domingo, 18 de março de 2012

Uma Força Imparável

O que acontece quando uma força que não pode ser detida
encontra um objeto que não pode ser movido?
(perguntou a Esfinge)
Esfinge Noir, de Susan Seddon-Boulet
Oito meses; foi este o tempo que o velho Talmur me deixou sem noticias. O mais incrível é ele me ligar em um momento que eu desejava imensamente conversar com ele. O velho mestre completou 96 anos na última terça-feira, 13 de Março; e deu pra perceber pela fala ofegante, que a idade está lhe pesando, felizmente não sobre sua cabeça, que continua demonstrando a genialidade que me cativou.

"Boa noite, sonhador!" – disse a voz distante.

"Talmur?" – Balbuciei incrédulo.

"Ah garoto, não é assim que eu esperava ser cumprimentado." – retorquiu o mestre em meio a uma respiração prolongada.

"Mestre Issa!? O senhor tá vivo?" – indaguei estupidamente e senti o silêncio percorrer toda linha telefônica, do Brasil a Alemanha – "Mestre?"

"Por enquanto eu estou vivo, mas acho que você já estava me considerando como uma alma penada" – respondeu meu mestre, depois de alguns segundos.

Ao final da ligação – pouco mais de uma hora e meia de conversa, quase duas, depois – eu dei graças a Deus por ter sido ele quem ligou, e não eu. O velho Talmur já viajou o mundo, mora em Colônia na Alemanha, tem uma aposentadoria gratificante – apesar dos gastos atuais com a saúde (eita, que minha mente está gerando peso na minha consciência) – ele pode bancar essas ligações sem dor no bolso.

Eu precisava muito conversar com alguém, mas não podia ser simplesmente um amigo, ou meus pais, eu precisava de alguém que mexesse com meus 'miólos' (você se lembra do filme: "A Volta dos Mortos Vivos"? ... :-S eu e minhas paráfrases nada haver, continuemos...) , eu precisava do mestre Issa – e eis que como o mestre dos magos, o velho Talmur me liga lá da Alemanha. Desculpem-me pelas correlações, mas eu fiquei muito feliz com ligação do meu velho amigo. E é engraçado isso, porque há umas publicações atrás, a Francy's Oliva que mantém o Blog – superbacana – 'Estação Zero', havia deixado um comentário perguntando do meu velho mestre [http://estacaozero.wordpress.com/].

A conversa com o mestre Issa foi um reviver, um reencontrar. Eu Precisava entender um problema que eu tinha detectado em mim; se era real, ou se era só algo da minha imaginação e que eu não devia dar importância.

Há algumas semanas eu havia encontrado uma amiga de longa data, que não via há muito tempo. O encontro foi fabuloso, conversamos como se nunca tivéssemos nos distanciado; bebemos e petiscamos, rimos muito e nos lembramos de momentos bons (alguns ruins também). Mas em uma fala dela, eu percebi porque nós havíamos nos distanciado. Eu a afastava de mim, com uma atitude que eu não percebia fazer – até então – e que muito a incomodava. E foi quando eu vi isso nos olhos dela e em seu semblante, que eu percebi um erro que eu vinha – e venho – cometendo há anos.

Por isso eu precisava tanto falar com o mestre Issa, pois ele era o único psicanalista com eu me sentia bem para conversar; e isso tem haver com um defeito meu também, por ele ter comentado comigo certa vez, que esteve em uma mesma conferencia em que estava Anna Freud, era como se o carinha que vive dentro da minha cabeça, o tal Ego, se sentisse bem e dissesse: "Se o velho conheceu a filha do Sig, tudo bem. Ele pode te aconselhar.".

E eu ouvi a voz distante do meu velho amigo dizer: "É um fardo muito grande esse que você decidiu carregar Milton. Você não pode 'salvar' todas as pessoas do mundo." – e eu senti na maneira como ele me falou isso, que eu tinha um problema, grande.

