quarta-feira, 18 de maio de 2011

A Esperança é Verde

"Se ele for humilde, 
dê forças à sua arrogância." 
Sun Tzu
Amor e Guerra
A frase que inicia esta publicação remete a um dos axiomas declarados pelo estrategista Sun Tzu há mais de 2.500 anos, cujo significado eu considero um dos mais intrigantes dentre todos os declarados pelo autor, entre os treze capítulos que compõe "A Arte da Guerra".

Esse axioma é intrigante pelo simples fato de Sun Tzu afirmar que alguém que é humilde, goza de arrogância. O que não parece fazer sentido, pois o próprio significado de arrogância é "altivez que deixa ver o pouco caso que se faz do adversário" – o que contraria diretamente o significado de humilde, que caracteriza tudo que é modesto.

Jesus disse: "Vinde a mim, todos os que estão cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma." – (Mateus 11:28-29)

Então internamente me questionei em silêncio: "Isso quer dizer que na verdade então, Jesus era arrogante?" – e a nuvenzinha cinza de chuva, característica dos desenhos animados, pairou sobre a minha cabeça. O que fez com que em um dos últimos encontros que tive com meu amigo Ibrahim Talmur – o mestre Issa –, nós conversássemos a respeito do sentido que o estrategista quis transmitir com seu ensinamento. Sendo assim, o mestre Issa citou Osho, para tentar me explicar esta relação explicitada por Sun Tzu, entre o humilde e o arrogante:

"Segundo alguns ensinamentos Zen, vemos que na Existência (em Deus), não há ninguém que seja superior e ninguém que seja inferior. Uma folha de grama e a grande estrela são absolutamente iguais.

"O Homem, porém, quer estar acima dos outros, quer conquistar a natureza, e por isso precisa lutar continuamente. Toda complexidade (arrogância) é fruto dessa luta. A pessoa humilde é aquela que renunciou à luta, que não está mais interessada em estar acima, que não está mais interessada em mostrar desempenho, em provar que é alguém especial – ela sabe que não há nada para provar; é aquela que se tornou semelhante a uma rosa, a uma gota de orvalho sobre a flor de lótus; que se tornou parte da Infinidade, tendo entendimento de tudo que ela realmente é." – aí o mestre concluiu: "Desta forma meu amigo Milton, todo aquele que se considera, ou é considerado humilde, mas não busca o entendimento de si mesmo, não se identifica com o próximo, com o Universo e suas criaturas; é na verdade um arrogante." – e ele sorriu com sua sagacidade típica, instigando-me a questioná-lo, o que não fiz, sendo assim ele finalizou: "Parece muito duro, não! Mas a verdade nunca é tão macia quanto uma mentira aveludada. Você me deve um café." – e seu sorriso se alargou no rosto.

Enquanto fui buscar os cafés e duas porções de mini-salgados, me senti aliviado; Jesus ainda era O Cara – para mim – e Sun Tzu sabia que um inimigo nunca é humilde, pois se fosse não seria um inimigo.

Quando cheguei à mesa em que o mestre Issa estava sentado, ele ainda sorria largamente, o que despertou minha curiosidade: "O que foi Talmur?" – perguntei sentando-me e colocando a bandeja sobre a mesa.

Ele me olhou com certo inconformismo e disse: "Você reclama que não gosta de ficar sozinho, mas aquela bela jovem não tirou o olhar de você desde que você chegou aqui. Por que você não vai até lá conversar com ela?" – nisso olhei para a mesa em que ela estava sentada com uma amiga; e ela realmente prendeu o olhar um pouco ao meu, mas logo o desviou para continuar conversando com a amiga.

Olhei de volta para o velho Talmur e ele sorria ainda mais, então eu lhe disse: "Você sabe por que eu não vou lá!" – e ele perdeu um pouco daquele sorriso largo.

"Um dia você vai ter que esquecer a menina Egípcia!" – eu ia dizer que ela era árabe, mas não ia fazer diferença – ele pegou a bolinha de queijo que estava na minha mão e disse: "Você ainda não aprendeu a escolher os salgadinhos! Mas tudo bem, hoje eu estou de bom humor, então vou lhe contar mais uma história sobre o significado das coisas.".

