboratório humano" de participantes dos cursos de Dale Carnegie, antes de surgir, quinze anos mais tarde, na forma de "princípios" em 'Como fazer amigos e influenciar pessoas'. Independentemente do que disserem sobre o livro, ele não foi escrito por mero capricho, mas sim no sentido de educar qualquer pessoa em uma das áreas mais difíceis que existe: as relações humanas.
Relações humanas
Os princípios de Carnegie

Os princípios abordados em 'Como fazer amigos e influenciar pessoas' funcionam? No início do livro, Carnegie dá o exemplo de um homem que havia feito a gestão de seus mais de trezentos funcionários sem qualquer piedade, aparentemente o símbolo de um chefe idiota que era incapaz de dizer algo positivo sobre os próprios parentes. Mas após participar de um curso com Dale Carnegie e aplicar o princípio "Não critique, não condene, não se queixe", ele foi capaz de transformar "314 inimigos em 314 amigos", inspirar uma lealdade anteriormente inexistente e, ainda por cima, aumentar os lucros de sua empresa. Além disso, Carnegie nos diz: "A família passou a gostar mais dele, ele conseguiu ter mais tempo para o lazer e permitiu sua visão de vida ser 'alterada drasticamente'".
Lealdade
O que mais animou Carnegie não foram as histórias de carreiras beneficiadas ou os efeitos financeiros de seus cursos, mas como os cursos fizeram as pessoas abrirem os olhos e remodelarem suas vidas. As pessoas começaram a ver que poderia haver mais leveza na vida, que não era mais vista como uma luta diária, ou um jogo de poder.

O segundo capítulo do livro tem início com uma citação do filósofo norte-americano John Dewey, que fala que o anseio mais profundo na natureza humana é o desejo de ser importante. Carnegie também observou que além do sexo, o principal desejo era o de ser grande; Lincoln disse que, era o desejo de ser apreciado.
Ser importante
A pessoa que realmente entende essa ânsia por apreciação, também saberá como fazer as pessoas felizes – "até mesmo quem corre riscos se arrependerá quando morrer". Tal pessoa também vai saber como extrair o melhor dos outros. Dale Carnegie adorava contar histórias de sucesso de grandes industrialistas de sua época. Charles Schwab foi a primeira pessoa a ganhar um milhão de dólares por ano, gerenciando a United States Steel Company de Andrew Carnegie. Ele confidenciou que o segredo do seu sucesso era ser "sincero na minha aprovação e generoso nos meus elogios" às pessoas que trabalhavam para ele. Valorizar os funcionários, fazê-los sentirem-se especiais no esquema das coisas é agora visto como algo sábio nos círculos de gestão, mas na época de Andrew e Dale Carnegie, não era.
Sentir-se especial
Ao mesmo tempo, Dale Carnegie era fortemente contra a bajulação. Esta envolvia simplesmente imitar as vaidades do receptor, enquanto que um elogio sincero aos pontos positivos de alguém configurava um ato de gratidão, que requer que vejamos realmente essa pessoa, talvez pela primeira vez. Um dos efeitos é que passamos a ser mais valiosos para essas pessoas e a expressão de valor só aumenta o nosso próprio valor. Obtemos prazer inestimável ao ver uma luz se acender, e no local de trabalho, a existência de uma testemunha surpresa com o fato de a cooperação nascer do tédio ou da desconfiança. O princípio "elogie sincera e honestamente" de Dale Carnegie, trata-se, em última instância de ver a beleza das pessoas.
Reconhecimento de valor
O livro lista 27 princípios, mas a maioria segue a lógica dos dois primeiros: (1) "Não critique, não condene, não se queixe" e (2) "Faça um elogio honesto e sincero". Eles incluem:

• Desperte na outra pessoa um desejo ardente.
• Torne-se verdadeiramente interessado nos outros.
• Sorria.
• A única forma de obter o melhor de uma discussão é evitá-la.
• Mostre respeito pelas opiniões dos outros. Nunca diga "você está errado".
• Se estiver errado, admita rápida e enfaticamente.
• Comece de forma amigável.
• Deixe a outra pessoa conduzir boa parte da conversa.
• Apele para motivos mais nobres.
• Dê aos outros uma boa reputação.
Interesse-se sinceramente pelos outros 
Embora fácil de imitar, o livro em si é realmente engraçado – algo bastante raro na escrita de desenvolvimento pessoal. Carnegie usou todo o seu arsenal humorístico para torna-lo um texto que realmente nos atraí. Um dos princípios mais famosos é: "Lembre-se de que o nome de uma pessoa significa para ela o som mais doce e mais importante em qualquer idioma".

'Como fazer amigos e influenciar pessoas' será lido por mais cinquenta anos porque fala essencialmente sobre pessoas, um assunto que assumimos que sabemos muito, mas, invariavelmente, não sabemos. Antes de livros como esse, pensava-se que lidar com as pessoas era uma habilidade natural – ou você tinha ou não. O livro coloca na mente das pessoas o fato de que as relações humanas são mais compreensíveis do que pensamos e que as habilidades das pessoas podem ser sistematicamente aprendidas. Ele também conduziu a afirmação, em oposição direta à reputação do livro, de que não influenciamos alguém de verdade até que verdadeiramente gostemos e respeitemos essa pessoa.
Sobre pessoas
Quando a Natureza quer fazer um Homem
poesia de Angela Morgan

Quando a Natureza quer provar um Homem,
E experimentá-lo.
Quando a Natureza quer formar um Homem
para desempenhar o papel mais nobre;
Quando se empenha de todo o seu coração
Para criar um Homem tão grande e tão digno
Que todo o mundo dele se orgulhe...
Observemos os seus métodos e os seus meios;
Com que impiedade aperfeiçoa
Aquele que elegeu.
Como o ataca e como o fere,
E com que golpes violentos
Leva-o a moldes que apenas Ela entende.
Enquanto ele clama na sua tortura e ergue as mãos suplicantes!
Como a Natureza curva, mas sem destruir,
Como procura o seu bem
Como trabalha aquele que elege!
Modela-o por todos os fins;
Por todas as artes o induz
A mostrar o seu esplendor.
A Natureza sabe o que faz!

Quando a Natureza quer fazer um Homem,
Despertar um Homem,
Para cumprir a vontade do futuro,
Quando procura com toda a sua arte,
E se esforça com toda a sua alma,
Para cria-lo grande e completo...
Com que astúcia o prepara,
Como o atormenta e jamais o poupa,
Como o exaspera e o aflige,
Como o faz nascer na pobreza...
Quantas vezes desaponta
Aquele que sagrou
Com a prudência o oculta,
Como o torna obscuro,
Conquanto o seu gênio soluce de humilhado, e seu orgulho jamais esqueça!
Mando-o lutar mais arduamente ainda.
Isola-o,
De modo que lhe cheguem apenas
As altas mensagens de Deus.
De modo a poder ensinar-lhe
O que a Hierarquia planejou.
Conquanto ele não compreenda,
Dá-lhe paixões a dominar;
Com que impiedade o esporeia,
Com que tremendo ardor o instiga
Quando o elege cruelmente!

Quando a Natureza quer dar nome a um Homem,
Dar-lhe fama,
E domá-lo;
Quando a Natureza deseja dar-lhe brio,
Para fazer o melhor que pode...
Quando realiza a mais elevada prova,
Quando deseja um deus ou um rei,
Como o domina, como o restringe,
De modo que ele mal se contém
Quando ela o instiga e inspira!
Conserva-o desejando, sempre ardendo por um objetivo inatingível...
Castiga e lacera a sua alma.
Lança um desafio ao seu espírito,
Ergue-o quando ele se aproxima:
Faz uma selva para que ele a desbrave;
Faz um deserto para que ele o tema,
E o vença, se puder...
Assim faz a Natureza um Homem.
Então, para provar a sua paciência,
Atira uma montanha em seu caminho...
Põe-no num dilema
E olhando-o impiedosamente:
"Sobe ou morre!" diz-lhe ela...
Observemos o seu propósito, os seus meios!

A Natureza tem um plano maravilhoso,
Pudéssemos nós entende-la...
Loucos são os que a chamaram de cega!
Quando o eleito tem os pés feridos e sangrando,
O seu espírito paira nas alturas,
E com seu alto poder rapidamente
Abre novos caminhos magníficos;
Quando essa força divina
O desafia a cada fracasso e o seu ardor ainda é o mesmo
E o amor e a esperança ardem em presença da derrota...

Oh! A crise, o clamor!
Que apelam por um líder,
Quando um povo precisa ser salvo,
E então que ele surge como um guia,
E que o seu plano a Natureza mostra

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