domingo, 27 de maio de 2012

As Cores da Alma, a Poesia do Olhar

Você sabe o que é o amor?
Amor de verdade?
Você já amou tanto
que se condenou pela eternidade?
Eu amei.
[Jeanne Hébuterne]

Há duas semanas me propus um desafio; compreender a obra de Amadeo Modigliani. Pintor, escultor, poeta visual, boêmio, amante e divino inconsequente. A vida de Modigliani foi mitificada e sua obra glorificada, mesmo ele permanecendo menos conhecido que seu contemporâneo e talvez 'justo inimigo', Pablo Picasso.
Liv Tyler
Para entender um pouco melhor Modigliani eu precisava de um rosto que me conectasse com o artista, que me desse uma proximidade com o que ele via, e para isso elegi Liv Tyler para ser minha 'ponte' entre a atualidade e a arte extemporânea do poeta visual de Livorno. Escolhi Liv, pois ela trás nos traços alguma semelhança a Jeanne Hébuterne, grande musa e amor de Modigliani.
Jeanne Hébuterne
Modigliani se notabilizou pela enfatização do olhar, pela captura da beleza dos rostos e das pessoas; o pintor Ludwig Meidner disse certa vez: "Nunca vi ninguém tratar a beleza com tanta paixão". E Modigliani era apaixonado pela beleza de tal forma que levava sempre consigo um poema de Charles Baudelaire, que é transcrito a seguir:

Beleza
poesia de Charles Baudelaire

Sou bela, oh mortais, sonho feito de pedra.
E o meu seio, que vos vai ferindo um a um,
Inspira nos poetas um amor
Silente e eterno, como a existência inanimada.

O meu trono é no firmamento azul,
qual esfinge misteriosa.
O meu coração é de neve, branco como os cisnes,
Odeio o movimento que desloca as linhas
Jamais faço ouvir o meu riso ou o meu pranto.

Os poetas, diante da minha pose majestosa
Que fui buscar às estatuas altivas,
Consomem os dias em estudos austeros.

Fascino os meus dóceis amantes com os
Espelhos puros que tornam todas as coisas mais belas:
Os meus olhos, os meus olhos imensos
com a claridade da eternidade.

Com a mesma paixão Modigliani viveu seu amor com Jeanne Hébuterne de forma paradoxal, e em sua boêmia se afogou no consumo de álcool e haxixe, vivendo quase sempre com saúde e situação financeira debilitadas. E foi essa via trágica pela qual se desenhou sua vida, que cativou outros tantos admiradores, e em um filme de 2004, 'Modigliani – Paixão Pela Vida', a vida do pintor foi retratada em toda sua perturbação e viva impressão artística.
Modigliani - I Colori Dell'Anima
Porém, em verdade, minha curiosidade foi aguçada pela vontade de conhecer as nuances que transformaram Modigliani em uma lenda. Ele é cultuado por sua pintura capturar a essência feminina como nenhuma outra, pela delicadeza dos traços, pela revelação da femme fragile, ou da femme fatale.
Nu Feminino, 1916
Diz-se que a primeira e única exposição individual de Modigliani provocou escândalo na região da Rua Taitbout, próximo a Ópera de Paris, devido a seus grandes quadros de elegantes nus.
Nu Reclinado, 1917
Modigliani faleceu em 24 de Janeiro de 1920, no Charité de Paris, vitima de complicações resultantes da tuberculose, e está sepultado no cemitério de Père Lachaise ao lado de Jeanne Hébuterne, que se suicidou no dia seguinte ao de sua morte. Assim pode-se dizer que Modigliani teve uma vida digna de uma peça de Shakespeare. 

E para encerrar esta publicação, um poema de Nótlim Jucks, com várias assertivas mitológicas gregas e romanas, com um pouco de devaneio, um pouco de poesia feminina: 

O Sorriso da Deusa
poesia de Nótlim Jucks

Havia uma fina bruma
que cobria levemente o jardim,
ainda assim era possível avistar um sorriso;
belo como o sorriso da deusa Luna.