Recostei-me na poltrona e abri minha mente para mais uma história do mestre Issa: "Diz a lenda que Prometeu subiu ao céu e acendeu a tocha do conhecimento no carro do Sol. E que voltou a Terra e a entregou a seu irmão Epimeteu, para que ele pudesse conceder a dádiva do conhecimento ao Homem, e o Homem então se distinguisse dos outros animais.

"Nisso, Júpiter, sentindo-se traído pelos irmãos Titãs – que concederam o fogo do céu aos Homens, sem sua autorização – preparou um ardil para os dois. Ele lhes enviou Pandora, a fabulosa mulher criada por ele, com a contribuição de cada um dos deuses da cidade celestial. Vênus concedeu a Pandora, sua beleza exuberante, Mercúrio lhe deu poder de persuasão, Apolo a presenteou com voz melodiosa e assim sucessivamente cada um dos deuses concederam algo a Pandora.

"Quando Epimeteu e Pandora se conheceram, se enamoraram a primeira vista, como era previsto pelo ardiloso Júpiter. Logo, para as bodas que em breve seriam celebradas, o deus enviou como presente aos noivos, uma caixa maravilhosa, toda ornada em ouro e pedras preciosas. Porém Júpiter condicionou o presente a uma regra, de que a caixa jamais fosse aberta.

"Não tardou, Pandora, cheia de irrepreensível curiosidade, quis saber o que a caixa continha e um dia, destampou-a e olhou seu interior. Neste instante, escapou uma multidão de qualidades nocivas que foram pelo mundo impregnar o Homem: a inveja, o despeito, a vingança e tantas outras. Pandora tentou fechar a caixa, mas o conteúdo já havia escapulido, à exceção de uma só coisa que ficou no fundo da caixa: a Esperança. Assim vemos que, quaisquer que sejam os males existentes, a esperança nunca nos abandona de todo, e enquanto a tivermos não há soma de dissabores que nos possa desanimar completamente."

Eu ia questionar o mestre, pois eu conhecia outra versão desta historia, mas ele não me deixou começar, e continuou com sua versão:

"Mas o que uma jóia tão preciosa quanto a Esperança, estaria fazendo guardada numa caixa cheia de qualidades nocivas?" – e ao dizer isso ele me encarou como se quisesse que eu respondesse, mas ele não queria e apenas prosseguiu:

 "A Esperança é boa enquanto força propulsora da perseverança, da confiança em si; geradora da ação, da mudança; é então indiscutivelmente uma jóia preciosa, uma dádiva. Porém, a esperança é nociva quando se torna uma força retentora, vã e fantasiosa, pois se assemelha a uma erva daninha que cresce no coração, alimentando o que não pode ser, alimentando a ilusão.

"A Esperança deve ser sempre um alento, algo que faz prosseguir, nunca algo que faz esperar. Muitas pessoas se valem de levar a esperança que faz os outros esperar – dão sem dar. Nós devemos sempre levar a esperança que faz os outros caminhar – dar para acrescentar. Essa é a boa Esperança. Cultive isso no seu coração." – e ao concluir ele me olhou como se tentasse descobrir se eu tinha entendido alguma coisa.

Olhei para o lado, em direção a mesa da bela jovem e ela não estava mais ali. Quando voltei o olhar para o mestre ele concluiu: "A Esperança vã, lhe faz esperar pelo que você não pode ter, e as oportunidades da vida não esperam." – e desta forma encerrou-se meu ensinamento do dia.
--

Há algum tempo, Jucks me enviou uma série de poemas, de uma época que ele chama de: Perdidismo – em alusão a um período cultural próprio, em que entre uma 'Thorns' e CDs das bandas 'Within Temptation', 'Xandria', 'Nightwish', entre outras bandas com vocal feminino, ele redigiu poemas um pouco diferentes ao seu estilo.

Mergulho na noite
poesia de Nótlim Jucks

Eu mergulho na noite,
a procura de algo 
que me traga de volta à vida.

Eu espero na escuridão,
alguma coisa que acabe 
com minha confusão.

Eu fixo meus olhos
e tento encontrar 
um rosto que me seja familiar.

Vejo apenas imagens,
do que poderia ter sido,
do que poderíamos ter vivido.

Imagens de um fantasma que teima em me abraçar.

O mundo está aí para ser conquistado
e esta noite toda escuridão terminará.
Então verei as coisas como elas realmente são.

