domingo, 24 de janeiro de 2016

Agora, com uma graça feroz

Não se trata de ausência de ação. 
Trata-se de agir a partir de um lugar interior tranquilo. 
Ram Dass
Agir a partir do interior
Hoje o Mirtu's Blog traz uma publicação sobre um personagem no mínimo interessante, Ram Dass

Tom Butler-Bowdon o lista entre 50 mestres fascinantes de mudança interior e espiritualidade ao analisar a viagem de autodescoberta de Dass no livro, Be Here Now ("Esteja aqui, agora" - http://beherenow.dc7.us/index.htm). E o documentário biográfico: 'Ram Dass, Graça Feroz' (https://archive.org/details/Graca.Feroz) – faz um retrato humano de um homem espiritualizado, que após sofrer um AVC tenta trilhar uma nova viagem, convidando todos a juntar-se a ele.

"Esteja aqui, agora" é uma obra clássica da espiritualidade hippie, mas pode estar na posição de uma das obras excepcionais de transformação espiritual escritas em qualquer era. A jornada de Dass de acadêmico de Harvard – de seu abandono de uma vida antiga, e em parte sem sentido – a guru, é contada belamente.
Ram Dass
O início da viagem

O jovem professor de psicologia, Dr. Richard Alpert, estava bem financeiramente. Em 1961, ele tinha entrevistas em quatro departamentos da Universidade de Harvard e contratos de pesquisa em Stanford e Yale. Com o status e o dinheiro que vieram com esses cargos, tinha pouco do que reclamar.
Dr. Richard Alpert
Mas ele sentia que faltava alguma coisa em seu mundo, ainda que não pudesse dizer exatamente o que era. As teorias de realização, motivação e ansiedade que ele ensinava aos estudantes pareciam ser nada mais que a superfície dos mistérios da vida; eles e seus contemporâneos tinham estudado tudo que havia para conhecer a respeito da mente humana, mas tinham pouco domínio da condição humana. Suas vidas careciam de integridade e realização, e Alpert mesmo tinha poucos resultados a mostrar dos cinco anos que ele passou em psicanalise. Suas anotações de aula, ele dizia, eram "as ideias de outros homens, apresentadas com sutileza", e sua pesquisa não estava realmente avançando por novas fronteiras. Todos ao redor dele eram muito espertos, mas havia pouca sabedoria: "eu podia sentar em uma banca de doutorado, fazer uma pergunta muito sofisticada e parecer excepcionalmente sábio. Era forçar demais".
Carência de ser
Novo mundos

As rachaduras da vida de Alpert começaram a aumentar quando o legendário Timothy Leary (então um psicólogo de Harvard, depois um profeta da contracultura da década de 1960) tornou-se seu colega e parceiro de bebedeiras. Leary descobriu o teonanacatyl, ou cogumelos alucinógenos, no México, e Alpert ficou espantado com seu comentário de que consumi-los o ensinara mais que todos os seus anos como psicólogo. Depois, Leary e Aldous Huxley (então um professor-visitante no Instituto de Tecnologia de Massachusetts) adquiriram uma forma sintética do cogumelo alucinógeno chamado psilocibina, que Alpert foi convidado a experimentar.
Timothy Leary
A droga causou visões em que Alpert podia ver sua vida como professor badalado com alguma objetividade. Ele vivenciou a presença de um self atrás da fachada do seu conhecimento, o Eu da sabedoria e da consciência atemporal. Isso era exatamente o que ele estava procurando.

O grupo prosseguiu pesquisando estados alterados, testando a droga em outras pessoas, mas também, frequentemente, usando-a eles mesmos. Eles perceberam que era inútil permanecer racional sobre uma abertura da consciência que estava mudando o modo com que eles viam o mundo, porque não havia nada, simplesmente, na psicologia acadêmica que podia explicar as suas experiências. 
Uma vida um pouco falsa e limitada
Alpert escreve sobre a sensação de que tudo ao seu redor era vivenciado como indiferenciado, um padrão de energia que vibrava, essencialmente luz, e não os objetos que percebemos normalmente. Em tais estados, ele podia ver sua vida de professor como um pouco falsa e limitada, e "caiu" em arrependimento. Quanto mais tomava as drogas psicodélicas, mais irritado ficava por ter de voltar desses mundos astrais maravilhosos para a realidade mundana.
Mundos astrais maravilhosos
Apert, Leary e seus companheiros deviam parecer muito estranhos para seus colegas, e eles começaram a ser marginalizados. Tudo culminou quando tiraram de Alpert seus cargos acadêmicos, começando um período selvagem em que ele não mais se sentia associado à academia e não podia achar uma maneira de manter os estados de consciência que vivenciara.
Apert e Leary perdem seus cargos na universidade
Sem volta

Quando um rico conhecido convidou Alpert para ir numa jornada à Índia, ele agarrou a oportunidade. A ideia era viajar num Land Rover e procurar homens santos, mas quando isso foi combinado com fumar haxixe e LSD, Alpert sentiu-se cada vez mais deprimido. Ele estava procurando por uma pessoa que "conhecia" – que sabia segredos da vida interna, e não era afetado pelos problemas das pessoas normais – mas, se tornou não mais que um turista espiritual, como milhares de outros.
Apenas mais um turista espiritual?
Há um ditado: "quando o estudante estiver pronto, o professor aparecerá". No final da sua lucidez, Alpert estava sentado num café hippie no norte da Índia, quando entrou um ocidental alto, de cabelos e barbas longas. Alpert sentiu instantaneamente que esse homem, chamado Bhagwan Dass e considerado pelos locais como um guru, "sabia". Ele veio por centenas de quilômetros só para ter um jovem californiano como seu aluno!
Bhagwan Dass, o viajante espiritual
Seguindo-o pelo país, aprendendo canções sagradas e mantras, nenhum deles com dinheiro algum, Alpert veio a entender o que significava realmente viver no presente, afastar-se da ideia de que os eventos da nossa vida são tão importantes. Quando perguntou a Bhagwan Dass por quanto tempo ele achava que continuariam a viajar por aí, ele respondeu: "Não pense sobre o futuro. Esteja aqui mesmo, agora".
Quanto mais silencioso você se torna,
mais você pode ouvir [Ram Dass]
Então em uma dessas viagens Bhagwan Dass levou Alpert até Maharaj-Ji que estava sentado com todos seus devotos. E como é a tradição indiana, Bhagwan Dass prostrou-se em pranam diante do homem santo, mas Alpert hesitou um pouco. E assim ele comentou seu 1º encontro com o homem que viria a ser seu guru: "Bhagwan Dass deitou-se sobre a sua barriga, no chão, tocando os pés do guru. E eu era um professor de Harvard! Não ia mexer nos pés de alguém – então Maharaj-Ji, disse-me: Vem, vem... senta-te! E começou a dizer tudo o que tínhamos andado fazendo ultimamente com nossas vidas... e esse foi o serenar do meu espírito".
Maharaj-Ji, o guru
Da personalidade à consciência

Enquanto Richard Alpert se transformava em Ram Dass (nome que significa "servo de Deus"), que revelações ele teve? Talvez não surpreendentemente, ele percebeu a natureza da identidade do self. Quem somos se altera, de momento a momento, ele observou. Há muitos de "você" e cada um é um sinal de sua identificação com um pensamento ou um desejo particular. Nossos pensamentos tornam-se nossa personalidade, e nós identificamos nossa personalidade, a qualquer momento, com quem somos. Mas quanto mais somos capazes de ver esses diferentes selves afastadamente, na consciência, provavelmente eles parecem ser ilusórios.
Você está de pé em uma ponte observando você mesmo
Além da racionalidade

Dass observou que a mente racional – que pensa – trabalha por meio da separação do mundo em objetos; isto é, aquele que sabe é separado do que é sabido. Enquanto muitas das conquistas da civilização não poderiam ter ocorrido sem esse nível de pensamento, ele tem limitações. Enstein, por exemplo, notoriamente disse que não se pode resolver os problemas de hoje usando o mesmo tipo de pensamento que os criou. Dass notou que a mente racional encontra dificuldade em lidar com informações paradoxais ou ilógicas, e que as notícias de grandes saltos no conhecimento do universo usualmente mencionam que houve algum lampejo de intuição, ou imagem da verdade, que conduziu à descoberta, e não um estado mental analítico. Einstein admitiu: "Eu não cheguei ao meu entendimento das leis fundamentais do universo por meio da minha mente racional".
Nenhum problema pode ser resolvido
pelo mesmo estado de consciência que o criou
Tendo vivido a maior parte da sua vida numa cultura que reverenciava a mente racional, Ram Dass foi libertado pela ideia de que não somos simplesmente a soma de nossos pensamentos. Com esse conhecimento, não era mais possível para ele continuar a estudar a consciência como um observador objetivo e científico; ao contrário, ele agora estava apto a olhar para a ciência e a psicologia como construídas dentro da maior consciência que ele estava começando a vivenciar.
Vivenciando uma maior consciência
O fim daquela viagem

Cópias antigas do livro, da década de 1970, são um pedaço de história social. Impressos pela Fundação Hanuman, do próprio Dass, não há numeração das páginas até o segundo terço do livro, e muito do texto está em tinta azul ou marrom. Enquanto a primeira seção é uma narração relativamente simples da vida de Alpert, escrita numa perspectiva ocidental, cronológica, a seção central é a voz de um aprendiz que descobriu verdades espirituais e quer conta-las ao mundo. Dispostas num estilo central com mantras e citações, e com ilustrações selvagens e muitas vezes bonitas, o livro pode ser moderno demais para alguns leitores, mas não desanime pelo uso frequente de palavras como "amor" e "guru", e desenhos de divindades hindus. Isto é, de fato, elemento central do livro, e, se você estiver com o estado certo de consciência, ele pode leva-lo através de uma "viagem" poderosa. 
Confie e deixe-se ir
A parte final de Be Here Now, "Livro de receitas para uma vida sagrada", representa o amadurecimento dos experimentos de Dass com sadhana, ou prática espiritual, e segue através de todo meio possível de revelação, de meditação a jejuns. Ao discutir os altos e baixos do sadhana, Dass nota que, depois de uma revelação, você pode se sentir desesperado a voltar ao que você sente ser seu antigo eu – um caso de um passo para frente, dois para trás. Mas conforme você se torna mais leve espiritualmente, sua maior pureza trará aspectos mais "sujos" à superfície. 
Você mais leve espiritualmente
A maioria das pessoas no caminho espiritual começa por dar certa quantidade de tempo ou energia a assuntos espirituais, mas então percebe que toda a vida é uma questão espiritual e não há nada que não seja. A outra conclusão de Dass é evitar levar-se a sério demais: conforme você se eleva na cadeia alimentar da consciência, o tamanho verdadeiro do seu ego é revelado, e você têm de ser capaz de rir das suas próprias vaidades.
Ram Dass, ainda aqui

Ajuda-nos
poesia de John Robbins

Deus... Santo Espírito... ajuda-nos;

Ajuda-nos a ficar unidos ao nosso coração
e unidos uns aos outros.
Ajuda-nos a servir o espírito da bondade
em tudo o que nos depararmos.
Ajuda-nos principalmente a reconhecer nosso vínculo
com aqueles que se julgam nossos inimigos.
Ajuda-nos a encontrar valor em nosso vínculo
com aqueles que poderíamos julgar inimigos nossos.
Ajuda-nos a restaurar o amor sobre esta Terra.
Possamos todos ser alimentados.
Possamos todos ser curados.
Possamos todos ser amados.

"Possamos reconhecer o Espírito
em cada um de nós e o Espírito
em todos nós"
Ram Dass
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Ram Dass, Graça Feroz
https://archive.org/details/Graca.Feroz
Um Feixe de Luz
http://jrmilton.blogspot.com.br/2012/04/um-feixe-de-luz.html
Agora! O poder do Presente
http://jrmilton.blogspot.com.br/2015/03/agora-o-poder-do-presente.html
Quociente Espiritual
http://jrmilton.blogspot.com.br/2015/02/quociente-espiritual.html
Tao
http://jrmilton.blogspot.com.br/2015/05/tao.html
Mundos Internos Mundos Externos - 1ª Parte: Akasha
https://archive.org/details/Akasha
Mundos Internos Mundos Externos - 2ª Parte: A Espiral
https://archive.org/details/A.Espiral
Mundos Internos Mundos Externos - 3ª Parte: A Serpente e a Lótus
https://archive.org/details/Serpente.Lotus
Mundos Internos Mundos Externos - 4ª Parte: Além do Pensamento
https://archive.org/details/Alem.do.Pensamento

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