Era manhã e ela estava radiante,
como se tivesse nascido ali,
como uma flor das mais belas;
bela como se nascida no Elísios.

E eu, simples mortal,
senti-me agraciado,
como se tivesse provado
um doce de sabor divinal.

Ela ao longe parecia à ninfa Flora,
que ao caminhar pelos campos
fazia brotar toda qualidade de ramos
e encantava os corações desavisados.

Então ouvi um som
que este coração custará esquecer,
e algo que ao mesmo tempo
não sei se saberei explicar.

Foi como um coro celestial
o ranger das portas do Olimpo
e o sorriso largo do pai de todos,
concedendo-me um direito imortal.

De apaixonar-me por sua filha,
de experimentar tão doce iguaria.
Algo como provar o doce Ambrosia
que como um semideus me explodiria.

Assim entendi o que Dante sentia;
o que o fez cortar os nove círculos
e caminhar em meio a tantos desalentos,
isso pois no paraíso Beatriz ele encontraria.

E nisso me senti mais iluminado,
pois conheci uma deusa que caminhava
no jardins das Ilhas Afortunadas
e 'Viva a Vida' era a música que ela entoava. 

Porém naquele fim de dia
o efeito do manjar do deus soçobrava
e minha permissão se exauria,
ainda assim senti que não acabaria.

Por fim findou-se a magia,
que próximo a deusa me permitia
e sem tristeza ela partiu,
deixando-me de presente aquele sorriso

Sorriso que eu via em meio à bruma,
que certamente eu jamais esqueceria,
que enchia meus sonhos de alegria
e me fazia desejar um outro dia.

domingo, 13 de maio de 2012

Maravilha

Eu imaginava o mundo inteiro
como uma máquina enorme.
E as máquinas não vêm
com peças sobressalentes.
Elas sempre vêm com a quantidade exata.
E se o mundo inteiro é uma máquina,
eu não sou uma peça a mais.
Tenho um propósito para estar aqui.
- Hugo Cabret em 'A Invenção de Hugo Cabret'
Hugo e Isabelle
Feliz dia das mães, senão para você, para sua mãe. Aquela que é o elemento primordial e latente da potencialidade geradora, aquela que concebe e assim compreende e percebe que sem ela o mundo não é e jamais poderia ser, pois até tudo que existe a ela refere-se, Mãe Terra, Mãe Natureza, Deusa, Mãe.
Mãe Natureza
Hoje o Mirtu's Blog traz uma indicação literária e cinematografia: 'A Invenção de Hugo Cabret'
A Invenção de Hugo Cabret
'A Invenção de Hugo Cabret' é um livro de ficção histórica, escrito e ilustrado por Brian Selznick. A inspiração principal do livro é a história verdadeira de um pioneiro cineasta francês, Georges Méliès - ilusionista, caricaturista, inventor e mecânico, Méliès desenvolveu diversos truques de fotografia aplicada ao cinema. O livro de Selznick, possuí 526 páginas e 284 imagens que são interdependentes, cuja narrativa está presa a uma imagem e uma imagem presa a narrativa, ou como descreveu o autor: "o livro não é exatamente um romance, não é bem um livro de imagens, não é realmente uma novela gráfica, ou um filme, mas uma combinação de todas estas coisas".

Em verdade 'A Invenção de Hugo Cabret' virou um excelente filme rodado por Martin Scorsese e concorreu ao Oscar em 11 categorias, vencendo em 05. Um excelente filme para todos os momentos.

Mantendo a tradição do Blog, temos a publicação de um poema de Nótlim Jucks, dedicado a uma mulher, as mulheres, mães, esposas, avós, irmãs, amantes, amigas, companheiras...

Você é Maravilhosa
poesia de Nótlim Jucks

Alguém um dia verá
seu sorriso em meio à multidão
e não fará diferença
de onde você veio ou para onde vai.

Tudo que você precisa é acreditar em si,
porque quando você fala
eu sinto amor em sua voz
e isso por si só enche o mundo de beleza.

Eu poderia lhe falar sobre desilusões,
mas vou deixar você seguir,
pois desilusões são uma mentira.
Quando se ama essa é a única verdade que existe.

Não espere que alguém ame você,
ame como você gostaria de ser amada
e você verá que o amor simplesmente acontece,
se não acontecer é porque não deveria ser.

Quando você perceber,
não haverão mais motivos para chorar,
mesmo sabendo que seus sonhos
continuaram apenas sonhos.

Sempre haverá alguém,
que se importará só com seu sorriso,
alguém que lhe abraçará,
cercando seu mundo para lhe proteger.

Isso lhe bastará.

Alguém um dia verá
seu sorriso em meio à multidão.
Então pegue seu amor de volta,
faça tudo que você sempre quis
e sinta-se bem.

Ninguém tomará como mentira
toda felicidade que você têm,
basta você acreditar.
Pois você é a mulher
mais linda que eu já vi.

Eu tentaria acabar
com seus momentos difíceis,
mas nossos caminhos seguem distantes
e a vida não tem facilitado mesmo.
E sei que você consegue sem mim.

Mas se por algum motivo
você se sentir insegura,
chame por mim meu amor,
eu virei de onde quer que seja.

Você é a mulher mais maravilhosa que conheci
e o mundo deveria se curvar para você passar,
mas as coisas não são bem assim.
Apenas acredite em si,
pegue seu amor de volta.

Você vai ver que não importa
de onde você veio ou para onde vai.
Basta deixar esse sorriso seu como lembrança
e o mundo será sempre cheio
dessa sua confiança.

domingo, 6 de maio de 2012

Deixar Ir

Aqueles que tiveram grandes paixões 
ficam a vida toda felizes, 
e infelizes, por se terem curado delas.
[François de La Rochefoucauld]
Feliz
O mês de Abril foi corrido e Maio começou tão rápido e vertiginoso que demorei a perceber que o primeiro Domingo havia acabado. Estava entretido com meu novo aprendizado, "FotoLeitura", que quando me dei conta, era quase Segunda.

Hoje a miríade será determinada; três poemas de autores distintos e independentes. Para dar um tom diferente.

Tenho alguns amigos que deram uma opinião interessante sobre o blog, comentaram que alguns textos são muito longos para serem lidos no computador e que no inicio os textos eram muitas vezes concisos, mas atrativos. Então vou fazer um exercício agora em Maio; vou mesclar uma publicação mais concisa e outra mais longa. As longas, vou deixar para publicar alguns textos que o velho Talmur me deixou de presente – a filha do meu velho mestre ligou para dizer que ele está internado. Algumas impossibilidades me entristecem, mas quando ele decidiu voltar a morar próximo dos filhos, eu sabia que dificilmente voltaria a ver o velho mestre. É a vida.

Bom, o primeiro poema é de autoria de Douglas Cabrera Costa e foi publicado no livro 'Recriando Emoções'; livro que ganhei do autor, meu tio, poeta e educador. E revisitando as páginas  hoje já um pouco amareladas  do livro escrito em 1985, encontrei grande profundidade e paixão, que nas próximas publicações tentarei lhes apresentar. Vamos então apreciar:
Partida
Partida
poesia de Douglas Cabrera

Ela deixou marcas de ternura,
filtradas em gestos de amor,
enquanto as muralhas erguiam-se
entre nossos corpos apaixonados.

No desfraldar triste das horas
bailava o beijo da lembrança
e vinham dias vazios
nas lágrimas do coração.

Perdiam-se no vácuo da solidão
vidas unidas
na lira da paixão.

Partindo, ela deixava a tristeza
levar o sorriso de meu amanhã.

Eu vi mortos nossos corpos
no obstáculo que nos separava,
quando mergulhei no abismo
do espaço tão distante.

Partiu com a flor do desejo
ainda botão.
deixou incompletas as páginas
de nossa paixão.

Ela foi a poesia das horas;
o lago prateado das emoções;
o eterno alvorecer da alegria;
a brisa serena das sensações.

Partiu, e eu fiquei na noite,
sem estrela, sem carinho,
vendo as garras da saudade
devorar minha carne morta
nas chagas daquela partida.

O segundo poema é de autoria de outro Douglas Costa; um músico incidente, um poeta relutante e meu primo consequente. Sem nepotismo; apenas uma retribuição com carinho a uma pessoa que dedico minha torcida diária, para que viva a 'A Teoria do Sucesso Irrestrito - S=c.p²' e realize todos os seus sonhos. Em seu poema leve e levemente ácido, a transparência de si mesmo. Assim:
Pode ir
Minha despedida
poesia de Douglas Costa

Guardo de ti aquilo que preciso,
O que me faz feliz e me traz alívio.
Dos males, nenhum carrego.

Minha mochila é pequena,
Apenas algumas fotos, lembranças.
Seu sorriso, seu jeito engraçado, tudo que me ensinou.
Do resto nada quero, nada me acrescenta.

Disseram-me que as portas do céu são justas,
Por isso escolhi esta sacola,
Pois cabe exatamente tudo,
De tudo de bom, de todos,
De tudo aquilo que me compõe.

Guardo estas coisas e te vejo ir.
Pois sei que a felicidade que procura não esta aqui.
E me faz feliz te ver sorrir,
enche o meu saco!
De pura felicidade, meu saco.
Me faz melhor te ver partir.

O último poema foi escrito há bastante tempo pelo poeta Nótlim Jucks e reflete incerteza, conflito e a dificuldade de se libertar do passado. Mas com resiliência o personagem poético se despede e segue. Como em todos os momentos da vida. Enfim:
Sem Sorrir
Partir sem sorrir
poesia de Nótlim Jucks

Estou tão cansado de tentar ter razão
e há essa dor que abraça meu coração.

Eu esperava que você entendesse,
que eu não nasci para ficar sozinho
e esperava que você me deixasse partir
pois não há motivo para continuar assim.

Esta dor é real apenas por sua causa.
Estas lágrimas correm apenas por sua culpa.

Mas por mais que eu tente desistir
alguma coisa ainda me prende aqui.
E eu abriria meus braços se você pedisse,
mas há muito orgulho em seus olhos.

Eu seria capaz de negar a mim mesmo,
mas estou tão cansado de sentir esta dor,
sendo assim eu apenas esperava partir,
esperava apenas partir sem sorrir.

Porém esta dor que me faz chorar
grita dentro de mim tentando se libertar
e ainda não sei se há algum lugar
onde eu possa ir sem te encontrar.

Te encontro em minha mente
consumindo minha liberdade.
E quando procuro em mim
não encontro qualquer sanidade.

Me perco iludido com o passado
e nestes momentos você tem me derrotado.

É tão difícil dizer por quanto tempo
eu estive errando por estes caminhos.
Mas eu esperava que você entendesse
que eu não nasci para ficar sozinho.

Eu fico surpreso com tudo que acontece
mas enfrento esta dor que me fere.

Esta dor é real por que ainda lembro
Lembro que era pra ter sido melhor
do que o que eu pude te dar.
Eu juro era simplesmente te amar.

É tão difícil dizer que estive errado
este tempo todo, por tanto tempo.

Eu esperava ser capaz de pedir perdão
mas estas lagrimas são apenas vergonha.

Nós erramos e não reconhecemos,
não houveram lagrimas para lavar nossos erros.
Eu estou tão cansado de sentir esta dor
então espero apenas partir sem sorrir.
--


Querer esquecer alguém é pensar nesse alguém. O amor tem isto em comum com os escrúpulos: torna-se ácido pelas reflexões e os retornos feitos para livrar-se dele. É preciso, se possível, não sonhar com a sua paixão para enfraquecê-la. 
[Pierre de la Bruère]