terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A Cigana

Depois de uma ausência grande quero agradecer ao pessoal que segue o Mirtu's Blog, o pessoal que tem me encontrado e comentado que acessou o blog e curtiu as publicações, achou diferente e tudo mais. Quero dizer que a vontade de publicar os contos, poemas e material alternativo é muito grande, mas de vez em quando a gente esbarra em alguns contratempos. Neste carnaval, eu e meus pais nos mudamos, então foi um perrengue danado. Quem me conhece há mais tempo já percebeu que minha a família é meio cigana, então estamos sempre em movimento, por uma razão ou outra =)

Além disso, ocorreu um fato estranho com meu telefone celular no Sábado de carnaval, mas isso é história para uma publicação especial, num outro dia, assim como o lance de meu celular certa vez ter sido abduzido de dentro da minha casa; coisas que qualquer hora dessas serão contadas aqui no Mirtu's Blog.

Dando seguimento ao planejamento para o Mirtu's Blog 2010 (apesar do atraso no cronograma – mas isso já caiu no habitual, afinal tá pra ser feito um cronograma que não atrase) hoje ocorre à publicação do 2º episódio de "As aventuras de Nótlim Jucks"A Cigana; espero que todos apreciem. As aventuras de Jucks não serão apresentadas em uma ordem cronológica, o que seria muito formal, então podemos imaginar os contos sendo montados como o filme Pulp Fiction, ou Amnésia, salvo as devidas proporções =) Um abração e vamos ao conto:

Há alguns anos Jucks passou pelo termino de um relacionamento muito importante em sua vida, algo que ele acreditava não fosse acontecer. Perdido em seus pensamentos e com as emoções a flor da pele, ele se entregou a alguns sentimentos que não devem prevalecer sobre a vida das pessoas: frustração, raiva, medo, etc.

Na tentativa de se encontrar ele oscilou entre uma entrega total a vida esportiva e a busca de uma identidade coletiva, se evolvendo com diversos movimentos culturais, de góticos a neo hippies. Esse momento de desencontro pessoal o afastou de suas crenças naturais e o fez mergulhar em universo oculto, em que não devia se acreditar em nada e ao mesmo tempo devia se acreditar em tudo. Assim um dia ele estava lendo o jornal e encontrou um anuncio: "Cigana Clara Luz - Trabalho espiritual para cura de amor, bênçãos fortes, ..." e outros trabalhos que não cabem comentar. Intrigado com a oferta da Cigana, Jucks decidiu entrar em contato e marcar uma "consulta espiritual".

No dia e hora marcada Jucks foi até o "consultório" da Cigana. Um local muito arrumado e elegante, que lhe lembrou muito o consultório de sua dentista, não fosse pelos quadros com imagens que lembravam os desenhos de John Howe. Nisso uma adorável mocinha o recebeu e pediu que aguardasse até que fosse sua vez, o que ele estranhou um pouco, pois só havia ele na "sala de espera". Curioso como só, continuou a observar a sala e seus ornamentos peculiares e imaginar se aqueles castiçais tinham vindo do castelo Hogwarts.

Cinco minutos depois de ter falado com Jucks a mocinha voltou para chamá-lo e desta vez ele pode reparar no tom de voz dela que aparentava timidez: "Madame Clara o aguarda!" – e abriu a porta dupla da sala conduzindo Jucks por um corredor com muitos outros quadros parecidos com os da sala.

Ao chegar à sala da "consulta" ele pode avistar algumas velas exóticas colocadas ao fundo e uma mesa que ficava no centro da sala. Sentada a mesa havia uma mulher lindíssima, com uma vestimenta colorida e um lenço sobre a cabeça, arrumado de uma forma que realçava os olhos negros da mulher, a qual fez sinal para que Jucks se sentasse.

