domingo, 1 de fevereiro de 2015

Quociente Espiritual

"O Reino de Deus está em vós e à sua volta.
Parte um pedaço de madeira e ali estarei.
Ergue uma pedra e me encontrarás.
Não estou apenas em construções de madeira e pedra.
Estou em ti."
Jesus Cristo, O Vivo
A Mensagem
Quando Paramahansa Yogananda escreveu a última sentença de sua autobiografia, há relatos de que ele disse: "Este livro vai mudar a vida de milhões. Vai ser o meu mensageiro quando eu tiver ido embora".

De fato, na sua publicação em 1946, o livro foi muito aclamado e se tornou um best-seller duradouro. Mas suas origens são um pouco misteriosas, tendo sido profetizadas por um santo indiano do século XIX, Lahiri Mahasaya. Ele predisse que, cinquenta anos depois de sua morte, um livro seria escrito sobre ele que ajudaria a propagar a mensagem da ioga ao redor do mundo. Foi deixado claro a Yogananda por seu guru Swami Yukteswar (ele mesmo discípulo de Lahiri Mahasaya), que a tarefa de cumprir essa predição era dele. Devidamente, exato meio século depois da morte do santo, o livro surgiu e, apesar de seu título, ele também incorpora as histórias de vida de Mahasaya e Yukteswar.
Mahasaya e Yukteswar
Autobiografia de um iogue é justificadamente celebrado como um dos mais agradáveis e esclarecedores livros espirituais já escritos. Tem aquele modo antigo de dizer característico do inglês indiano, e suas muitas cenas divertidas dão a ele um calor raramente encontrado em escritos espirituais. Uma imagem maravilhosa é dada a respeito da Índia, que, apesar de comparativamente pobre pelos últimos dois séculos, Yogananda disse, tinha produzido "aranha-céus vivos de alma humana" na forma de swamis e iogues.

Infância

Mukunda Lal Ghosh
Nascido Mukunda Lal Ghosh em 1893, em Gorakhpur, no norte da Índia, perto dos Himalaias, Yogananda era o quarto de oito irmãos e, pela maior parte da sua juventude, viveu em Calcutá. Ele tinha só 11 anos quando sua mãe morreu. Seu pai tinha um cargo em uma grande empresa ferroviária e se tornou discípulo de Lahiri Mahasaya, em Benares. Esse santo também se tornou o primeiro professor de Mukunda em seu sadhana, ou caminho para Deus, e aumentou sua sensação de que a vida espiritual estava esperando por ele.

Sua família tentou dissuadir Mukunda de se tornar sannyasi, ou renunciar, mas ele encontrou outro guru em Sri Yukteswar, da ordem dos swamis. Sri Yukteswar respeitava os costumes do Ocidente tanto quanto os do Oriente, tinha discípulas assim como discípulos e mostrava grande conhecimento de ciência, ainda que não parecesse ler nunca. Assustadoramente para os jovens monges, Yukteswar possuía o poder ióguico específico de sintonizar-se à mente de qualquer um que ele escolhesse, não apenas lendo seus pensamentos, mas pondo pensamentos em suas mentes. Yogananda o descreve como apropriado para a definição encontrada nos Vedas sagrados de uma pessoa de Deus: "mais suave que a flor, quanto à bondade; mais forte que o raio, quando os princípios estão em jogo".

Contra suas inclinações, Mukunda foi forçado a obter um diploma universitário em Calcutá, pela argumentação de que isso o tornaria mais respeitado quando a vida o levasse ao Ocidente. Assim, com os ensinamentos de Sri Yukteswar, seu destino começou a tomar forma. Ele adotou o nome Yogananda, que significa "êxtase (ananda) por meio da união divina (ioga)".
Êxtase por meio da união Divina
Levando o Oriente ao Ocidente

Palavras como "guru" e "ioga" são parte do inglês (e do português) universal, mas, quando Yogananda foi para a América, na década de 1930, o mundo da espiritualidade oriental e da filosofia ainda era muito exótico. Como aconteceu de ele ter viajado para o Ocidente?
Guru Yogananda
Ele tinha fundado uma escola em Ranchi que combinava o estudo convencional com a ioga e filosofia védica. Um dia, enquanto meditava na escola, teve uma visão de americanos e tomou isso como o muito anunciado sinal para ir para os Estados Unidos. Embora seu inglês fosse sofrível e ele tivesse pouco dinheiro (seu pai lhe deu uma quantia, para que chegasse até lá e se sustentasse), ele foi em 1920. Deixando tudo que conhecia e amava, não retornaria à Índia pelos próximos 15 anos.

A viagem levou dois meses, e, quando ele chegou, participou de um congresso religioso internacional, em Boston. Este foi o primeiro de centenas de discursos que vagarosamente aumentaram a percepção do hinduísmo e introduziram a ioga a centenas de milhões de pessoas. Em 1925, o autor tinha se estabelecido na vizinhança de Monte Washington, em Los Angeles, e se tornou uma minicelebridade, sendo até convidado para um encontro com o presidente Calvin Coolidge.

