domingo, 31 de maio de 2015

Tao

TAO, é o 'Caminho', são várias mentes com um único ideal. O 'Caminho' que faz o pensamento de muitos, estar em completa harmonia com o Um, levando-os a conseguir seus objetivos sem temer nenhum risco. Sun Tzu
Caminho
O que tem a física a ver com espiritualidade? Fritjof Capra fez esta pergunta quando trabalhava como pesquisador em física de partículas e se interessou por religiões orientais, e hoje o Mirtu's Blog verifica como Capra respondeu essa questão.

As descrições de matéria e realidade nos dois domínios o impressionaram muito, como sendo extraordinariamente similares, mas ninguém parecia ter feito essa ligação. Não foi a física regular clássica, mas a relativamente nova ciência quântica que estimulou sua comparação, que parecia retornar a uma compreensão do mundo a qual – para olhares convencionais – só poderia ser descrito como místico.

'O Tao da física: um paralelo entre a física moderna e o misticismo oriental' ajudou a criar um novo gênero de escrita que estabeleceu a interligação entre ciência e espiritualidade, e é, ainda, uma obra de referência, pois carrega o entusiasmo de ligações antes despercebidas. Publicado em uma época em que a ciência e a tecnologia pareciam ter triunfado, o livro foi uma surpresa, porque revelou que a ciência moderna estava em conflito com estranhos fenômenos físicos, os quais a literatura espiritual parecia ter descrito e explicado séculos antes.
Um paralelo entre a física e o misticismo
Mesmo universo, olhares diferentes

Capra observa que o universo imaginado por Isaac Newton no século XVII era mecânico, uma grande máquina composta de objetos que se movimentam, os quais, se você soubesse suas regras, eram plenamente previsíveis. Tudo acontecendo dentro deste universo tinha um motivo definido, e todo evento tinha certo impacto. Tempo e espaço eram distintos, e, caso se observasse com atenção o suficiente, toda matéria poderia ser decomposta até seus elementos estruturais fundamentais.
Newton, de William Blake (1795)
O modelo newtoniano claramente se aplica ao funcionamento de nosso mundo diário, no qual um grão de sal cai em um prato, uma bola voa pelo ar, um planeta se move através de seu sistema solar. A teoria tem lógica intuitiva. A teoria da relatividade de Albert Einstein, no entanto, mostrou que a matéria não possui a consistência que nossos sensos concedem a ela. Coisas não são "coisas", mas energia, que toma aparência e sensação de uma forma. A natureza do mundo não é consistente, mas de movimento contínuo.
Tudo é energia
Os primeiros físico quânticos confirmaram esta teoria, com a descoberta de que a matéria, quando observada em seu nível mais diminuto, é mais bem entendida como uma espécie de campo no qual expressões de energia – prótons, elétrons, etc. – se movem incessantemente. E em contraste ao universo "bola de bilhar" de Newton, no qual objetos supostamente compeliam outros objetos a fazer certas coisas, a física quântica descobriu um mundo muito mais flexível, não amarrado a casualidades pontuais. Os pioneiros da física quântica, Werner Heisenberg e Niels Bohr, não podiam acreditar totalmente nos resultados e nas implicações de alguns de seus próprios experimentos, como os seguintes:
Um mundo muito mais flexível
• Partículas frequentemente apareciam onde eles não as esperavam.
• Eles não podiam prever quando certo evento subatômico ocorreria, apenas notar a probabilidade de sua ocorrência.
• Algumas vezes, as partículas aparentavam ser, para o observador, partículas; outras vezes, padrões ondulatórios.
• Partículas não eram objetos na acepção newtoniana, mas, de certa forma, indicações observáveis de reações e interconexões.
• Partículas não colidiam umas nas outras enquanto mantinham suas propriedades essenciais, mas absorviam e trocavam propriedades umas das outras.
• Partículas só poderiam ser compreendidas nos termos de seu meio, e não como objetos isolados.

