domingo, 29 de março de 2015

Quociente Emocional

Saber que alguma coisa é certa 'aqui dentro do coração' é um tipo diferente de convicção, de algum modo é uma certeza mais profunda do que achar a mesma coisa com a mente racional.Daniel Goleman
Um tipo diferente de convicção
Recentemente a revista 'TIME' (a revista semanal de maior circulação no planeta), publicou uma lista com os 25 livros mais influentes das últimas décadas (http://ti.me/13XUQcS), que mudaram a maneira de pensar sobre gestão; e nós do Mirtu's Blog acreditando que o acesso a estas formas de pensar e seus pensadores são de grande utilidade para as pessoas, temos tentado trazer alguns textos que dão acesso a essas obras.

Da última década do século XX, o mais bem-sucedido desta lista, é o trabalho de Daniel Goleman, 'Inteligência emocional', cujo subtítulo resume a grandiosidade da obra: 'A teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente' – que explica os traços e habilidades psicológicas, que são responsáveis por 80% do sucesso de uma pessoa na vida.
Inteligência emocional
Goleman afirma que habilidades como autoconhecimento e automotivação são induzidas (ou destruídas) na infância, porém, que os adultos ainda podem aprender sobre elas e aplicá-las. O destaque deste livro são as sólidas bases biológicas que explicam a inteligência emocional.

Inteligência Emocional

Nos últimos anos houve um aumento de pesquisas sobre a biologia da personalidade e da emoção. E tais estudos indicam claramente que parte da inteligência humana e da personalidade, é determinada pela genética. Mas isto levanta duas perguntas: O quanto você pode mudar em si mesmo? E, por que algumas pessoas inteligentes fracassam na vida, enquanto outras menos inteligentes prosperam? As respostas estão no conjunto de habilidades chamado inteligência emocional.

A evolução nos dotou de emoções que nos ajudam a lidar com situações de risco e agir face ao perigo. Até hoje mantemos o sistema emocional de nossos ancestrais das cavernas, que regularmente enfrentavam situações de vida ou morte. Na sociedade moderna, essas emoções muitas vezes sobrecarregam o pensamento lógico. Cada pessoa tem duas mentes, uma que pensa e uma que sente. A mente racional permite que uma pessoa pondere e reflita. Já a mente emocional é impulsiva e poderosa. Normalmente, as duas trabalham em harmonia, mas sentimentos intensos, por vezes, fazem com que a mente emocional domine a racional.

Goleman observa que o problema não está nas emoções em si, mas no uso adequado delas em determinadas situações; e cita Aristóteles:
As emoções em determinadas situações
"Qualquer um pode ficar zangado – isso é muito fácil. Mas ficar zangado com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, com o propósito certo e do jeito certo – isso não é tão fácil assim."

O desafio de Aristóteles torna-se ainda mais importante em um mundo tecnologicamente avançado, porque o significado de "civilização" deixa de ser tecnológico, negligenciando a natureza do homem e a busca por autocontrole.

Componentes da Inteligência Emocional

O Qi (Quociente intelectual) só contribui com 20% para o sucesso na vida. O resto é resultado da inteligência emocional, incluindo fatores como a capacidade de automotivação, persistência, controle dos impulsos, regulação do humor, empatia e esperança. O Qi (Quociente intelectual) e o Qe (Quociente emocional) não são competências opostas, mas funcionam separadamente. Uma pessoa pode ser intelectualmente brilhante, mas emocionalmente inepta, um desequilíbrio que pode causar muitos problemas.
Qe (Quociente emocional) e Qi (Quociente intelectual)
Daniel Goleman faz uma ligação entre a vida emocional e ética, e observa que, se uma pessoa não consegue controlar sua impulsividade, o dano será causado no mais profundo do seu eu. Controlar os impulsos "é a base da vontade e do caráter". Compaixão, outra marca do caráter, é ativada pela capacidade de apreciar o que os outros estão sentindo e pensando. Esses dois elementos são fundamentais para a inteligência emocional e, portanto, são atributos fundamentais da pessoa moral.

Peter Salovey, psicólogo de Yale, analisou a inteligência emocional em cinco domínios: autoconhecimento, controle emocional, automotivação, empatia e habilidade nos relacionamentos.

