domingo, 3 de outubro de 2010

Águias Livres

Czesc (Olá em eslavo lequítico =)

Perguntaram-me esses dias, quando eu ia crescer. Minha resposta foi meio petulante, mas com um sorriso: "Crescer para me tornar um adulto como você?! Jamais!" – acho que perdi um amigo por alguns meses – amigos de verdade não se afastam para sempre. "Você devia procurar um psicólogo, você tem síndrome de Peter Pan." – redarguiu o amigo. Mais uma vez minha resposta saiu espontaneamente: "No meu caso não é síndrome de Peter Pan, é síndrome de menino perdido!" – aí o amigo desistiu de por juízo na minha cabeça.

Apesar do que, acho que é por isso que a mãe da Nininha nunca foi com a minha cara, ela nunca achou que eu fosse criar "responsabilidade", e piorou ainda mais quando ela descobriu qual era a profissão da filha. Acho que ela ainda me culpa por não ter feito nada a respeito – afinal a Nininha sempre disse que eu era o melhor amigo que ela tinha. Mas melhores amigos não se distanciam e não deixam os melhores amigos fazerem a passagem – se sentido sozinhos. Bom, dos meus pecados e demais erros, minha consciência cuida para mim; e posso garantir que ela não é boazinha.

Sabe... nos últimos meses tenho pensado demais nos amigos que não estão mais neste plano, e tenho tentado estar mais próximo dos que continuam aqui, mas sinto que não tenho feito as coisas muito bem. Há um álbum da Marisa Monte - "Memórias, Crônicas e Declarações de Amor" – que tem acompanhado meus pensamentos perdidos, principalmente a canção "Gentileza" que aprendi a gostar por influência de um amigo que já fez a passagem. Acho que é minha maneira de lembrar. Eu até queria contar a história do Gordo (talvez ainda o faça), do Cari e da Nininha (porém essa última tem um pedido: "Ninguém mais precisa saber. Fica entre nós, tá?!" - e mesmo ela não gostando de mim, é um direito) – seria minha forma de homenageá-los e agradecer por eles terem enriquecido minha vida; quem sabe um dia desses.

Urso Vermelho
Bom, tudo isso rodopiou na minha cabeça, porque há duas semanas fui batizado com um nome indígena, e alguns acham que é infantilidade minha. Mas quando o "seu" Sebastião - Casco de Tartaruga (um velhinho gente boa, que persiste em caminhar na Boa Estrada Vermelha) - me indicou o livro "As Cartas do Caminho Sagrado" de Jamie Sams, me senti muito orgulhoso de poder aprender algo, sobre mais uma filosofia de vida. E assim ganhei mais um mestre.

O processo de conhecer uma nova filosofia me levou a assistir a um filme que eu havia me negado, devido eu acreditar que ele não retratava com profundidade a cultura Maia – Apocalypto, de Mel Gibson. Mas depois de assisti-lo, dei-lhe a devida consideração, colocando-o entre os grandes contos filmados; em que é contada a história de Garra de Jaguar, que assim se apresenta:

Eu sou Garra de Jaguar!

Sou filho de Céu de Pedra!
E meu pai caçou
nesta floresta antes de mim.

O meu nome é Garra de Jaguar!

Eu sou um caçador!
Esta é a minha floresta!
E meus filhos caçarão com os filhos deles quando eu não estiver mais aqui.

Eu sou Garra de Jaguar.

Esta é a minha floresta.
E eu não tenho medo.
Podem vir!

Eu havia precedido Apocalypto com o filme "Enterrem Meu Coração na Curva do Rio", que foi inspirado no aclamado best-seller de Dee Brown – onde é contada a história de como se deu a destruição sistemática da cultura indígena norte-americana, e a resistência do Povo Vermelho de se submeter à política do governo americano, que eles consideravam que ia acabar com sua identidade, dignidade e sua terra sagrada – fato confirmado pela história.