Em resumo, estes experimentos revelaram que a natureza básica de nosso mundo físico não era como uma coleção de objetos, mas se assemelhavam mais a uma rede complexa de interações com movimento constante.
Uma rede complexa de interações
Capra observa que o núcleo de um átomo – seu "conteúdo" – é 100 mil vezes menor que o átomo todo, mas ele constitui quase toda massa do átomo. A partir disso, podemos começar a entender que aquilo que discernirmos como uma cadeira, uma maçã ou uma pessoa, embora pareça sólido, tem um estrutura baseada predominantemente em espaço vazio, e o que é sólido está geralmente em um estado vibrante frenético.

Mas, para introduzir um dos muitos paradoxos da ciência quântica, o "espaço vazio" tem uma característica quase viva, e partículas podem espontaneamente aparecer, sem razão aparente. Como Capra explica: "A matéria revelou-se, nestas experiências, como completamente mutável. Todas as partículas podem ser transformadas noutras; podem ser criadas a partir de energia e podem acabar em energia". Nesses campos de força de partículas subatômicas, a distinção entre a matéria e o vazio ao redor dela se torna indistinta, e o vazio em si se torna importante. Agora se compreende o estar em movimento, e formas físicas são "meras manifestações transitória do Vazio subjacente".
Movimento transitório
Vazio como criador

Durante suas leituras das cosmologias do hinduísmo, do taoísmo e do budismo, Capra percebeu que suas descrições de como o universo opera eram semelhantes às descobertas esquisitas e aos aparentes paradoxos da mecânica quântica. Essas religiões, muito mais antigas que a física newtoniana, tinham, há muito, incorporado o mito da solidez e permanência.
Vishnu sonha o universo
No budismo, por exemplo, a causa de todo o sofrimento é trishna, que se agarra ou apega, que não reconhece a característica essencialmente transitória da vida, e na qual a ilusão de fixidez só pode causar problemas. Esta doutrina na impermanência também é encontrada na religião chinesa, que celebra a qualidade de fluidez eterna e mudança da natureza. Um dos livros mais importantes do pensamento chinês é o I Ching, o Livro das Mutações, que guia o leitor em direção à ação complementar ao modo com o qual as coisas estão se movimentando, em qualquer instante.
Transitório
Na física quântica, a criação ou a destruição de partículas frequentemente acontece sem nenhuma razão. Há um campo do qual elas saem e ao qual retornam, mas parecem funcionar como se estivessem além de causa e efeito. No entanto, Capra nota que o nada não é vazio, um paradoxo amplamente tratado nas religiões orientais. O hinduísmo, por exemplo, tem uma palavra para esse vazio, Brahman, um campo de potencialidade do qual todas as coisas emergem e a Dança de Shiva expressa o infinito processo de criação e destruição da matéria. No budismo, o Sunyata é um vazio vigoroso que dá origem a todas as coisas físicas. Taoísmo tem como componente central o Tao, a natureza vazia e sem forma do universo, que, todavia, é elemento básico da criação.
O nada não é vazio
Capra, assim, argumenta de maneira convincente que os paradoxos da solidez e da efemeridade, e do nada e do ser, que desnortearam cientistas quânticos, têm sido parte das religiões orientais por séculos. Onde antes tais ensinamentos podem ter sido considerados, ao menos para a perspectiva racional ocidental, como superstição mística, na verdade, o contrário é revelado como correto: a mística oriental tem, desde o princípio, descrito precisamente (o tanto quanto possível em palavras) a estrutura da criação, não em termos matemáticos, mas com a mitologia, a arte e a poesia.
A arte poética da estrutura da criação
De vários para um

O yin e yang da religião chinesa representa forças aparentemente opostas (feminino – masculino; intuitivo – racional; luz – escuridão; etc.), mas que, na verdade, são complementares, cada uma precisando da outra para existir. Capra observa que o objetivo do misticismo oriental, seja o hinduísmo, o budismo ou o taoísmo, é, enfim, reconhecer que o universo é um todo indivisível, a despeito da aparência de ser uma profusão de objetos separados.
Yin e Yang
O filósofo francês do século XVII, René Descartes, ponderou humanos como seres pensantes, capazes de analisar o universo objetivamente, e a civilização ocidental se desenvolveu nesta distinção entre mente e matéria. A física quântica destruiu essa noção de pura objetividade, pois experimentos mostraram que partículas tomavam formas diferentes, dependendo de como decidimos observá-las. Nas palavras de Heisenberg: "O que nós observamos não é a natureza em si, mas natureza exposta pelo nosso método de questionar". Isto é, os padrões que observamos na natureza com suposta objetividade podem não ser uma realidade verdadeira final, mas irão refletir como nossas próprias mentes se desenvolveram. Deixamos de ser observadores do mundo atômico e, de fato, nos tornamos participantes dele.
Observação
A lição da física quântica e o ponto de vista das filosofias hindu e budista é que a distinção entre aquele que executa, o fazer e o objeto da ação é artificial. São todos um.