1. Autoconhecimento: Descobrindo suas Emoções
Self
Como os sentimentos estão muitas vezes escondidos, o autoconhecimento emocional exige atenção permanente ao seu estado interno, incluindo emoções. A consciência é um estado neutro que gera o autoexame, mesmo durante emoções intensas. O psicólogo John Mayer chama isto de "consciente ao mesmo tempo de nosso estado de espírito e de nossos pensamentos sobre esse estado de espírito". Para fins práticos, autoconhecimento e a capacidade de mudar o seu humor são a mesma coisa. Emoções podem ser inconscientes ou conscientes. Elas começam antes mesmo de você estar ciente de que um sentimento se aproxima. Emoções inconscientes podem ter um efeito poderoso sobre seus pensamentos e reações, mesmo que você não esteja ciente delas. Quando você se torna consciente de um sentimento, você é capaz de avaliar e melhor controlá-lo. Portanto, o autoconhecimento é a base para gerir as emoções, como exemplo ser capaz de livrar-se do mau humor.

2. Controle Emocional: Lidando com Seus Sentimentos

Desde a Grécia Antiga, o autocontrole e a capacidade de resistir a tempestades emocionais são vistos como virtudes. No entanto, a vida sem paixão seria chata. O ideal é buscar uma postura de equilíbrio: a emoção adequada. Controlar as emoções é um trabalho de tempo integral. Muitas das coisas que fazemos diariamente, do trabalho ao lazer, são tentativas de controlar o humor, visando equilibrar o zumbido constante da emoção. A arte de acalmar a onda de emoções, particularmente suas manifestações intensas, é uma habilidade básica da vida, uma das ferramentas psíquicas mais essenciais. O formato do cérebro nos mostra que quando uma pessoa está sendo varrida por uma onda emocional, ela tem pouco controle sobre o cérebro e tais emoções. No entanto, com algum esforço, mudança de comportamento ou até mesmo através de medicação, o indivíduo pode exercer controle sobre a duração e a intensidade de uma emoção.
Lidando com seus sentimentos
Uma das emoções mais difíceis de escapar é a raiva, em parte porque esta é energizante, até mesmo estimulante. Ela pode durar horas e criar um estado de prontidão, tornando as pessoas muito mais fáceis de provocar. Quando alguém já está com os nervos à flor da pele e algo desencadeia uma segunda ofensiva emocional, a emoção que se segue é especialmente intensa. Uma maneira de refrescar a raiva é buscar distrações. Sair sozinho ajuda, assim como atividade física. Emoções como tristeza e luto podem aliviar a raiva, mas trazem o perigo de uma depressão profunda. Para quebrar ciclos de depressão, terapeutas ensinam a desafiar os pensamentos que alimentam a depressão, e a planejar uma série de atividades agradáveis. Estas podem incluir exercícios, massagens, pequenas tarefas, ajudar quem precisa ou através de oração. Mudança de perspectiva cognitiva, ou ver a situação de forma mais positiva, é também uma ferramenta poderosa.

3. Automotivação: Usando a Emoção para Cumprir suas Metas

Uma motivação positiva é crucial para a conquista. Os maiores atletas, músicos e mestres de xadrez distinguem-se pela capacidade de praticar arduamente, ano após ano, começando desde cedo. As emoções determinam como alguém será bem sucedido, pois elas podem aperfeiçoar ou limitar a capacidade de usar as habilidades inatas. A capacidade de conter emoções e retardar impulsos é uma habilidade ímpar, pois é chave para uma série de realizações, desde fazer dieta até obter um diploma.
Usando a emoção para cumprir suas metas
A ansiedade deteriora o intelecto, contudo um estado de espírito positivo aprimora o pensamento. Quem tira vantagem de suas emoções, é capaz de aproveitar a ansiedade para gerar motivação. Especialistas descrevem a relação entre ansiedade e desempenho como um U invertido. Pouca ansiedade significa que não há motivação e desempenho. Muita ansiedade prejudica o intelecto. Alto desempenho acontece no meio. Um estado levemente eufórico chamado hipomania é ideal para escritores e outras pessoas criativas.

Esperança e otimismo também desempenham um papel poderoso. Esperança é não ceder ao negativismo e depressão em face aos contratempos. Otimismo é ter forte expectativa de que as coisas vão dar certo. Os otimistas atribuem o fracasso a algo que pode ser mudado, para que assim não fiquem deprimidos, caso algo não dê certo. O otimismo é uma atitude emocionalmente inteligente que melhora a performance no mundo dos negócios. Auto-eficácia – convicção de que você tem domínio sobre os eventos em sua vida e que pode enfrentar os desafios que surgirem – subjaz ambas: esperança e otimismo.

Os psicólogos identificaram um estado de pico de desempenho chamado "fluxo", o qual evoca o uso mais positivo da inteligência emocional. Fluxo é o sentimento que você tem quando está totalmente envolvido em uma tarefa a qual você ama e para qual tem habilidades avançadas. O fluxo atinge zonas entre o tédio e a ansiedade. As emoções que você sente durante o fluxo são positivas, canalizadas e dirigidas à tarefa imediata. Fluxo é um estado de auto-esquecimento e atenção concentrada, um estado de alegria, até mesmo de arrebatamento. Seu cérebro se acalma durante o fluxo, permitindo a conclusão de tarefas desafiadoras com energia mínima. Para ensinar pessoas a alcançar um fluxo, até mesmo crianças, faça-as executar atividades pelas quais são apaixonadas repetidamente.
Fluxo
4. Empatia: Dominando uma Habilidade Humana Fundamental

Quanto maior seu autoconhecimento, mais hábil você será para ler os sentimentos de outras pessoas. Rapport, a raiz do afeto, surge a partir da capacidade de empatia. Aqueles que conseguem ler os sentimentos de outras pessoas são mais populares, extrovertidos e mais sensíveis. A empatia começa na infância, com a sintonia afetiva, ou seja, o espelhamento físico não-verbal entre a criança e os pais. Esta sintonia a tranquiliza e a faz sentir-se emocionalmente conectada. A sintonia requer um sentimento calmo o suficiente para ser capaz de ler sinais sutis e não-verbais de outras pessoas.
Empatia
5. Habilidade nos Relacionamentos: Lidando com Outras Pessoas

A capacidade de expressar sentimentos é uma competência social essencial. Emoções são contagiosas. Enviamos sinais emocionais durante cada encontro e inconscientemente imitamos emoções que emanam dos outros. Assim, os sinais de cada um afetam os do outro. Conforme interagimos, muitas vezes espelhamos as linguagens corporais uns dos outros. Quanto maior esta sincronia, mais humor compartilhamos. Esta coordenação de estados de humor é a versão adulta da sintonia afetiva entre pais e bebês e representa um fator determinante da eficácia interpessoal. Quanto maior sua capacidade de sentir as emoções dos outros e controlar os sinais que você envia, melhor controlará o efeito que tem sobre os outros. Esta é uma parte crítica do exercício da sua inteligência emocional.
Lidando com outras pessoas
Inteligência Emocional Aplicada

A 'Inteligência emocional' teve um impacto significativo no local de trabalho e no mundo dos negócios e faz toda a diferença na maioria das áreas da nossa vida diária:

• Gestão: A arrogância projetada por alguns patrões e o clima negativo que criam diminui a produtividade e afugenta os funcionários. A aplicação da inteligência emocional para evitar tais resultados negativos em um ambiente de negócios é um valor agrega- do na gestão organizacional. O feedback é a moeda de troca básica da inteligência emocional gerencial. Os gerentes devem aprender a fornecê-la e aceitá-la de forma inteligente. Não se deve interpretar os comentários nem como uma crítica tampouco como um ataque pessoal. Para fazer uma crítica construtiva, fale com a outra pessoa face-a-face. Exerça o seu senso de empatia. Transmita elogios específicos, bem como críticas. Foque nas soluções. Quem recebe a crítica deve aprender a ouvi-la como uma informação valiosa. Em uma economia dominada por trabalhadores do conhecimento, o conceito do "Quociente Emocional" do grupo é fundamental. Equipes bem sucedidas baseiam-se na capacidade dos membros de trabalhar em harmonia e aproveitar os talentos de cada um.
Inteligência emocional no trabalho
• Casamento: A inteligência emocional pode ajudar a neutralizar as tensões sociais e pessoais que tendem a gerar separações. Homens e mulheres aprendem diferentes habilidades emocionais na infância. Duras críticas são um forte sinal de alerta para existência de problemas em um casamento. Para obter harmonia, devemos aprender a criticar uma ação sem atacar a pessoa que cometeu o ato. Ataques pessoais deixam as pessoas envergonhadas e na defensiva, o que pode desencadear reações ríspidas.
Inteligência emocional no casamento
• Crianças: Estudos apontam para um declínio da saúde emocional das crianças do mundo industrializado. Esta tendência reflete-se em afastamento generalizado, ansiedade e depressão, distúrbios de atenção e comportamento delinquente. Crianças e adultos devem ser treinados nas cinco principais habilidades da inteligência emocional.
Inteligência emocional das crianças
Alfabetização Emocional

Caráter é uma palavra antiquada para as habilidades agregadas à inteligência emocional. Mas Goleman expõe a necessidade de as habilidades do Qe (Quociente emocional) se tornarem parte do currículo escolar. Pois, aquele que cultiva a capacidade de anular o foco egocêntrico e os impulsos emocionais, consegue nutrir sua inteligência emocional, incluindo autoconhecimento, autocontrole, maior motivação, aceitação das outras pessoas e aperfeiçoamento das relações.

Um grande salto para a humanidade
Evolução emocional?
A implicação mais fascinante de a 'Inteligência emocional' é que uma maior consciência e controle de nossas emoções em larga escala significaria uma evolução da espécie humana. Acreditamos que o ódio, a raiva, o ciúme, entre outros sentimentos, são "apenas humanos", mas quando olhamos para os seres humanos mais sensíveis do século XX – Gandhi, Martin Luther King, Madre Teresa –, descobrimos que essas emoções negativas estavam notavelmente ausentes. Essas pessoas foram capazes de expressar a raiva de acordo com o ditado de Aristóteles: "Eles podem usar suas emoções em vez de serem usados por elas". O que poderia ser uma melhor definição de civilidade ou humanidade?

Jardim das emoções
um conto poético de Nótlim Jucks

Havia uma ponte que cruzava o abismo do vale, e do outro lado ficava um templo dedicado a felicidade.


Ao seu redor encontravam-se as arvores dos sentimentos e o jardim das emoções.


Para lá se dirigiam as pessoas que precisavam encontrar a si mesmas. Mas todos que cruzavam a ponte do abismo tinham medo de entrar no templo da felicidade.


Muitos preferiam caminhar pelo jardim e colher algumas flores, e estas pessoas se encantavam com as flores do ódio, que possuíam pétalas largas, brilhantes e negras.


Outros se dedicavam a carregar de um lado para o outro, as sementes da inveja, plantando sonhos que pertenciam a outras pessoas, sem poder colher os frutos.


Mas de todas essas pessoas as que mais chamavam a atenção, eram aquelas que se deliciavam com os frutos da arvore da melancolia, que choravam por coisas que nunca tiveram ou por algo que há muito perderam.


O interessante é que não se encontravam crianças nesta parte do jardim, mas ao olhar mais próximo do templo, viam-se milhares delas, carregando buques de amores incondicionais, se deliciando com os frutos da arvore das gargalhadas e banhando-se nas águas da amizade.


Estas crianças interagiam com todas as criaturas do jardim das emoções, e para cada flor do ódio elas carregavam uma flor do perdão, que juntavam com as flores do amor, transformando o negro das pétalas do ódio em um azul cintilante, como o azul encontrado nas flores da inteligência.


Estas crianças corriam, entravam e saíam do templo da felicidade, inúmeras vezes. 


Quando estavam chorando buscavam o templo, mas sempre apanhavam antes uma flor de esperança e uma de carinho; e ao entrarem no templo da felicidade atiravam as flores ao ar e gritavam "sejam sonhos" e as flores se fundiam e voltavam às mãos das crianças em forma de devaneios e contentamentos.


As crianças juntavam seus devaneios próximos ao coração e não choravam mais.


Se possível, venha visitar o jardim das emoções e tente entrar no templo da felicidade; não é difícil; todas as crianças conseguem quando sorriem.


Você só precisa se lembrar como é, ser criança.

--
Um pouco mais sobre o quociente emocional você encontra em: 
http://jrmilton.blogspot.com.br/2013/04/grandeza.html

E também sobre o quociente espiritual:
http://jrmilton.blogspot.com.br/2015/02/quociente-espiritual.html

2 comentários:

  1. E quem diz que o sucesso depende da inteligência? Brincadeira.... kkkkk Mas é um tema bom pra ser discutido....

    Alain de Botton: Uma filosofia de sucesso mais bondosa e delicada #TED : http://on.ted.com/t0UeN

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    1. Muito boa a palestra de Alain de Botton: "Certifiquemo-nos que as nossas ideias de sucesso são mesmo nossas"; pois um grande problema nosso é que muitas vezes não temos uma visão clara de o que será o nosso êxito ;-)

      Qual é o teu legado?
      http://jrmilton.blogspot.com.br/2011/04/qual-e-o-teu-legado.html

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