terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A Capa Lavada

Você não é qualquer um.
E algum dia terá que fazer uma escolha.
Terá que decidir que tipo de Homem será quando crescer.
Seja quem for, de caráter bom ou ruim.
Você vai mudar o mundo, 
pois nunca houve, 
nem haverá alguém igual a você.
Jonathan Kent
Você
Dentre os muitos projetos que já foram iniciados aqui no Mirtu's Blog, havia um em particular que me dava prazer, pois era sobre as aventuras de um menino que em muito poderia ser comparado ao Menino Maluquinho do multitalentoso Ziraldo.

No final de 2009 eu havia me colocado uma meta pessoal, de manter três séries regulares de contos: "As aventuras de Nótlim Jucks" – o meu menino maluquinho, ou o menino pirata perdido (Billy Jukes) como o batizei na 2ª publicação do Blog, "Os amores de Jim Russovi" – uma série cômica que trazia as aventuras de um Don Juan moderno, cujo nome era uma junção antroponímica de Jim Morrison, Renato Russo e Jon Bon Jovi, e por fim a série metafísica "Os ensinamentos do mestre Issa"; contudo várias coisas contribuíram para que as séries não fossem adiante.

Apesar de os ensinamentos do mestre Issa não terem seguido como uma série de contos, foi algo que se tornou um projeto e trouxe um retorno mais pessoal para mim, do que para o Blog.
Metafísica
No inicio de 2010 publiquei um post intitulado "A primeira aventura", em que procurava abrir a publicação com certo estilo: É com imenso prazer que publico hoje o primeiro episódio de "As aventuras de Nótlim Jucks". Um pequeno conto que narra uma célebre peripécia do sonhador poeta, que desde pequeno sempre esteve às voltas com o mundo da imaginação, ou talvez desde que esteve em tal mundo, nunca mais voltou.

Abordo este post antigo, pois sua temática sempre foi um dos maiores sonhos de um menino; o menino que redige essas linhas. E que na última semana, quando foi ao cinema, teve o sonho reavivado e os olhos cintilados. O filme era "Caça aos Gângsteres", mas o que buscou o menino perdido dentro do homem formado foi uma capa vermelha retirada de um varal.

Três anos após a publicação da primeira aventura, "A Capa Lavada", lá estava o trailer do filme "O Homem de Aço" e aquela sensação maravilhosa de sonhar acordado me preenchia por completo novamente.
Sonhando Acordado
Escrevi o conto "A Capa Lavada" no inicio do século XXI, idos anos 2000 – o que narrando assim, parece há muito tempo – contudo eu o perdi; não sei se em algum caderno que usava para escrever poesias e contos, ou em algum arquivo de computador que se perdeu pelo infoespaço, ou como definiria Tadeu Cruz, perdeu-se em meio à 'A Desorganização Informacional'. O certo é que em 2010, tentei reescrevê-lo a partir do que havia em minha mente e tentei enriquecê-lo com referências da minha infância; o pavor que sentia do filme "O Exorcista" e que me seguiu por muitos anos, a paixão indefinível de um menino de 9 anos pela atriz Lúcia Veríssimo – com algum exagero de escrita  – e a frustração infantil de o Super-Homem não parecer consigo.

O conto em si é mais infantil, remetendo a uma idade que não sei ao certo, mas que sei que desde que o pequeno sonhador se considerou gente, com fala e dentes na boca, sempre foi fascinado pelo homem que podia voar, levantar carros e era apaixonado pela extraordinária Lois. Sendo assim, republico o conto "A Capa Lavada", mais para satisfazer meus sonhos despertos, do que por outro motivo; mas ainda assim espero que gostem.
A Capa Lavada
Ele marcou no relógio; faltava uma volta completa do ponteiro pequeno até ser Sábado de manhã. Depois de cinco dias combatendo o mal, ele precisou deixar sua capa para lavar, ou melhor, sua mãe tomou-lhe a capa na sexta, com a promessa de devolvê-la de manhã, limpinha.

A noite foi longa e ele sentiu que por pouco não descobriram seu ponto fraco. A menina de cabeça invertida que de vez em quando aparecia debaixo de sua cama, desta vez não deu sinal de vida - ou seria de morte? – pensou. Ele só sabia que teve de dormir com a luz acesa, pois não estava invulnerável como nas outras noites.

Quando acordou no meio da noite e percebeu que tinham apagado a luz, ele ficou consternado, pois se seus pais estavam dormindo, quem poderia ter apagado a luz. De bate pronto ele se levantou e correu até o compartimento secreto, que ficava em baixo da revista em quadrinhos do 'Capitão América' - que ninguém podia tocar - e pegou a revista da grande moça nua que o protegia nas noites escuras. Afinal de contas uma moça com seios tão grandes e nua, só podia ser uma super-heroína muito poderosa.
Apagaram a Luz
Quando voltou pra cama e colocou sua super-heroína embaixo do travesseiro, pensou em porque guardava uma única revista do 'Capitão América'; então se lembrou: "É o único super-herói loiro que conheço." – então se deitou mais confortável, afinal estava protegido e se alguém lhe perguntasse segunda-feira na escola, ele poderia dizer que durante as aventuras ele seria o 'Capitão América' e assim também, ninguém descobriria sua identidade secreta.

Sábado mais cedo que de costume ele se levantou, tomou rapidamente seu leite e um composto que ficava numa garrafa que dizia algo como: "Biotônico" – certamente o Dr. Botânico havia controlado a mente de sua mãe para que ela lhe desse aquele composto. Intrigado, ele decidiu que depois investigaria, pois havia algo mais importante a fazer; e afinal de contas ele já tinha as pistas necessárias; um composto chamado "Biotônico" só podia ser coisa do Dr. Botânico, a rima era clara.

Mais rápido que um raio, ele correu até o quintal.  E lá estava ela. Tremulando ao vento, brilhando aos primeiros raios do sol matutino.

Ele se sentiu aliviado. Correu até onde estava sua capa vermelha, mas percebeu que ela estava ligeiramente mais alta que ele; exatamente quase um "ele" a mais. Então, com sua super-visão ele olhou ao redor, porém não encontrou nada que pudesse ajudá-lo na difícil empreitada de pegar sua capa.

Foi quando viu o banquinho branco, aquele que não podia ser pisado. Olhou mais uma vez ao redor e não havia sinal de perigo, sua mãe estava cuidando do jardim. Assim, ele sorrateiramente foi até o banquinho branco e o pegou, correu ligeiramente - em silêncio - para baixo do varal e ao que ele subiu no banquinho sua mão pode tocar a maravilhosa capa vermelha que fazia seus olhos brilharem e seu sorriso se abrir. Num único e preciso puxão ele fez o prendedor pular. Com a capa em mãos e uma destreza sem igual, ele fez um rodopio longo e demorado sobre a cabeça, terminando no pescoço com o laço rápido que seu avô havia lhe ensinado fazer.
A Capa
Ele estava pronto. Invulnerável novamente. Invencível. Pronto para enfrentar o Dr. Botânico e a menina de cabeça invertida. Houve então um pequeno momento de silêncio; sua super-audição havia captado um grito de socorro. Lois! Ela estava em perigo. Ele precisava salvá-la!

Ele olhou rapidamente para o quintal, para longa escada que findava a garagem, e tomou uma decisão: "Preciso de um impulso!" – correu até o começo da garagem, olhou o fundo do quintal e partiu em disparada com a certeza de que precisava de sua super-velocidade para pegar um bom impulso. Ao atingir o primeiro degrau no topo da escapa ele estendeu um braço, colando o outro de punho cerrado junto ao corpo e voou. Por incríveis dois segundos ele voou; voou de testa no chão libertando seu temível super-grito, o que fez sua mãe correr mais rápido que o Flash.

Algumas horas e pomadas para contusões – na testa – depois, ele conseguiu diagnosticar o que havia dado errado: "Mamãe, preciso aprender a pousar!" – e sua mãe quase precisou ser socorrida pelo pai.

---
Bia, obrigado por estar comigo e não se importar de muitas vezes eu ser apenas um menino crescido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário