domingo, 20 de março de 2011

Poeta

Acordar de manhã com o coração cheio
e agradecer outro dia de amor
Khalil Gibran
Exitência (Ilustração de Ma Deva Padma)
Esta publicação é um retrato mais intimista deste redator que vos escreve, o que pode não interessar a muitos dos leitores do Blog; mas dando seguimento ao projeto "Plenitude", meu mestre me convenceu que uma das melhores maneiras de transmitir algo para as pessoas, é com o próprio exemplo, então estou assumindo que isso seja verdadeiro e tentando produzir algo neste sentido.

O mestre Issa (ou senhor Talmur, para alguns céticos) é psicólogo de longa data – e coloca longa data nisso (perdoe a piada mestre, mas não resisti =) – e conheceu algumas figuras ímpares como Edward Bernays (vale a pena uma pesquisa sobre ele) e Anna Freud; se vocês não acreditarem não tem problema, às vezes é difícil até para mim =); e estes dias ele me deu um presente, traçou meu perfil psicológico. Já adianto a vocês, se vocês estiverem preparados, podem procurar um especialista na área, um Coach sério – aconselho alguém com experiência comportamental -, pois me senti num capítulo da série Criminal Minds (não, não sou serial killer, mas achei legal demais). Infelizmente não indico o mestre Issa, porque ele me proibiu de fazê-lo, alias meu presente foi conseguido apenas após eu amarrar um senhor de 90 anos e ameaçar arrancar-lhe os últimos três fios de cabelo da careca (depois desta publicação, acho que não terei mais um mestre =)

Vou fazer um resumo de alguns pontos que achei bacana e depois conto por que achei legal.

"Sabe Milton, essa sua curiosidade ainda pode lhe trazer problemas." – disse-me o mestre, olhando-me exatamente como fazia meu avô, um misto de sabedoria, simplicidade e ternura.

"Você pensa como um artista, ou melhor, você vê as coisas como um artista. Enquanto a maioria das pessoas olha as linhas retas da vida, a altura, largura e profundidade; você curva as linhas com a sua imaginação e transforma o preto e branco em azul e amarelo. E nas conversas no trabalho ou com os amigos, você quer perguntar, 'você vê o que eu vejo?' e algumas pessoas talvez vejam, mas a maioria não, e isso frustra você." – então ele olhou aquela prancheta que parecia saber mais sobre mim do que eu jamais gostaria que alguém soubesse e continuou:
Criatividade (Ilustração de Ma Deva Padma)
"Quando necessário você pensa de forma convencional. Mas, se depender só de você, geralmente você opta pelo excêntrico e o avançado. Na verdade, você normalmente fica entediado com aquilo que a maioria das pessoas se sente bem. Você aprende lendo, conversando e observando as pessoas" – fez uma pausa e prosseguiu gesticulando – "é como se sentado em uma poltrona na sua mente, você ficasse imaginando como as pessoas aprenderiam a contar se só pudessem usar números ímpares. Você gosta de desafiar idéias convencionais, querendo redefinir o que é falso e verdadeiro, o certo e o errado, o bom, o mau e o feio. É uma atitude corajosa e original, mas tem um custo." – disse-me olhando como se perguntasse se eu queria que ele prosseguisse.

"O bom, o mau e o feio, é um ótimo filme." – disse-lhe sorrindo, mas preocupado. E nesse momento ele me preparou um pouco, para me dizer o que vinha a seguir:

"A maioria das pessoas gosta de levar a vida de maneira mais comum e embora elas apreciem a sua companhia e se sintam curiosas sobre a sua última idéia 'de como contar de trás para frente de três em três', elas só conseguem agüentar você em pequenas doses. Porque muitas vezes você se torna expansivo em demasia." – e finalizou me olhando, como se esperasse que fosse chorar, ou algo do tipo, mas eu apenas me calei. Então ele prosseguiu:

"Veja Milton, eu quis lhe apresentar uma possível reação adversa que você pode causar nas pessoas, de maneira que você não pense que a frase que você tanto gosta de repetir; aquela que uma amiga sua lhe disse certa vez: 'Só existem dois tipos de pessoas no mundo. As que gostam de você e as que não te conhecem.' – é a verdade da sua vida." – e quando ele disse isso, acho que só não chorei porque as palavras dele me pareceram como as que meu avô dizia quando não queria que eu subisse na arvore da casa do vizinho. Então pedi que ele continuasse:

"Mesmo as pessoas a quem você causa desconforto sabem, como quase todos sabem, que você não é tolo. Você pensa em excesso e mesmo as suas mais loucas fantasias têm sua raiz no solo profundo das idéias sensatas e de crenças comprovadas. É por isso que eu respeito você e sua coragem como pensador inovador e pouco convencional. E tenho certeza que muita gente respeita você por isso também. Você empresta cor e imaginação a minha vida, e fico pensando à vida de quantas outras pessoas você faz isso." – e nessa hora eu chorei e abracei meu avô na pessoa do meu mestre.

O mestre Issa montou um perfil para mim, com cinco páginas, o que está acima é só um trechinho que mexeu muito comigo. Ele fez questão de dizer que não era nada completo, pois tinha uma centena de coisas que ele podia avaliar e podíamos conversar, mas para mim foi suficiente. Quero compartilhar ainda um trechinho da parte emocional e depois concluir:

"Você é uma pessoa emocional Milton. Em geral todos somos, mas seus sentimentos são mais óbvios para você do que acontece com a maioria das pessoas. Você tem a sua vida em ordem, seu estado de espírito dominante é positivo, e a não ser que a vida lhe dê uns 'trancos' de vez em quando – e nessas ocasiões, você pode ficar envergonhado ou se sentir um pouco ansioso demais –, você aprecia a riqueza e a intensidade da vida que vem até você, por você ser tão espontâneo com as suas emoções." – e toda vez que o mestre concluiu um pensamento para me dizer algo menos agradável ele fez o olhar do meu avô - "É bom que você saiba que algumas pessoas podem querer manter uma certa distância, especialmente se você abordar algo em torno de qualquer coisa que possa disparar um tópico emocional em que elas se sintam desconfortáveis. Ao longo do tempo, elas podem se afastar de você cada vez mais. Você descobrirá que terá que tomar uma decisão. Ou você viola seu estilo para o conforto destas pessoas, ou espera que elas encontrem formas de se sentirem mais confortáveis com as próprias expressões emocionais. Em função da riqueza que parece brotar da sua vida emocional, a resposta mais significativa provavelmente é muito evidente para você." – concluiu o mestre Issa.

Eu quis compartilhar estes trechos do perfil que o mestre fez para mim, por que na mesma semana ele havia me proposto como tema do projeto "Plenitude", escrever sobre os talentos que as pessoas reconhecem em mim. E encontrei uma dificuldade muito grande de realizar essa tarefa – que em principio, me pareceu simples. Difícil por que não podia ser o que eu acho que as pessoas acham de mim; mas algo que elas, convivendo comigo e me olhando de suas perspectivas, acham de mim. Então pedi ajuda a pessoa que me propôs a tarefa. E o que publiquei aqui, é a parte que eu jamais seria capaz de concluir por meu próprio 'achismo'.

E a verdade é que me deu um novo horizonte de percepção, quanto a minha relação com as pessoas; quer seja positivo, ou negativo; quer seja algo que aproxima as pessoas de mim, ou as distancie. Isso eu achei fantástico.

Finalizando a publicação de hoje, o poeta Nótlim Jucks me mandou um poema com a seguinte mensagem: "Mirtu, hoje você pode publicar aquele poema arrogante que te mandei um tempo atrás. Como você mesmo publicou no post 'Paladino', não é arrogância, é confiança. Abraço.". Então publico o poema de Nótlim Jucks e aproveito e publico um poema de Vinícius de Moraes, que tem haver também com o que eu sou e com o que te convido a ser também, O ARTISTA DA SUA PRÓPRIA VIDA. Um grande abraço.