Ao caminhar da porta até a mesa de "leitura", Nótlim Jucks foi imaginando o que estava errado naquela cena, pois a mulher não possuía uma verruga no nariz como ele havia imaginado e também não estava suja como uma daquelas ciganas que costumavam parar-lhe na rua, muito pelo contrário ela era linda e exalava um perfume que penetrava suas narinas, deixando-o extasiado.

Ao se sentar a mesa ele já não se lembrava mais porque tinha ido até lá, mas Madame Clara o ajudou a se lembrar: "Então você é o Nótlim?" – perguntou a cigana com voz macia e calma, e Jucks apenas confirmou com a cabeça. "Você veio aqui para que eu lhe ajude a trazer uma pessoa que você ama de volta?" – perguntou ela e sua voz o fez lembrar uma barra de chocolate ao leite derretendo entre os dentes, de tão doce que lhe soou. Mas meio que num estalo ele respondeu: "Não. Vim aqui por causa da cura de amor!". Ela então juntou o baralho que estava aberto sobre a mesa e lhe disse: "Cura para o amor!" – embaralhou as cartas por três vezes e continuou – "Não há cura para o amor!" – e dizendo isso ela percebeu que Jucks se recostou na cadeira e deu uma larga inspirada no ar soltando-o devagarzinho, então rapidamente completou – "A única coisa que posso fazer por você nesse sentido é conjurar algumas orações poderosas solicitando ajuda aos Elementais, de forma que eles possam lhe ajudar a encontrar serenidade e paz de espírito!" – e sua voz transmitia tanta compaixão que Jucks se sentiu confortado.

Encantado com a presença de Madame Clara e um pouco decepcionado com o fato de não poder "curar seu amor" – afinal o que ele queria realmente era se livrar daquele vazio que permeava seu coração e tornava seus pensamentos tormentos frios e tristes – ele resolveu fazer um pedido: "Madame Clara, será que você pode ler a minha sorte?" – e seus olhos a fitaram como se o pedido fosse sua última esperança. Ela o olhou com ternura e disse: "Claro Nótlim, mas nada do que as cartas lhes disserem deve ser encarado como absoluto e imutável, o futuro é feito por você a cada escolha que você faz! O que as cartas lhe mostrarão será apenas uma possibilidade de futuro se você se mantiver como está!" – e ao dizer isso entregou o baralho a ele para que o cortasse três vezes.

Madame Clara fez a leitura do futuro de Nótlim Jucks, e ele ficou satisfeito com o que ouviu principalmente com a parte que dizia que aquilo que ele estava sentindo não ia durar, foi quando Madame Clara lhe "prescreveu a receita" para que os Elementais ouvissem as poderosas orações. Era necessário que Jucks comprasse quatro daquelas velas exóticas que tinha visto ao entrar na sala, uma para cada Elemental e que elas fossem acessas no litoral, onde a água se encontra com a terra e o ar alimenta o fogo. E assim ele fez, comprou quatro velas a R$ 250,00 cada, entregando praticamente todo seu 13º a Madame Clara, com a promessa de que ela acenderia as velas no litoral com o seguinte bilhete a ser consumido pelos Elementais: "Siga em paz e que o amor não lhe seja indiferente!" - foi o que Nótlim Jucks conseguiu escrever como despedida para aquele grande amor.

Meses depois Nótlim Jucks notou que seu coração não parecia mais vazio e seus pensamentos não eram mais tormentos frios e tristes. Então ele se lembrou das orações poderosas aos Elementais e as velas que havia comprado para eles, se lembrou também de como sua consciência o tinha castigado durante aqueles meses devido ao dinheiro que Madame Clara tinha conseguido dele, mas ao se olhar no espelho ele se sentiu: apaixonado novamente, criativo, entusiasmado, etc. – talvez aquilo não tivesse nada haver com os Elementais, mas ele sentiu em seu coração que tudo que ele tinha feito, havia sido feito com tanto carinho e desprendimento, que ele silenciosamente juntou as mãos e agradeceu a Deus por tudo que vivera até ali e seguiu em paz, com a certeza de que o amor nunca é indiferente.

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