Eu e minha amiga estávamos num barzinho, com outros amigos, quando outra amiga em comum resolveu ir embora e no momento eu disse alguma coisa que agora me foge a memória, mas essa amiga que eu não via há tempos, me olhou um olhar gélido e reprovador e disse: "Ela sabe se cuidar! Ela não é criança!" – e neste momento eu travei; sem reação, sem pensamentos, sem nada a dizer. Minha outra amiga passou por mim, beijei sua mão e ela se foi.
Salva à todos.
E ouvi o mestre do outro lado da linha dizer: "Você tem um senso exagerado de responsabilidade; acredita que as pessoas não conseguem se virar sozinhas e possuí essa necessidade constante de 'salvá-las'. Você precisa entender que você não é o Super-Homem.".
Certeza?
Então foi minha vez de ficar em silencio ao telefone, mas perguntei: "Como assim?" – e o mestre me explicou – "Desde que eu te conheço, você tem na cabeça, que tem Síndrome de Peter Pan, que as pessoas não associam responsabilidade a sua imagem e que não lhe dão valor adequado por que você é muito jovial. E na verdade você não tem síndrome nenhuma, o seu senso de responsabilidade é que é exagerado e você quer fazer – se preocupa com – as coisas em excesso." – e então fez uma pausa – "Fredric Wertham publicou um trabalho controverso na década de 50, em que ele tentou retratar esse seu exagero, mas eu nem vou lhe falar como ele batizou o diagnóstico, pois te conhecendo, só vai piorar as coisas" – então ele tomou uma respiração profunda e disse: "Sinto falta de poder lhe dizer isso de perto e poder te dar uns cascudos.".

E já quase no final de nossa conversa o mestre me aconselhou: "Não se cobre tanto, as pessoas não nutrem toda essa expectativa; permita que as pessoas cuidem de si, você não pode ajudar todo mundo. Agora você sabe o que as afastou de você; nenhuma delas precisava ser 'salva', elas nunca estiveram em 'perigo' – não deixe mais que essa necessidade te cegue; busque o equilíbrio que você tanto tem pregado aos que conversa.".

O mestre sabia que eu ia pesquisar a respeito de Fredric Wertham, que mesmo ele não me contanto, ele já havia me encaminhado durante a conversa. Wertham escreveu um livro criticando a influencia das 'revistas em quadrinhos' na formação dos jovens; o que resultou na criação do 'Comic Code Authority', que instituiu valores morais, éticos e filosóficos as revistas, com grande impacto no selo 'DC Comics' que publica as histórias do Super-Homem, Batman, Mulher-Maravilha, entre outros.

Algo que se reflete no diálogo do Coringa com o Homem-Morcego, quando este o captura no filme – 'O Cavaleiro das Trevas':
Uma força que não pode ser detida
"Coringa: Ora, seu… Não podia me deixar cair, não é? É isto que acontece quando uma força que não pode ser detida encontra um objeto que não pode ser movido… Você é realmente incorruptível, não é? Você não vai me matar por um falso senso de moralismo inapropriado e eu não vou matar você porque você é muito divertido. Acho que você e eu estamos destinados a fazer isto para sempre.".
Fortaleza da Solidão
Algumas coisas a gente só de dá conta tarde. Ainda bem que não é tarde o bastante a ponto de eu ter que passar o resto dos meus dias na 'Fortaleza da Solidão'. Ainda acho você Lois =)
Lois Lane
Toda Noite
poesia de Nótlim Jucks

Estou nas ruas de novo.
Tenho procurado algo que faça algum sentido,
mas não sei o que.
Já passou das dez
e estou do lado errado da cidade.
Passo mais algumas noites assim,
tentando me inocentar.
Não que eu esteja sendo acusado de algo,
mas se eu ficar apenas pensando coisas
vou acabar correndo para ela de novo
e cada estrada é um caminho para isso.
Não posso ficar correndo pra ela toda noite.
Não que eu me importe, mas...
não posso ficar correndo pra ela toda noite.
Princesa, por você eu correria,
mas não esta noite.
Talvez se eu conseguir um coração mais duro
e uma alma de aço,
talvez aí tenhamos alguma chance.
Mas toda vez que estamos juntos,
eu esqueço de ler as entrelinhas
e isso têm destruído tudo que sou.
Talvez fosse mais fácil
se você atirasse em mim.
Ainda assim preciso saber se você esta bem.
E me importo se você esta se sentido sozinha.
É... quem sabe mais algumas noites andando,
aí talvez a cidade possa me dar
aquilo que eu preciso para me inocentar.
Não que eu esteja sendo acusado de algo,
mas se eu ficar apenas pensando coisas
vou acabar correndo para ela de novo
e cada estrada é um caminho para isso.
Não posso ficar correndo pra ela toda noite.
Não que eu me importe, mas...
não posso ficar correndo pra ela toda noite.
Gostaria de fechar meus olhos
e me sentir a salvo, pelo menos uma noite.
Não posso ficar correndo pra ela toda noite.
Não que eu me importe, mas...
não posso ficar correndo pra ela toda noite.
--
O que acontece quando uma força que não pode ser detida
encontra um objeto que não pode ser movido?
(perguntou a Esfinge)