Confiança (Ilustração de Ma Deva Padma)
Um dia ainda alcanço os pés do mestre Vinícius =)

Do Jeito Errado
poesia de Nótlim Jucks

Você diz que não gosta do meu tipo,
diz que não importa o que eu digo
vou continuar fazendo tudo errado.
E eu sinto muito por não ser o que você quer que eu seja.

Por isso é melhor eu me afastar de pessoas como você,
que vêem a vida como se ela tivesse regras para serem seguidas.

Só por que eu não gosto das mesmas coisas que você,
você acha que eu não sirvo para o mundo.
Pare de se julgar melhor do que eu.
Eu vejo nos seus olhos que você deseja fazer o que eu faço.

Os caras legais não são aqueles que fazem tudo certo,
estes são os que têm medo de viver a vida.

Eu não julgo alguém por ter medo de cruzar fronteiras,
eu apenas não preciso ficar do mesmo lado deles.
Ou você acha que conhece alguém pelos sapatos que ele usa?
Acorde menina, o mundo é bem mais que essa sua blusa.

Eu não tenho dinheiro para te dar coisas de ouro,
mas tenho um mundo para te oferecer,
um mundo diferente deste que você têm vivido,
onde um homem rico pode comprar uma alma.

Este negócio de rico e pobre, sempre foi uma conta de dividir.
Dizendo que rico é aquele que pode se divertir,
e pobre é aquele que mesmo querendo não têm onde ir.
Você pode ser rico e pobre de alma,
você pode ser pobre e ter alma de sobra.

O que você sabe sobre o que os olhos não podem ver?
Todas essas coisas que carregamos num lugar
onde pessoas como você têm medo de estar.
Ou você acha que os caras legais são aqueles que fazem tudo certo?
Estes são os que têm medo de viver a vida.

Garota, o que você espera da vida?
Até quando você vai ficar esperando?
Vamos, coloque seu melhor vestido e vamos ver,
quem sabe um cara como eu não possa te ensinar a dançar.

Os caras legais não são aqueles que fazem tudo certo,
estes são os que têm medo de viver a vida.

Vamos fazer do jeito errado hoje,
vamos fazer do meu jeito
e realizar todos estes seus desejos escondidos.
Pois eu vejo nos seus olhos que você deseja fazer o que eu faço.

--
O POETA
poesia de Vinícius de Moraes

Quantos somos, não sei... Somos um, talvez dois; três, talvez quatro; cinco, talvez nada
Talvez a multiplicação de cinco em cinco mil e cujos restos encheriam doze Terras
Quantos, não sei... Só sei que somos muitos — o desespero da dízima infinita
E que somos belos como deuses mas somos trágicos.

Viemos de longe... Quem sabe no sono de Deus tenhamos aparecido como espectros
Da boca ardente dos vulcões ou da órbita cega dos lagos desaparecidos
Quem sabe tenhamos germinado misteriosamente do solo cauterizado das batalhas
Ou do ventre das baleias quem sabe tenhamos surgido?

Viemos de longe — trazemos em nós o orgulho do anjo rebelado
Do que criou e fez nascer o fogo da ilimitada e altíssima misericórdia
Trazemos em nós o orgulho de sermos úlceras no eterno corpo de Jó
E não púrpura e ouro no corpo efêmero de Faraó.

Nascemos da fonte e viemos puros porque herdeiros do sangue
E também disformes porque — ai dos escravos! não há beleza nas origens
Voávamos — Deus dera a asa do bem e a asa do mal às nossas formas impalpáveis
Recolhendo a alma das coisas para o castigo e para a perfeição na vida eterna.

Nascemos da fonte e dentro das eras vagamos como sementes invisíveis o coração dos mundos e dos homens
Deixando atrás de nós o espaço como a memória latente da nossa vida anterior
Porque o espaço é o tempo morto — e o espaço é a memória do poeta
Como o tempo vivo é a memória do homem sobre a Terra.

Foi muito antes dos pássaros — apenas rolavam na esfera os cantos de Deus
E apenas a sua sombra imensa cruzava o ar como um farol alucinado...
Existíamos já... No caos de Deus girávamos como o pó prisioneiro da vertigem
Mas de onde viéramos nós e por que privilégio recebido?

E enquanto o eterno tirava da música vazia a harmonia criadora
E da harmonia criadora a ordem dos seres e da ordem dos seres o amor
E do amor a morte e da morte o tempo e do tempo o sofrimento
E do sofrimento a contemplação e da contemplação a serenidade imperecível.

Nós percorríamos como estranhas larvas a forma patética dos astros
A tudo assistindo e tudo ouvindo e tudo guardando eternamente
Como, não sei... Éramos a primeira manifestação da divindade
Éramos o primeiro ovo se fecundando à cálida centelha.

Vivemos o inconsciente das idades nos braços palpitantes dos ciclones
E as germinações da carne no dorso descarnado dos luares
Assistimos ao mistério da revelação dos Trópicos e dos Signos
E a espantosa encantação dos eclipses e das esfinges.

Descemos longamente o espelho contemplativo das águas dos rios do Éden
E vimos, entre os animais, o homem possuir doidamente a fêmea sobre a relva
Seguimos... E quando o decurião feriu o peito de Deus crucificado
Como borboletas de sangue brotamos da carne aberta e para o amor celestial voamos.

Quantos somos, não sei... Somos um, talvez dois; três, talvez quatro; cinco, talvez nada
Talvez a multiplicação de cinco em cinco mil e cujos restos encheriam doze Terras
Quantos, não sei... Somos a constelação perdida que caminha largando estrelas
Somos a estrela perdida que caminha desfeita em luz.



* as ilustrações, se houver uma tentativa de associação com os textos, podem parecer descontextualizadas, mas devo admitir que sou fascinado pela ilustração da "Existência" concebida por Ma Deva Padma, a inserção de "Criatividade" á uma tentativa de conectividade com o texto, sem muita pretensão, e "Confiança" é a mais perfeita ilustração de como me sinto 99,99% do tempo.

* alguns poemas de Nótlim Jucks foram escritos ao som de Jerry Lee Lewis, talvez por isso soem como baladas dos anos 60.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Meu Carnaval com Doug Beleza, Flor de Sol e O Quarteto Fantástico

Os limites incapacitam
o homem de enxergar além.
A arte é uma forma de libertação,
onde não há limites.
Isis Mackoviak
     
Eu, O Coelho Branco (Tela de Isis Mackoviak)
Durante sua existência o Mirtu's Blog tem estado sempre em evolução, devido eu estar sempre buscando uma maneira de melhorá-lo, para conseguir agregar mais conteúdo e tentar transmitir boas mensagens a todos que passam por aqui. Infelizmente a partir de Julho vou deixar de contar com um dos meus maiores colaboradores – nessa minha viagem pela escrita – pois o senhor Talmur (Mestre Issa) estará "voltando para casa" e já me sinto órfão de um grande amigo; mas nossa amizade continuará mesmo a distância e enquanto ele puder me ajudar com sua sabedoria, ela será compartilhada aqui.

Bom, sem melodrama =) pois como diria meu grande amigo: "Sempre que algo se move, um espaço surge e em seguida é preenchido" – ainda existem alguns meses até Julho e mesmo antes do movimento esperado, recebi vários presentes em minha última viagem, que me ajudarão a preencher novas publicações.

Você navegante, se estiver atracando neste porto pela primeira vez, seja bem-vindo; aos frequentes navegantes, obrigado por voltarem sempre. Não sou o "Peixe Grande" com "Suas Histórias Maravilhosas", mas tento.

A publicação de hoje começa com um pensamento poético de Isis Mackoviak – minha prima (Pintora e Poetisa) – que trouxe para mim, uma reflexão sobre romper alguns limites que por vezes me imponho. Neste carnaval saí de casa rumo ao paraíso, com várias indagações na cabeça e certo vazio no peito. Meu destino: Florianópolis.

Saí de São Paulo com o tempo fechado e tipicamente cinza da capital paulistana, e assim parecia estar meu coração vacilante, que por um momento pensou em não embarcar. Mas depois de uma hora de cochilo durante o vôo das 07:05 da manhã, avistei o paraíso; o Sol ponteava suas montanhas e reluzia nas águas do seu mar, o avião estava pousando na "Ilha da Magia" e encantadamente meu animo se refez e senti um sorriso preencher meu rosto. Bendito seja o Artífice do Universo, pois sua arte não possuí reprovação.

Chegando em "Floripa" havia uma linda loura, alva, de olhos brilhantes da cor do mar, me esperando; se havia alguma dúvida que eu devia estar ali, ela se dissipou com o abraço da apaixonante Débora. Longe de qualquer má interpretação, minha querida prima me recebeu com um maravilhoso sorriso, que para qualquer um seria impossível não sorrir em retribuição.

Durante o trajeto do Aeroporto até sua casa, ela me falou sobre a Ilha – e eu, por um momento, mentalmente imagine a ilha de Lost (tenho essas viagens engraçadas de vez em quando – quase sempre =) – com tamanha paixão, que sem duvida me contagiou. Eu já estava apaixonado pela Ilha sem conhecer sequer uma de suas praias.

Logo depois, saímos brevemente para ir ao centro da cidade, pois a Débora precisava fazer algumas coisas, no que aproveitou para me apresentar o lugar.

Quando voltamos para a casa dela, logo após o almoço, encontramos meu tio Douglas fazendo um churrasquinho pra si e ouvindo Raul Seixas – o que na verdade pareceu meio surreal, pois ali estava Raul Seixas, curtindo o som de Raul Seixas. E que maravilha foi compartilhar musica, churrasco e cerveja gelada com "Doug Beleza" – perdoe o trocadilho tio.

Logo mais a tardezinha, quando minha tia chegou – a tia Sol, que o tio gosta de chamar de Flor; então o sobrinho transformou em Flor de Sol, para abrilhantar o título dessa publicação – juntamos algumas coisas, chamamos Willie "Boy" – integrante mais novo do quarteto fantástico – nos despedimos da linda loura alva, que estava indo visitar seu amor; não conseguimos tirar a artista Isis de seus afazeres e muito menos contatar a "desaparecida" Verônica – mas ela passara a noite trabalhando no restaurante mexicano para garantir a grana do semestre da faculdade de cinema; sendo assim, eu, Doug Beleza, Flor de Sol e Willie "Boy" fomos nos esbaldar nas belezas da Ilha.


Acompanhe no mapa o percurso das maravilhas: Praia do Campeche (refúgio de Antoine de Saint-Exupéry – e agora sei de onde vem a inspiração poética de "O Pequeno Príncipe"), Praia do Morro das Pedras, Praia da Armação, Praia do Matadeiro, Praia do Pântano do Sul, Praia da Solidão e Praia do Saquinho – todas visitadas com a magistral história-contada pelo meu guia especial, tio Douglas – pedagogo, poeta e escritor.

Sem perder o fôlego, no dia seguinte, seguindo mais ou menos como consta no DVD-Guia: "Floripa - A Imagem da Poesia. A Força da Beleza, Construindo um Paraíso Tropical" de Douglas Cabrera Gomes – sou fraco não né?! O cara que montou um DVD da Ilha, me apresentando o lugar – seguimos para: Daniela, Praia do Forte (achei show essa praia, o lugar, tudo =), Praia de Jurerê Internacional (tomei um banhão no mesmo mar que Ronaldinho Gaúcho e Amy Winehouse, se prosperidade "pega", tô contagiado) e Jurerê Tradicional, Praia de Canasvieiras, Cachoeira do Bom Jesus, Ponta das Canas, Praia da Lagoinha e Praia Brava.