O breve contato com essa filosofia de vida ancestral, me fez parar para pensar que deveríamos usufruir ( == gozar de alguma coisa que não se pode alienar ou destruir) da Terra com mais cuidado, respeito e responsabilidade; pois desde o advento da Revolução Industrial até os dias de hoje, temos nos comportado como "estupradores", possuindo e violando o que nos é entregue naturalmente por amor. Assim, a Mãe Terra pede apenas que a honremos, e ela continuará cuidando de nós e de nossas vidas. Pense nisso!

Sabendo desta minha breve empreitada pela cultura indígena, Nótlim Jucks procurou entre seus textos, algum que combinasse com esta publicação, porém não encontrou. Revirou então seus livros e encontrou um texto de Miguel Ángel Cornejo - destacado orador mexicano, expert em liderança, coaching e administração empresarial – que cabe aqui:

Águias Livres

Um jovem casal de índios, profundamente apaixonado e prestes a se casar, foi ter com o sábio de sua tribo, para que este lhes aconselha-se:

"Ancião, as histórias de nossos ancestrais relatam que as águias formam o casal mais fiel do reino animal e que permanecem juntos para sempre. Então gostaríamos de conhecer o segredo destas magníficas criaturas, para assim vivermos também." – pediu o jovem índio.

O sábio então os olhou atentamente, identificando se havia sinceridade nas intenções dos jovens, se eles possuíam mesmo um profundo amor como diziam, e depois de um longo silêncio, sorriu levemente confirmando que sentia que era autentico o sentimento entre eles.

"Para conhecer o segredo das águias vocês antes terão que executar uma tarefa desafiadora." – determinou o velho índio – que ouviu quase em uníssono a aceitação do desafio, mesmo sem que eles soubessem o que era.

"Vocês devem ir a Montanha Azul, onde um casal de grandes e belas águias habita, lá vocês devem capturá-las usando unicamente suas mãos, e sem machucá-las cada um deve concluir sua tarefa, a você – disse apontando para o jovem índio – cabe trazer a águia fêmea, e a você – disse apontando para a jovem índia que ouvia atentamente – cabe trazer a águia macho. Vocês tem três dias para realizar esta tarefa, ao amanhecer do quarto dia devem estar aqui, neste mesmo lugar. Lhes desejo boa sorte." – disse o velho sábio, dirigindo-se para sua tenda.

No quarto dia, com os primeiros raios de sol, o casal trouxe as majestosas aves amarradas a seus braços, e estavam orgulhosos de sua façanha, pois os animais não possuíam qualquer ferimento. As aves, que tinham as patas atadas e estavam encapuzadas, permaneciam calmas.

"Muito bem!" – exclamou o velho sábio.

"Agora devemos sacrificá-las e beber seu sangue para obtermos o segredo?" – quis saber apressadamente o jovem índio.

"É muito mais simples que isso. Vocês devem amarrar a perna de uma águia na de seu parceiro, tirar-lhes o capuz e deixá-las ir." – explicou.

E assim fizeram. Ao que os parceiros alados lançaram-se em vôo, caíram; surpresos tentaram novamente e o resultado foi ainda mais trágico, pois agora já estavam com raiva. Voltaram-se então um contra o outro e se bicaram até começarem a sangrar. Foi quando o sábio índio interveio: "Desate-as e curem suas feridas. Amanhã concluiremos a revelação do segredo das águias, até lá pensem sobre o que vivenciaram aqui." – disse, deixando-os com os animais feridos.

No dia seguinte, conforme haviam acordado, se apresentaram ao ancião e a única instrução que receberam foi: "Deixe em liberdade cada uma delas." – e assim as aves subiram as alturas com tanta força que em poucos segundos sumiram na imensidão do céu - "Agora lhes pergunto: Conseguiram descobrir qual o segredo das águias?" – interpelou o sábio.

"O segredo para permanecermos juntos é respeitar a liberdade do outro, é ser independente, empenhando toda nossa força, unidos por um mesmo sonho, o que nos tornará inseparáveis."

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