Eles se rendem.
(respondeu o Super-Homem e
assim libertou Lois)

domingo, 4 de março de 2012

Minha Amada Imortal

Por algum motivo você acredita
que eu guardo alguma mágoa de você. 
Mas se estas lágrimas que teimam 
em encher meus olhos, são mágoa; 
certamente estou muito longe 
de saber o que é o amor.
Anônimo
Sonata Kreutzer, pintura de René François Xavier
Originalmente prepararei uma publicação a respeito de Albert Einstein, que deveria ter sido publicada no fim do mês passado, mas como o fim do mês passado, foi semana passada, eu a havia deixado para publicar hoje; porém, hoje acordei com vontade de publicar outra coisa.

Não sei por que, sonhei com o filme 'Minha Amada Imortal', que biografa a vida de Ludwig van Beethoven de maneira extraordinária, com uma interpretação magistral de Gary Oldman e participação especial da bela Valeria Golino.

Fiquei por algumas horas imaginando como transcrever a sensação que me arrebatou pela manhã, quando me lembrei da cena em que Beethoven narra a Anton Schindler o que o levou a compor sua Sonata nº9. O interessante de lembrar estas coisas, é que geralmente colocamos as imagens na ordem que melhor nos parece. Beethoven narra sua inspiração a Schindler em um momento do filme e o clímax musical acontece em outro, mas o registro em minha mente foi único [...] 'Um homem está tentando chegar à sua amada. Sua carruagem quebra sob muita chuva. As rodas ficam presas na lama. Ele luta. Ela não vai esperar mais. E este, este é o ruído de sua agitação' [...]


"E assim acontece..." é o que diz a música "Não como você está habituado... não como costuma pensar... mas assim é".

A Sonata para violino nº9, comumente conhecida como a Sonata Kreutzer, é uma sonata de violino que Beethoven publicou como seu Opus 47. É conhecida por sua parte de violino exigente, com comprimento incomum e alcance emocional - enquanto o primeiro movimento é predominantemente furioso, o segundo é meditativo e o terceiro é alegre e exuberante. (fonte: Wikipédia)

Optei por um video que contém apenas a execução de dois movimentos por Moiseiwitsch & Heifetz, devido ser a melhor execução do primeiro movimento - que encontrei - que casa com explicação dada por Beethoven; há no Youtube uma execução fabulosa de Anne-Sophie Mutter. [http://youtu.be/COGcCBJAC6I]

Durante essa semana volto com a publicação sobre Einstein e espero ter mais alguma novidade a contar. Encerro esta breve publicação, com a carta de um homem à sua amada:
Minha Amada Imortal
poesia de Ludwig van Beethoven

A jornada foi terrível .
Só cheguei aqui às quatro da manhã.
Avisaram para não viajar à noite 
por causa da floresta...
por causa da floresta...
A carruagem quebrou numa estrada horrível...
só uma estrada no campo. E estou completamente retido.

Mas achei uma outra, 
e logo estaremos juntos. 
Hoje, espero.
Tenho de te ver.
Por mais que me ames, 
eu te amo muito mais.
Nunca te escondas de mim.

Embora ainda no leito, meus pensamentos são para ti...
Minha Amada Imortal.
Alguns alegres, outros tristes...
aguardando para ver se o destino vai nos ouvir.
Só posso viver plenamente contigo, ou não viver.
Sim, é como deve ser.
Agora tenho de dormir.

Tenha calma, amor...
hoje, ontem... anseio até às lágrimas por ti.
Tu... és a minha vida... meu tudo.
Então, adeus.
Continua a me amar.
Sempre teu, sempre minha...
Para sempre.
--
Sonata ao Luar
Acrescento ao post, a "Sonata ao Luar", por ser de uma profundidade exuberante, com a interpretação que me fez citar Gary Oldman e Valeria Golino - sinta a música: