O que acontece quando uma força que não pode ser detida
encontra um objeto que não pode ser movido?
(perguntou a Esfinge)
Esfinge Noir, de Susan Seddon-Boulet |
Oito meses; foi este o tempo que o velho Talmur me deixou sem
noticias. O mais incrível é ele me ligar em um momento que eu desejava
imensamente conversar com ele. O velho mestre completou 96 anos na última
terça-feira, 13 de Março; e deu pra perceber pela fala ofegante, que a idade
está lhe pesando, felizmente não sobre sua cabeça, que continua demonstrando a
genialidade que me cativou.
"Boa noite, sonhador!" – disse a voz distante.
"Talmur?" – Balbuciei incrédulo.
"Ah garoto, não é assim que eu esperava ser cumprimentado." –
retorquiu o mestre em meio a uma respiração prolongada.
"Mestre Issa!? O senhor tá vivo?" – indaguei estupidamente e
senti o silêncio percorrer toda linha telefônica, do Brasil a Alemanha – "Mestre?"
"Por enquanto eu estou vivo, mas acho que você já estava me
considerando como uma alma penada" – respondeu meu mestre, depois de
alguns segundos.
Ao final da ligação – pouco mais de uma hora e meia de conversa, quase
duas, depois – eu dei graças a Deus por ter sido ele quem ligou, e não eu. O
velho Talmur já viajou o mundo, mora em Colônia na Alemanha, tem uma
aposentadoria gratificante – apesar dos gastos atuais com a saúde (eita, que
minha mente está gerando peso na minha consciência) – ele pode bancar essas
ligações sem dor no bolso.
Eu precisava muito conversar com alguém, mas não podia ser
simplesmente um amigo, ou meus pais, eu precisava de alguém que mexesse com
meus 'miólos' (você se lembra do filme: "A Volta dos Mortos Vivos"?
... :-S eu e minhas paráfrases nada haver, continuemos...) , eu precisava do
mestre Issa – e eis que como o mestre dos magos, o velho Talmur me liga lá da
Alemanha. Desculpem-me pelas correlações, mas eu fiquei muito feliz com ligação
do meu velho amigo. E é engraçado isso, porque há umas publicações atrás, a Francy's
Oliva que mantém o Blog – superbacana – 'Estação Zero', havia deixado um comentário perguntando do meu velho mestre [http://estacaozero.wordpress.com/].
A conversa com o mestre Issa foi um reviver, um reencontrar. Eu
Precisava entender um problema que eu tinha detectado em mim; se era real, ou
se era só algo da minha imaginação e que eu não devia dar importância.
Há algumas semanas eu havia encontrado uma amiga de longa data, que
não via há muito tempo. O encontro foi fabuloso, conversamos como se nunca tivéssemos
nos distanciado; bebemos e petiscamos, rimos muito e nos lembramos de momentos
bons (alguns ruins também). Mas em uma fala dela, eu percebi porque nós havíamos
nos distanciado. Eu a afastava de mim, com uma atitude que eu não percebia fazer
– até então – e que muito a incomodava. E foi quando eu vi isso nos olhos dela
e em seu semblante, que eu percebi um erro que eu vinha – e venho – cometendo
há anos.
Por isso eu precisava tanto falar com o mestre Issa, pois ele era o
único psicanalista com eu me sentia bem para conversar; e isso tem haver com um
defeito meu também, por ele ter comentado comigo certa vez, que esteve em uma
mesma conferencia em que estava Anna Freud, era como se o carinha que vive dentro
da minha cabeça, o tal Ego, se sentisse bem e dissesse: "Se o velho conheceu
a filha do Sig, tudo bem. Ele pode te aconselhar.".
E eu ouvi a voz distante do meu velho amigo dizer: "É um fardo
muito grande esse que você decidiu carregar Milton. Você não pode 'salvar'
todas as pessoas do mundo." – e eu senti na maneira como ele me falou isso,
que eu tinha um problema, grande.
Eu e minha amiga estávamos num barzinho, com outros amigos, quando
outra amiga em comum resolveu ir embora e no momento eu disse alguma coisa que agora
me foge a memória, mas essa amiga que eu não via há tempos, me olhou um olhar
gélido e reprovador e disse: "Ela sabe se cuidar! Ela não é criança!"
– e neste momento eu travei; sem reação, sem pensamentos, sem nada a dizer.
Minha outra amiga passou por mim, beijei sua mão e ela se foi.
Salva à todos. |
E ouvi o mestre do outro lado da linha dizer: "Você tem um senso
exagerado de responsabilidade; acredita que as pessoas não conseguem se virar
sozinhas e possuí essa necessidade constante de 'salvá-las'. Você precisa entender
que você não é o Super-Homem.".
Certeza? |
Então foi minha vez de ficar em silencio ao telefone, mas perguntei: "Como
assim?" – e o mestre me explicou – "Desde que eu te conheço, você tem
na cabeça, que tem Síndrome de Peter Pan, que as pessoas não associam
responsabilidade a sua imagem e que não lhe dão valor adequado por que você é
muito jovial. E na verdade você não tem síndrome nenhuma, o seu senso de
responsabilidade é que é exagerado e você quer fazer – se preocupa com – as
coisas em excesso." – e então fez uma pausa – "Fredric Wertham
publicou um trabalho controverso na década de 50, em que ele tentou retratar esse seu
exagero, mas eu nem vou lhe falar como ele batizou o diagnóstico, pois te
conhecendo, só vai piorar as coisas" – então ele tomou uma respiração
profunda e disse: "Sinto falta de poder lhe dizer isso de perto e poder te
dar uns cascudos.".
E já quase no final de nossa conversa o mestre me aconselhou: "Não
se cobre tanto, as pessoas não nutrem toda essa expectativa; permita que as
pessoas cuidem de si, você não pode ajudar todo mundo. Agora você sabe o que as
afastou de você; nenhuma delas precisava ser 'salva', elas nunca estiveram em 'perigo'
– não deixe mais que essa necessidade te cegue; busque o equilíbrio que você
tanto tem pregado aos que conversa.".
O mestre sabia que eu ia pesquisar a respeito de Fredric Wertham, que
mesmo ele não me contanto, ele já havia me encaminhado durante a conversa. Wertham
escreveu um livro criticando a influencia das 'revistas em quadrinhos' na
formação dos jovens; o que resultou na criação do 'Comic Code Authority', que
instituiu valores morais, éticos e filosóficos as revistas, com grande impacto
no selo 'DC Comics' que publica as histórias do Super-Homem, Batman, Mulher-Maravilha,
entre outros.
Algo que se reflete no diálogo do Coringa com o Homem-Morcego, quando
este o captura no filme – 'O Cavaleiro das Trevas':
Uma força que não pode ser detida |
"Coringa: Ora, seu…
Não podia me deixar cair, não é? É isto que acontece quando uma força que não
pode ser detida encontra um objeto que não pode ser movido… Você é realmente
incorruptível, não é? Você não vai me matar por um falso senso de moralismo
inapropriado e eu não vou matar você porque você é muito divertido. Acho que
você e eu estamos destinados a fazer isto para sempre.".
Fortaleza da Solidão |
Algumas coisas a gente só de dá conta tarde. Ainda bem que não é tarde
o bastante a ponto de eu ter que passar o resto dos meus dias na 'Fortaleza da
Solidão'. Ainda acho você Lois
=)
Lois Lane |
Toda Noite
poesia de Nótlim Jucks
Estou nas ruas de novo.
Tenho procurado algo que faça algum sentido,
mas não sei o que.
Já passou das dez
e estou do lado errado da cidade.
Passo mais algumas noites assim,
tentando me inocentar.
Não que eu esteja sendo acusado de algo,
mas se eu ficar apenas pensando coisas
vou acabar correndo para ela de novo
e cada estrada é um caminho para isso.
Não posso ficar correndo pra ela toda noite.
Não que eu me importe, mas...
não posso ficar correndo pra ela toda noite.
Princesa, por você eu correria,
mas não esta noite.
Talvez se eu conseguir um coração mais duro
e uma alma de aço,
talvez aí tenhamos alguma chance.
Mas toda vez que estamos juntos,
eu esqueço de ler as entrelinhas
e isso têm destruído tudo que sou.
Talvez fosse mais fácil
se você atirasse em mim.
Ainda assim preciso saber se você esta bem.
E me importo se você esta se sentido sozinha.
É... quem sabe mais algumas noites andando,
aí talvez a cidade possa me dar
aquilo que eu preciso para me inocentar.
Não que eu esteja sendo acusado de algo,
mas se eu ficar apenas pensando coisas
vou acabar correndo para ela de novo
e cada estrada é um caminho para isso.
Não posso ficar correndo pra ela toda noite.
Não que eu me importe, mas...
não posso ficar correndo pra ela toda noite.
Gostaria de fechar meus olhos
e me sentir a salvo, pelo menos uma noite.
Não posso ficar correndo pra ela toda noite.
Não que eu me importe, mas...
não posso ficar correndo pra ela toda noite.
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O que acontece quando uma força que não pode ser detida
encontra um objeto que não pode ser movido?
(perguntou a Esfinge)
Eles se rendem.
(respondeu o Super-Homem e
assim libertou Lois)
Olá carissimo fico feliz que tenhas falo com o teu mestre e dividir a sua experiencia, que aprecio muito e guardo um pouco junto a mim (muitas vezes nas nossas vidas um Mestre faz falta).
ResponderExcluirUm abraço em sua alma.