Celebrado quando finalmente voltou para a Índia, Yogananda viu seu guru e seu pai pela última vez, organizou as tarefas de sua escola e aumentou a organização Self-Realization Fellowship – que atualmente possuí centros na América do Norte, na Índia e no Reino Unido e continua seu trabalho.
Sociedade da Autorealização
Encontrando espíritos aparentados
Badhuri Mahasaya

Autobiografia de um iogue inclui as narrativas de Yogananda encontrando vários santos pela Índia e além, comumente em lugares remotos. Essas explorações foram ajudadas pelo uso de um carro Ford (que o autor descreve como "Orgulho de Detroit") que um devoto havia doado. Os sábios que encontrou incluem o Santo do Perfume, que podia materializar os odores que quisesse, o Swami Tigre, que tinha lutado e vencido tigres e o Mestre Levitador, Badhuri Mahasaya, que tinha aparentemente desistido de grandes riquezas familiares para tornar-se iogue. O Mestre Levitador notou que as pessoas mundanas são os verdadeiros renunciantes, tendo desistidos do êxtase da comunhão com Deus por conta de coisas ilusórias.
Mãe Permeada por Alegria

Yogananda também se encontrou com Shankari Mai Jiew, uma ioguine (uma mulher iogue) de idade avançada, e Nirmala Devi, a bela Mãe Permeada por Alegria, que dedicou muito do seu tempo num estado de samadhi (transe extático). Ele nota que essa mulher pueril tinha resolvido o problema essencial da vida – estabelecer a unidade com Deus –, enquanto o resto de nós permanecia "obscurecido com milhões de problemas".

Ele viajou pelo coração de Bengala para achar Giri Bala, a santa que não comia, que usava uma certa técnica de ioga que a permitia existir sem comida por décadas, sem efeitos ruins, e provada por observação cuidadosa. Estranhamente, a mulher gostava de cozinhar para os outros, mas, quando perguntada sobre o propósito de não comer, Giri Bala respondia que era para mostrar que nós, humanos, somos espíritos, essencialmente, e que iremos aprender gradualmente como viver das energias da luz astral, como ela. Yogananda também dedica um capítulo à sua visita à mística alemã Therese Neumann, que por anos existiu sem nada mais que uma hóstia por dia, e sangrava semanalmente de suas mãos e seus flancos (estigmas), em empatia com a agonia da crucifixão de Jesus.
Yogananda e Giri Bala
Yogananda pintou retratos fascinantes de seus encontros ou amizades com o cientista Jagadis Chandra Bose; Rabindranath Tagore, um grande poeta indiano; Luther Burbank, um pioneiro em cultivo de plantas; e Sri Ramana Maharshi, o sábio de Arunachala. Fãs de Mahatma Gandhi gostarão da descrição de Yogananda de seu tempo em Wardha, o ashram de Gandhi no centro da Índia.
Yogananda e Gandhi
Poderes ióguicos e a lei dos milagres

Autobiografia de um iogue é um livro cheio de contos de curas milagrosas, pessoas sendo ressuscitadas e intercessões estranhas. Mas as descrições desses eventos soam verdadeiras. Yogananda se esforça muito para discutir como o aparentemente impossível é cotidiano para os iogues. Ele nota que a teoria da relatividade de Einstein resumia o Universo a pura energia, ou luz. Matéria era simplesmente energia concentrada, e a solidez das coisas, em alguma medida, ilusória. Einstein mostrou que a matéria nunca podia igualar a velocidade da luz, que é o motivo de classificarmos a matéria como sólida e a luz como efêmera.
Energia do Universo
O que isso tem a ver com os poderes milagrosos dos iogues e dos sábios? Yogananda explica que eles são capazes de se pôr num estado em que pararam de se identificar com o corpo, ou matéria. Por causa de sua consciência de que o mundo material é essencialmente maya, ilusão, eles podem literalmente transformar a sua estrutura molecular de matéria para energia de luz, deixando-a estar, por exemplo, em dois lugares ao mesmo tempo. Um iogue se vê como onipresente, tornando-se "um com o Universo", e, como resultado, pode materializar ou desmaterializar objetos livre do princípio da gravidade.

