domingo, 6 de maio de 2012

Deixar Ir

Aqueles que tiveram grandes paixões 
ficam a vida toda felizes, 
e infelizes, por se terem curado delas.
[François de La Rochefoucauld]
Feliz
O mês de Abril foi corrido e Maio começou tão rápido e vertiginoso que demorei a perceber que o primeiro Domingo havia acabado. Estava entretido com meu novo aprendizado, "FotoLeitura", que quando me dei conta, era quase Segunda.

Hoje a miríade será determinada; três poemas de autores distintos e independentes. Para dar um tom diferente.

Tenho alguns amigos que deram uma opinião interessante sobre o blog, comentaram que alguns textos são muito longos para serem lidos no computador e que no inicio os textos eram muitas vezes concisos, mas atrativos. Então vou fazer um exercício agora em Maio; vou mesclar uma publicação mais concisa e outra mais longa. As longas, vou deixar para publicar alguns textos que o velho Talmur me deixou de presente – a filha do meu velho mestre ligou para dizer que ele está internado. Algumas impossibilidades me entristecem, mas quando ele decidiu voltar a morar próximo dos filhos, eu sabia que dificilmente voltaria a ver o velho mestre. É a vida.

Bom, o primeiro poema é de autoria de Douglas Cabrera Costa e foi publicado no livro 'Recriando Emoções'; livro que ganhei do autor, meu tio, poeta e educador. E revisitando as páginas  hoje já um pouco amareladas  do livro escrito em 1985, encontrei grande profundidade e paixão, que nas próximas publicações tentarei lhes apresentar. Vamos então apreciar:
Partida
Partida
poesia de Douglas Cabrera

Ela deixou marcas de ternura,
filtradas em gestos de amor,
enquanto as muralhas erguiam-se
entre nossos corpos apaixonados.

No desfraldar triste das horas
bailava o beijo da lembrança
e vinham dias vazios
nas lágrimas do coração.

Perdiam-se no vácuo da solidão
vidas unidas
na lira da paixão.

Partindo, ela deixava a tristeza
levar o sorriso de meu amanhã.

Eu vi mortos nossos corpos
no obstáculo que nos separava,
quando mergulhei no abismo
do espaço tão distante.

Partiu com a flor do desejo
ainda botão.
deixou incompletas as páginas
de nossa paixão.

Ela foi a poesia das horas;
o lago prateado das emoções;
o eterno alvorecer da alegria;
a brisa serena das sensações.

Partiu, e eu fiquei na noite,
sem estrela, sem carinho,
vendo as garras da saudade
devorar minha carne morta
nas chagas daquela partida.

O segundo poema é de autoria de outro Douglas Costa; um músico incidente, um poeta relutante e meu primo consequente. Sem nepotismo; apenas uma retribuição com carinho a uma pessoa que dedico minha torcida diária, para que viva a 'A Teoria do Sucesso Irrestrito - S=c.p²' e realize todos os seus sonhos. Em seu poema leve e levemente ácido, a transparência de si mesmo. Assim:
Pode ir
Minha despedida
poesia de Douglas Costa

Guardo de ti aquilo que preciso,
O que me faz feliz e me traz alívio.
Dos males, nenhum carrego.

Minha mochila é pequena,
Apenas algumas fotos, lembranças.
Seu sorriso, seu jeito engraçado, tudo que me ensinou.
Do resto nada quero, nada me acrescenta.

Disseram-me que as portas do céu são justas,
Por isso escolhi esta sacola,
Pois cabe exatamente tudo,
De tudo de bom, de todos,
De tudo aquilo que me compõe.

Guardo estas coisas e te vejo ir.
Pois sei que a felicidade que procura não esta aqui.
E me faz feliz te ver sorrir,
enche o meu saco!
De pura felicidade, meu saco.
Me faz melhor te ver partir.

O último poema foi escrito há bastante tempo pelo poeta Nótlim Jucks e reflete incerteza, conflito e a dificuldade de se libertar do passado. Mas com resiliência o personagem poético se despede e segue. Como em todos os momentos da vida. Enfim:
Sem Sorrir
Partir sem sorrir
poesia de Nótlim Jucks

Estou tão cansado de tentar ter razão
e há essa dor que abraça meu coração.

Eu esperava que você entendesse,
que eu não nasci para ficar sozinho
e esperava que você me deixasse partir
pois não há motivo para continuar assim.

Esta dor é real apenas por sua causa.
Estas lágrimas correm apenas por sua culpa.

Mas por mais que eu tente desistir
alguma coisa ainda me prende aqui.
E eu abriria meus braços se você pedisse,
mas há muito orgulho em seus olhos.

Eu seria capaz de negar a mim mesmo,
mas estou tão cansado de sentir esta dor,
sendo assim eu apenas esperava partir,
esperava apenas partir sem sorrir.

Porém esta dor que me faz chorar
grita dentro de mim tentando se libertar
e ainda não sei se há algum lugar
onde eu possa ir sem te encontrar.

Te encontro em minha mente
consumindo minha liberdade.
E quando procuro em mim
não encontro qualquer sanidade.

Me perco iludido com o passado
e nestes momentos você tem me derrotado.

É tão difícil dizer por quanto tempo
eu estive errando por estes caminhos.
Mas eu esperava que você entendesse
que eu não nasci para ficar sozinho.

Eu fico surpreso com tudo que acontece
mas enfrento esta dor que me fere.

Esta dor é real por que ainda lembro
Lembro que era pra ter sido melhor
do que o que eu pude te dar.
Eu juro era simplesmente te amar.

É tão difícil dizer que estive errado
este tempo todo, por tanto tempo.

Eu esperava ser capaz de pedir perdão
mas estas lagrimas são apenas vergonha.

Nós erramos e não reconhecemos,
não houveram lagrimas para lavar nossos erros.
Eu estou tão cansado de sentir esta dor
então espero apenas partir sem sorrir.
--


Querer esquecer alguém é pensar nesse alguém. O amor tem isto em comum com os escrúpulos: torna-se ácido pelas reflexões e os retornos feitos para livrar-se dele. É preciso, se possível, não sonhar com a sua paixão para enfraquecê-la. 
[Pierre de la Bruère]

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