domingo, 12 de abril de 2015

E Agora Brasil?

Diante das incertezas politicas e econômicas, a questão é saber se o copo está meio cheio, ou meio vazio. Riordan Roett
O Novo Brasil
No mundo, muitos ainda associam o Brasil somente ao futebol (e olha que levamos 7 da Alemanha), samba e a "Garota de Ipanema", mas Riordan Roett, professor da Universidade Johns Hopkins, onde lidera os programas de Estudos Latino-Americanos e Ocidentais, se dedicou a apresentar um Brasil diferente em seu livro "The New Brazil" (O Novo Brasil - do Atraso ao BRICS) – infelizmente sem tradução para o português. Publicado um pouco antes do resultado da eleição de Dilma Rousseff em 31 de Outubro de 2010, o livro de Roett termina com o segundo mandato do ex-presidente Lula e refaz o percurso histórico do nosso país desde a situação do Brasil como uma colônia portuguesa negligenciada, passando pela ditadura militar do século XX, até o seu papel como uma nação moderna e comercialmente influente.

O estilo acadêmico de Roett torna o livro um tanto denso, com detalhes exaustivos, mas é certo que se aprende muito sobre o Brasil. Então, sendo assim, passo o bastão da narrativa a Riordan Roett e presto atenção a sua visão exterior:

O Novo Brasil
Políticas internacionais
Apesar do seu caminho para a modernização não ter sido suave, o Brasil é agora um líder econômico e político mundial. O país é uma estrela na recém-reconfigurada fase pós-Guerra Fria, juntamente com seus parceiros do BRICS: Rússia, Índia, China e África do Sul. Graças, em parte, a medidas fiscais sensatas colocadas em prática desde 1994, o Brasil resistiu à crise financeira de 2008-2009 melhor do que a maior parte dos países. A sua independência energética, um programa de etanol robusto, e a descoberta de petróleo e gás natural na sua costa ajudaram o Brasil a obter um papel de liderança nas políticas energéticas internacionais. O país também se uniu aos seus parceiros do BRICS para confrontar as nações industrializadas em questões como crescimento global e mudanças climáticas. Para entender como surgiu este "novo Brasil", primeiro, você precisa entender a história do "velho Brasil".

Colônia, Império e República
Império do Brasil: 1822–1889
O rei de Portugal no século XVI, Dom João III dividiu o Brasil Colônia em latifúndios, conhecidos como "capitanias hereditárias". Os favoritos da corte portuguesa assumiram a responsabilidade de desenvolver estes territórios. Assim o Brasil, o maior país da América do Sul, acabou ficando para trás do resto do continente em desenvolvimento. Enquanto outros países sob colonização espanhola tornavam-se repúblicas independentes, o Brasil continuou como uma monarquia até 1889. O seu sistema feudal limitou a evolução do Brasil, contribuiu para a desigualdade de renda, limitou o mercado interno e manteve uma separação rígida entre os que tinham posses e os que não tinham. A força econômica do Brasil vinha da riqueza dos seus recursos naturais e minerais, como açúcar, café, ouro, diamantes, pau-brasil e algodão. Os comerciantes de escravos portugueses importaram mais de quatro milhões de africanos para trabalhar nas fazendas. A escravidão ajudou a definir e demarcar as classes da sociedade brasileira por séculos. O país se expandiu sobre uma vasta área que compreende mais da metade da América do Sul.
Brasileiros
A família real portuguesa, sob o cerco das forças de Napoleão, fugiu para o Brasil e aqui se estabeleceu, governando o país mesmo após a independência. Portugal, embora beneficiado pelas riquezas do Brasil, nunca chegou a integrar a colônia em sua própria sociedade. Após os movimentos revolucionários do final do século XVIII, o Brasil finalmente conseguiu a independência de Portugal em 1822. O Brasil precisava de um governo que reconhecesse o papel do imperador e integrasse o seu vasto território. Em 1824, o país adotou uma nova constituição que garantia a liberdade e os direitos individuais e previa a eleição de representantes. Mas muitos brasileiros permaneceram marginalizados. O imperador, sofrendo a oposição de partidos liberais, abdicou em 1831. E depois de muita disputa política, o país instalou o seu filho de 14 anos de idade como imperador em 1840.
Imperador D.Pedro II, rodeado por destacados políticos
e figuras nacionais, 1875
O café logo se tornou o principal produto de exportação do Brasil. Os britânicos reconheceram as oportunidades econômicas do Brasil e investiram no país, enviando engenheiros e produtores que contratavam trabalhadores não escravos. A imigração adicional ajudou a reduzir a dependência do comércio de escravos, que terminou em 1855 (e foi proibido em 1870). Na década de 1850, o país se tornou república, em parte devido à influência dos produtores de café nas províncias. Estas elites do café em conjunto com os militares pressionaram a favor da renovação e modernização. Em 1889, o imperador foi para o exílio permanente na Europa. Do final de 1800 até 1930, o Brasil viveu a fase da república velha. Em 1891, uma nova Constituição criou um sistema clássico federal que devolvia certo poder aos estados do Brasil, mas centralizava o governo nacional no Rio de Janeiro. A política interna estava estabilizada, mas nenhum líder ou instituição conseguiu efetivamente unificar o país ou estabelecer uma identidade nacional. O café continuava a impulsionar a economia, sufocando outras indústrias. 
Alguns momentos após a assinatura da Lei Áurea,
a princesa Isabel - na varanda central do Palácio da Cidade -
é recebida por uma enorme multidão 
Na década de 1920, algumas revoltas desafiaram a oligarquia cafeeira. Depois de muito tumulto político e com a crise econômica de 1929, Getúlio Vargas assumiu o poder, tornando-se um dos mais importantes líderes do Brasil no século XX.

Os Primórdios de um Brasil Moderno
Getúlio Vargas em outubro de 1930
Vargas governou o Brasil por 18 anos em muitas fases: como líder provisório, como Chefe do Executivo nomeado, como ditador "soft" e como presidente eleito. Ele centralizou a autoridade, estabeleceu um Ministério da Educação e Saúde e garantiu boas relações com a Igreja Católica (resultando com o Cristo Redentor no Corcovado). Em 1934 a Assembleia Nacional escreveu uma nova Constituição que estabelecia um único mandato de quatro anos para presidente do país; porém em 1938 o Brasil enfrentou nova turbulência política. Pouco antes do fim do seu mandato, Vargas derrubou o governo representativo e criou o "Estado Novo". Após aniquilar os seus adversários políticos, Vargas mudou seu foco para a industrialização. Enfatizando as iniciativas econômicas e utilizando os seus instintos políticos sagazes, Vargas foi capaz de consolidar o seu poder ao longo dos anos 1940, apesar do surgimento de opositores. Considerado o "pai do Brasil moderno", ele deixou o cargo apenas durante grande oposição militar após a Segunda Guerra Mundial.
Exerceu a presidência da república do Brasil
por convocação das Forças Armadas,
como presidente do Supremo Tribunal Federal,
após a derrubada de Getúlio Vargas
Em 1946, o Brasil criou uma nova república e começou uma transição gradual para a democracia. Mas os líderes brasileiros tornavam-se cada vez mais pessimistas quanto ao futuro econômico do país, principalmente devido a sua confiança excessiva nas exportações. A administração de Eurico Gaspar Dutra não conseguiria lidar bem com estas questões. Após reassumir a presidência, Vargas criou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e, em 1953, criou a companhia nacional de petróleo, a Petrobras. Contudo ele perdeu o controle do poder depois que um dos seus adversários políticos sofreu uma tentativa de assassinato. Com os militares novamente exigindo a sua renúncia, Vargas suicidou-se em 1954.
A morte de Vargas marcou o fim de uma era
Por 10 anos o Brasil ficou à mercê de vários governos, todos incapazes de lidar de forma eficaz com a dívida nacional, um sistema de ensino inadequado e uma infraestrutura decadente. Novas políticas promoveram a indústria frente às importações, mas as dificuldades econômicas continuaram a agravar as tensões políticas. Grupos comunistas ganharam popularidade e os militares, operando nos bastidores, forçaram uma grande mudança em 1964.

Brasil: 1964-1985
Milagre econômico
(Construção da Ponte Rio-Niterói)
O chefe do governo fugiu do país e um presidente interino assumiu o cargo. Ninguém sabia o que esperar, mas os líderes brasileiros sentiram que haviam chegado a um divisor de águas. O Brasil precisava se modernizar e desradicalizar. A resposta foi um "Estado inteligente": O exército estabeleceu um governo burocrático-autoritário sob uma administração civil. O governo manteve a sua constituição, mas o novo líder assumiu poderes mais amplos. Infelizmente, isso incluía a ação policial contra grupos "subversivos", uma campanha que levou à tortura e repressão. O novo regime implementou o seu "milagre econômico", entre 1968 e 1973. A economia do Brasil progrediu com um maior papel federal nos investimentos e gastos. Mas, apesar de novos programas e evolução do setor fiscal, a popularidade do governo repressivo caiu drasticamente. A agitação civil aumentou.
Agitação civil - Passeata dos Cem Mil
Para manter o controle do poder durante as turbulências econômicas e escassez de energia dos anos 1970, o governo militar instituiu outro plano de desenvolvimento econômico que se concentrava na substituição das importações, nos investimentos de infraestrutura e no crescimento econômico sustentado. O plano foi bem sucedido o suficiente, porém sob o fardo do aumento da dívida. Ao mesmo tempo, os líderes da nação entenderam que o único caminho para enfrentar a agitação interna seria através da abertura do sistema político. A ideia da transição de volta a um governo civil ganhava crescente aceitação pública. Ao mesmo tempo, os sindicatos brasileiros começaram a reunir nova força política, gerando greves e lentidão no final da década. Surgia um novo líder trabalhista: Luiz Inácio Lula da Silva.
O líder trabalhista
A crise iminente da dívida brasileira obrigou os seus políticos a instituírem um programa de austeridade em 1979; em 1982, o governo superou a relutância em aceitar as condições do Fundo Monetário Internacional em troca de ajuda econômica. Em 1984, a inflação havia saído do controle, chegando a 200%. Um governo civil ganhou a eleição presidencial de 1985, mas o novo presidente, Tancredo Neves, morreu antes de tomar posse, levando o Brasil a anos difíceis de má transição.

Após a Deriva, FHC
José Sarney e Tancredo Neves
Com a morte de Tancredo, o vice-presidente José Sarney assumiu e precisou navegar por perigosas águas políticas e econômicas, mas não conseguiu controlar a dívida e a inflação galopante. Um número de presidentes e ministros das finanças chegaram e partiram, cada um trazendo novos planos econômicos, criando e desvalorizando moedas e impondo  impostos.
Medidas desesperadas
Depois de anos de dificuldades, o Brasil atingiu um ponto crítico com a ascensão do presidente Fernando Henrique Cardoso em 1º de Janeiro de 1995. FHC havia introduzido o Plano Real (o mesmo nome da nova moeda) em 1993, quando ainda ministro da Fazenda. O plano manteve a inflação sob controle, estimulou o PIB e elevou o poder de compra dos cidadãos. FHC foi mais além com políticas para reduzir o tamanho do setor público, aumentar a privatização e institucionalizar a responsabilidade fiscal. Apesar de algumas medidas não vingarem, como a reforma da segurança social, a maré econômica havia mudado e as soluções de longo prazo foram se firmando.
A face do Real
Apesar das crises externas, como a crise do peso mexicano de 1994 e a Crise financeira na Rússia em 1998 fustigarem o Brasil, as políticas de FHC foram bem sucedidas o suficiente para lhe garantir um segundo mandato. Então, em 1999, as tensões econômicas pressionaram o Real supervalorizado e o governo de FHC não teve escolha a não ser permitir que a moeda flutuasse livre. Com isso, o real perdeu 40% do seu valor e FHC nunca se recuperou.
O Brasil em 1999
O Brasil de Lula
FHC recebe Lula, o presidente eleito
A presidência marcante de Lula começou em 2003, após quatro tentativas de ser eleito presidente. Apesar de ser um líder sindical e de esquerda, Lula mostrou aos eleitores que também possuía um lado pragmático através da sua "Carta ao Povo Brasileiro". A sua presidência combinou políticas sociais progressistas com princípios fiscais conservadores. O resultado: um Brasil revigorado.
Um Brasil revigorado
Durante os seus oito anos de mandato, Lula: 1) Reformou o sistema de segurança social; 2) Tirou milhões de brasileiros da pobreza extrema por meio do programa "Bolsa Família"; 3) Ampliou o financiamento da educação; 4) Ajudou a país a se tornar um credor externo líquido pela primeira vez; 5) Estabeleceu o Brasil como um líder na produção de etanol e o preparou para se tornar um grande exportador de combustível fóssil; 6) Integrou o setor financeiro com os mercados mundiais; 7) Acolheu novos investidores domésticos e estrangeiros; 8) Promoveu a integração econômica na América do Sul; e 9) Firmou o Brasil como líder político mundial, trabalhando em conjunto com os outros países do BRICS para desafiar a supremacia política das nações industrializadas do G-20, em especial os EUA.
Ainda há muito a fazer
Embora Lula tenha feito algumas jogadas políticas controversas no cenário mundial, como exemplo o apoio ao presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad e o seu "programa nuclear civil", ele deixou o cargo de presidente reconhecido em todo o mundo como uma força política e econômica voltada para o futuro.

E algumas questões permaneçam e o futuro é uma incógnita...

Tocando em Frente
poesia de Almir Sater 
em parceria com Renato Teixeira

Ando devagar 
Por que já tive pressa 
E levo esse sorriso 
Por que já chorei de mais.

Hoje me sinto mais forte 
Mais feliz quem sabe 
Só levo a certeza 
De que muito pouco sei, eu nada sei.

Conhecer as manhas e as manhãs 
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar 
É preciso paz pra poder sorrir 
É preciso a chuva para florir.

Penso que cumprir a vida 
Seja simplesmente 
Compreender a marcha, 
Ir tocando em frente.

Como um velho boiadeiro 
Levando a boiada 
Vou trocando os dias 
Pela longa estrada eu vou, estrada eu sou.

Conhecer as manhas e as manhãs 
O sabor das massas e das maçãs 
É preciso amor pra poder pulsar 
É preciso paz pra poder sorrir 
É preciso a chuva para florir.

Todo mundo ama um dia 
Todo mundo chora 
Um dia a gente chega 
No outro vai embora

Cada um de nós compõe a sua história 
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz 
De ser feliz.
--
Um pouco mais sobre o Brasil:

O Brasil Deu Certo(?) E Agora?
https://archive.org/details/Brasil.Deu.Certo
Histórias do Poder - Capítulo 1 - Partidos, Alianças e Frentes
https://archive.org/details/Historias.Poder01
Histórias do Poder - Capítulo 2 - A Batalha pelo Voto
https://archive.org/details/Historias.Poder02
Histórias do Poder - Capítulo 3 - Militares, Imprensa e Igreja
https://archive.org/details/Historias.Poder03
Histórias do Poder - Capítulo 4 - Administração Pública
https://archive.org/details/Historias.Poder04
Histórias do Poder - Capítulo 5 - Economia e Política
https://archive.org/details/Historias.Poder05
Arquitetos do Poder
https://archive.org/details/Arquitetos.Poder

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