Eu preciso acreditar nisso.
Essas palavras devem ser minha verdade,
como se elas fossem as únicas que existem.

Porém, há um fantasma que teima em me abraçar.

Não tenho certeza,
mas já vi seu rosto antes,
em algum lugar em minha mente.

Surpreendo-me 
com tudo o que não entendo
e como a noite pode ser longa e fria.

Eu olho o caminho diante de mim
e não consigo enxergar,
não sei onde ele chega ao fim.

A noite está realmente fria
e quer me ferir e consumir.
Há uma batalha em mim.

A escuridão está por todos os lados,
me abraça e me envolve;
tenta me afogar em seu silêncio.

Não há tempo para encontrar
as respostas que procuro;
algo que acabe com meus medos.

Esta noite não vou me afogar,
vou buscar algo novo.
Um calor que reside em outro lugar.

Algo que possa dar paz ao meu sono
e me fazer sonhar de novo.
Eu sei o que é.

Mergulho na noite e me encontro.
Espero na escuridão e me acalmo.
Não há mais o que temer.

Eu sou tudo que eu posso ser.
Afasto assim meu fantasma,
pois ela nada tem a me dizer.

* O título 'A Esperança é Verde' é uma referência indireta a trilogia das cores - filmes: 'A liberdade é azul', 'A igualdade é branca' e 'A fraternidade é vermelha'. E também a:
http://pt.wikipedia.org/wiki/tettigoniidae =)

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Minhas escolhas?

O tempo é somente uma melodia.
Jack Johnson
 
Inocência (Ilustração de Ma Deva Padma)
O mestre me olhou e disse: "Estou velho Milton." – e havia um sorriso sincero em seus lábios. Eu não tinha muito a dizer, eu só sabia em meu coração que não era justo algumas pessoas entrarem em nossa vida e depois saírem. Senti-me egoísta.

Meu mestre está partindo, sabe!? – MEU mestre.

Acho que não tenho tido muito tino para lidar com esse tipo de perda. Já "perdi" carros, dinheiro e uma série de banalidades, mas não consigo me acostumar a "perder" pessoas. Há um tempo "perdi" um dos maiores amigos que tive na infância e a amiga mais maravilhosa que alguém poderia sonhar ter, e nunca criei coragem de saber onde eles estão "descansando" – algo me diz que se eu não souber, eles continuarão aqui.

Acho que é esse sentimento de posse que tem complicado tudo, pois na verdade não temos as pessoas, elas não são nossas, elas estão conosco e temos que aproveitar esse tempo que nos é concedido para estarmos juntos, da melhor maneira possível.

Eu preparei três publicações para o Blog, mas duas delas eu não sei se posso publicar – ainda estou decidindo. Quando pedi ajuda ao meu amigo Talmur ele disse: "Milton, você é o mestre da sua vida. Daqui em diante, o mestre Issa será apenas um personagem seu. Cuide para que eu continue me orgulhando de confiar em você." – dizendo isso ele me deixou com meus textos.

Enquanto pondero sobre as publicações, Nótlim Jucks me enviou um poema que reflete uma despedida de difícil aceitação, pois ela parece acontecer devido a uma situação inexorável:

Minhas escolhas
poesia de Nótlim Jucks

Eu queria dizer que vim pra ficar,
mas não sei ao certo quanto tempo.
Eu até gostaria que fosse mais,
só que acaba sendo melhor assim.

Algumas coisas não ficaram claras
e agora é o momento de repará-las.
Eu tenho fugido há muito tempo,
mesmo sabendo que eu seria cobrado.

Pelas escolhas que fiz.
Pelos caminhos que segui.

Você me pergunta para onde vou
e se eu nunca mais vou voltar.
Mas eu não tenho essas respostas,
apesar de sonhar sempre com elas.

As pessoas não esquecem meus erros,
muito menos me perdoam por eles.
Não era assim que tudo tinha que ser,
era pra ser muito mais que isso.

Cobram-me para ser mais realista.
Querem me transformar
no que eu não posso ser.
E tudo que eu queria era amar você.

Não sei ao certo eu juro.
Eu até queria dizer que vim pra ficar,
mas fiz algumas escolhas erradas
e agora tenho que repará-las.

Foram minhas escolhas.
Meus caminhos.