domingo, 21 de novembro de 2010

Miríade

Hoje, conversando com o poeta Nótlim Jucks, tentamos encontrar uma visão diferente da que costumamos ter no Blog, com relação aos relacionamentos, as pessoas e o amor. Então Jucks me lembrou de um comentário – baseado nas descrições de Ma Deva Padma – sobre os ensinamentos dos sábios, através dos insight's de Osho (compilados em vários livros e este particularmente no livro "Vá Com Calma"), que, de forma transcendental – razão pura – assim descreve o sonho do amor:

Ilustração de Ma Deva Padma: Sonho
"Em alguma tardezinha encantada, você irá encontrar a sua alma gêmea, a pessoa perfeita que corresponderá a todas as suas necessidades, e será a concretização de todos os seus sonhos. Certo? Errado! Essa fantasia que os cantores e os poetas gostam tanto de perpetuar tem suas raízes em memórias da gestação, onde estávamos tão seguros e 'unificados' com nossas mães; não é de admirar que sejamos obcecados por retornar a essa condição durante toda a nossa vida. Mas, falando numa linguagem crua, é um sonho infantil. E é surpreendente que nos apeguemos a ele com tanta teimosia, diante da realidade. Ninguém, seja o seu atual companheiro ou alguém com quem você sonha no futuro, tem a obrigação de trazer-lhe a felicidade numa bandeja – nem poderia, ainda que quisesse. O amor verdadeiro não advém de tentativas de satisfazer nossas necessidades por meio da dependência com relação à outra pessoa, mas por meio do desenvolvimento da nossa riqueza interior, e do nosso amadurecimento. Com isso, passamos a ter tanto amor para dar, que amantes serão espontaneamente atraídos por nós."

Insight: "Isto tem sido dito, repetidas vezes no decorrer dos tempos. Todas as pessoas religiosas têm afirmado que: 'Sozinhos nós chegamos a este mundo, e sozinhos partiremos.' Toda idéia que envolve estar junto é ilusória. A própria idéia de companheirismo aparece porque estamos sós, e o isolamento fere. Queremos neutralizar nosso isolamento com relacionamentos...

"Por isso é que nos deixamos envolver tanto com o amor. Tente entender a questão. Normalmente você pensa que se apaixonou por uma mulher, ou por um homem, porque ela é bela, ou ele é belo. Essa não é a verdade. A verdade é exatamente o contrário: Você 'caiu de amor' porque não consegue ficar sozinho. Você estava mesmo pronto para 'cair'. De uma maneira ou de outra você iria fugir de si mesmo. E existem pessoas que não se apaixonam por mulheres ou homens – então se apaixonam pelo dinheiro. Elas passam a acumular dinheiro, ou embarcam na aventura do poder – elas se tornam políticos. Isso também é fugir do próprio isolamento. Se você observar o Homem, se observar com profundidade a si mesmo ficará surpreso: todas as suas atividades podem ser reduzidas a uma única origem. Essa origem é o medo que você tem da solitude. Tudo o mais são apenas desculpas. O motivo verdadeiro é que você se sente muito só."

Eu e Jucks debatemos um longo tempo este insight e encontramos grande dificuldade de nos encontramos com a idéia expressa. Muito pelo fato de estarmos mais propensos a vislumbrar o amor, como um sentimento ligado ao coração e as emoções emanadas por ele, do que propriamente ligado a razão. Mas aqui encontramos um paradoxo, pois Osho trata o amor, o sonho do amor, como resultado das emoções, só que estas engendradas na mente, no consciente e subconsciente do ser humano. E aqui nos vemos destinados a reverenciar o mestre Zen que liga a razão ao coração e nos ilumina a buscar o caminho do meio, aquele caminho em que todas as coisas se harmonizam.

Ao fim de nossa conversa, desafiei o poeta a conseguir dentre seu arquivo pessoal, um poema que tivesse um pequeno vislumbre desse paradoxo. Em verdade, não sei se ele conseguiu, mas publico aqui o poema que ele me enviou:

Miríade

Miríade é uma quantidade,
indeterminada,
porém grandíssima.

Dizem que se media assim,
os exércitos sem fim
dos imperadores do mundo.

Acredito então,
que o que sinto por você
é uma miríade.
 

Apesar de eu não saber quanto isso é,
sei que é muito superior
a todas as legiões Romanas.

Mas agora aqui,
perdido em pensamentos,
gostaria de me lembrar menos de você.

Mais dos momentos
que passamos juntos,
mas menos de você.

É que estou aqui sentado,
cercado por todos os lados,
mas me sentindo sozinho.

É uma noite alegre por motivos banais,
e como todos os outros
– alegre – eu gostaria de estar.

Findei um livro magnífico
e você se fez presente em cada linha.
O que me embaralhou o raciocínio.

São essas lágrimas que me correm pela face,
e essa sensação de não ter mais pecados!
Pois já me parecem todos pagos.

Não sou um profeta,
muito menos um poeta,
sou uma pessoa que não gostaria de estar aqui.

Não agora,
não nesta época,
não com este sentimento.
 

Apesar disso meu espírito se acalma,
apenas minha vista ainda está meio embaçada
e creio que um pouco da minha alma.

Sofro a cada momento
que me brota no peito,
uma lembrança sua.

Há essa dor que me faz chorar
lágrimas solitárias,
que caem lânguidas e ínfimas.

Elas nascem das coisas que foram ditas,
aquelas coisas que eu adoraria que fossem verdades,
mas que partiram com você.

Aquelas coisas ditas que se fizeram verdade
e me deixaram apenas essa miríade ...
... essa miríade de saudade.

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