A habilidade do iogue de "tornar-se luz" – concentrar energia luminosa – é o motivo de as manifestações divinas em todas as religiões serem, muitas vezes, descritas como clarões cegantes. Mestres espirituais veem o universo como Deus viu quando ele foi criado: uma massa indistinta de luz. Tornando-se um ser com essa luz, tanto o sábio hindu quanto o santo cristão ficam livres das restrições da matéria, permitindo que milagres ocorram. De fato, tais ocorrências estão completamente de acordo com as leis do Universo, mas a maioria dos humanos não é capaz de trabalhar com elas. Quando Yogananda visitou Therese Neumann, ela lhe disse que era energizada somente pela luz e pelo ar. Conforme ele nota, fazer esse milagre é possível para qualquer um "que percebeu que a essência da criação é luz".
Therese Neumann e Yogananda
Enquanto um iogue é capaz de poderes estranhos, eles não são usados para o entretenimento de outros. Yogananda sentiu que o princípio "É um tolo aquele que não pode esconder sua sabedoria" aplicava-se ao sem mestre Sri Yukteswar. Ele falava com simplicidade, mas calmamente dobrava as leis do Universo ao redor de si, atraindo assim, pouca atenção.

Enfim...

Quando você pega esse livro, pensa que vai ler uma história de vida agradável de um sábio oriental; o que você ganha é uma introdução para alguns dos mistérios do Universo. No começo há a citação: "Se não virdes sinais e prodígios, não acreditareis" (João 4:46-54). Yogananda a incluiu porque sabia que as pessoas estão tão fixadas no que acreditam que só milagres podem fazê-las ponderar sobre questões divinas. Gurus normalmente não gostam de discutir seus poderes especiais, porque tiram a atenção do aprendiz do caminho verdadeiro, mas Yogananda sabia que ocorrências miraculosas eram o mel que atraía as abelhas ao pote espiritual.
Autorealização
Mas sua mensagem maior foi que a autorealização pelo controle iôguico da mente e do corpo é uma ciência (a "ciência da autorealização") que qualquer um pode aprender.

Enquanto a autobiografia proporciona uma introdução fascinante à literatura espiritual hindu – os Vedas, As Upanixades, o Mahabharata –, uma grande surpresa do livro é que ele pode nos dar novos olhos para a Bíblia. Yogananda foi um excelente erudito da Bíblia, e o livro é rico em notas de rodapé comparando conceitos e dizeres das escrituras hindus com as encontradas no Antigo e no Novo Testamentos. Ele se refere a Jesus como o "Mestre da Galileia", que tinha poderes similares sobre a matéria aos dos grandes iogues.
O Mestre da Galileia
É possível ler toda Autobiografia de um iogue sem acreditar em nada dele, mas veja se seu ceticismo pode resistir à última página, que contém excertos de uma carta escrita pelo diretor do mortuário Forest Lawn, em Los Angeles, onde o corpo de Yogananda foi posto depois de sua morte, em 1952. Diferentemente de todos os outros cadáveres que passaram por lá, o de Yogananda não mostrou qualquer sinal de decomposição mesmo três semanas depois de ter entrado. As circunstâncias reais de sua morte também foram admiráveis, mas para este e outros milhares de detalhes, é melhor você ler o livro ;-)

Quando eu for somente um sonho
poesia de Paramahansa Yogananda

Venho para falar Dele a todos,

De como guardá-lo no peito 
E da disciplina que atrai Sua graça.
A ti, que me pediste

Guiar-te à presença do meu Bem-amado, 

Com minha silenciosa mente te advertirei, 
Ou falarei contigo, através de um doce e expressivo olhar, 
Sussurrarei baixinho com a voz do meu amor, 
Ou te alertarei em voz alta quando te afastares Dele.

Mas quando eu me tornar apenas uma lembrança, 

Ou imagem mental, ou voz silenciosa, 
Quando nenhum apelo terrestre revelar 
Meu paradeiro no espaço insondável, 
Quando nenhuma leve súplica ou ordem severa 
Trouxer de mim uma resposta, 
Sorrirei na tua mente quando estiveres certo, 
E quando errares, chorarei através de meus olhos, 
Fitando-te veladamente na escuridão.

E chorarei através de teus olhos talvez;

E murmurarei através de tua consciência, 
E raciocinarei contigo usando da tua razão, 
E amarei todos através do teu amor.

Quando não mais puderes me falar, 

Lê meus "Sussurros da Eternidade"; 
Por meio deles, falarei contigo eternamente.

Incógnito, andarei a teu lado 

Protegendo-te com braços invisíveis. 
E assim que conheceres o meu Bem-amado 
E ouvires a Sua voz no silêncio, 
Reconhecer-me-ás novamente, mais tangível 
Do que me conheceste na Terra.

Mas quando eu for somente um sonho para ti, 

Voltarei para te lembrar que também não passas 
De um sonho do meu Bem-amado Celestial.

E quando souberes que és um sonho, como agora eu sei, 

Estaremos despertos Nele para sempre.
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Um pouco mais sobre o quociente espiritual você encontra em: 
http://jrmilton.blogspot.com.br/2013/04/grandeza.html

E um pouco mais sobre a Luz, essência da criação, em:

http://jrmilton.blogspot.com.br/2012/04/um-feixe-de-luz.html