O que isso tudo significa para nós, diretamente? A divisão de Descartes entre mente e matéria nos leva a pensar em nós mesmos como egos separados dentro de corpos individuais. Mas Capra diz que esta separação consciente de nós próprios do mundo cria um senso de fragmentação, no qual temos uma multiplicidade de crenças, dons, sentimentos e atividades.

No budismo, há uma palavra para esta perspectiva da vida, em que nos fazemos um ego isolado: avidya ou "ilusão". A obra hindu Bhagavad Gita diz: "Todas as ações têm lugar no tempo pela conjugação das forças da natureza, mas o homem, perdido no engano egoísta, pensa que ele mesmo é o agente". E considere este verso dos Upanishads: "Quando a mente está perturbada, a multiplicidade das coisas é produzida, mas quando a mente está silenciada, a multiplicidade das coisas desaparece".
Multiplicidade da Individualidade
Em outras palavras, o mundo literalmente muda quando nós o percebemos de forma diferente. É bastante newtoniano ver o mundo como feito de milhões de coisas separadas, mas isso é potencialmente muito fragmentador, se nós aplicarmos ao nosso senso de self. Quando vemos o mundo em conjunto, podemos curar e unificar a nós mesmos; não queremos machucar outros ou lesar nosso ambiente, pois isso só estará nos machucando.
O mundo em conjunto
Como as coisas são

Se você aceitar apenas um ponto de 'O Tao da física', será o de que a ciência moderna valida, de modo crescente, mas concepções espirituais ou místicas do universo.

Capra prova seu ponto de que ambos, o místico e o cientista, são observadores da natureza e os dois relatam suas descobertas na linguagem que conhecem. Considerando que estas linguagens são bastante diferentes, a extraordinária similaridade em suas descrições sugere que estamos mais perto de saber o que move o universo. 'O Tao da física' é capaz de transmitir que o universo é muito mais estranho que imaginávamos, ou pelo menos mais estranho que a física convencional imaginava, apesar de, ao mesmo tempo, mostrar que a humanidade há muito produziu correto conhecimento de seus padrões no mito, na religião e na arte. A física de Newton queria explicações causais ordenadas para tudo, mas a religião sempre soube que a divindade se movimenta de maneira misteriosa e aparentemente milagrosa. Para formular de outra forma, o que para a ciência é mágico, do ponto de vista espiritual é apenas como as coisas são.
Cientificamente espiritual
Passaram-se mais de 30 anos desde que O Tao da física foi publicado, então a ciência progrediu. No entanto, os conceitos básicos ainda estão corretos, e uma antiga cópia pode impressionar tanto quanto uma edição mais nova. É uma excelente introdução às religiões orientais, e, se você sabe pouco sobre esse assunto, já é motivo suficiente para ler o livro.
Compensação interior
A lei da compensação interior
poesia de Lao-Tsé

O que é imperfeito será perfeito;
O que é curvo será reto;
O que é vazio será cheio;
Onde há falta haverá abundância;
Onde há plenitude haverá vacuidade.
Quando algo se dissolve, algo nasce.
Assim, o sábio,
encerrando em si a alma do Uno,
se torna modelo do Universo.
Não dá importância a si mesmo,
e será considerado importante.
Não se interessa por si mesmo,
e será venerado por todos.
Nada quer para si,
e prospera em tudo.
Não pensa em si,
e é superior a tudo.
E, por não ter desejos,
é invulnerável.
Por isto, há muita verdade
no velho ditado:
Quem se amolda é forte.
É esta a meta suprema 

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