Uau! (Não acabou não!)

Segunda-feira nunca foi tão maravilhosa – tentamos ir na Joaquina, mas o Guga devia estar aprontando algo por lá, o lugar estava inacessível, ainda assim, fomos para: Praia Mole, Barra da Lagoa, Praia do Moçambique, Rio Vermelho, Praia do Santinho e Praia dos Ingleses (onde comprei a camiseta que contém o mapa acima =).

No ínterim destas andanças, a futura cineasta Verônica me presenteou com sua presença e conversa, na qual, enquanto falávamos das praias da ilha, cinema e das viagens que ela fez com o pai, me deixou a pérola: "Que inveja que eu tenho dessa vida que eu levo" – e riu gostoso.

Voltando para São Paulo, eu tinha certeza que iam me perguntar se "peguei" alguém no Carnaval de Floripa; e a verdade é que não "peguei" ninguém; honestamente, acho que fui para Floripa "pegar" um pouco de vida e acrescentar alguns sonhos a minha coleção. Valeu muito a pena, muito.

Voltei com bagagem cheia de histórias, livros do meu tio – cujas poesias eu vou publicar aqui –, um maravilhoso quadro da minha pintora predileta; que mais posso querer? Só tenho a agradecer por ter "pego" tanta coisa.

Com amor e carinho, meu muito obrigado, Tia Solange, Tio Douglas, Débora, Verônica, Isis e Willie.

[]'s, Ju.

Amor Sideral
poesia de Douglas Cabrera Gomes

Gravito na orbita de teus olhos, 
Com os satélites do pensamento,
Onde viajo entre universos ocultos,
Entre magmas incandescentes.

Quando abre-se o infinito em teu sorriso
Alcanço o absoluto:
Nos meus atos;
Nos meus sonhos.

Entre os espaços do teu corpo, 
Encontro cósmicos caminhos,
Buracos Negros, Buracos Brancos,
A me perpetuar, espiritualizando meu ser.

Num êxtase do tempo e do espaço,
Renasço-me em teu ser etéreo,
Como um verso que se completa.

* Amor Sideral foi originalmente publicada em "Recriando Emoção!" – poesia / Douglas Cabrera Gomes, – Porecatu, 1985. Mais detalhes nas próximas publicações do Blog.

** Tomei a liberdade de batizar a tela de Isis Mackoviak, de: "Eu, O Coelho Branco". Uma alusão ao coelho branco de Alice no País das Maravilhas, pelas características do personagem e a poética sentimental retratada na tela. Obs: Foi necessário fazer uma "colagem" de duas partes da imagem da tela original, o que resultou uma imagem com um "corte", nada que desabone a obra da artista.

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Há uma música que tem tilintado na minha cabeça esses dias, mas é mais uma frase enviesada do que qualquer outra coisa. Assim: "Dizem que sou louco. Mas louco é quem me diz, que não é feliz. Eu sou feliz!" - que Arnaldo Baptista e Rita Lee perdoem minha alteração do verso, mas é um sentimento =)

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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Cultura Essencial

Para dar uma relaxada e preparar o fim de semana, o Mirtu's Blog recorre à ajuda da revista BRAVO! para apresentar uma lista com os filmes – nacionais e estrangeiros – e discos – nacionais e estrangeiros –  essenciais para quem quer conhecer o que floresceu na cultura dos últimos dez anos.

Dez filmes nacionais fundamentais da década:

JOGO DE CENA, de Eduardo Coutinho (2000). Para o veterano documentarista, todo indivíduo, diante de uma câmera, torna-se personagem de si mesmo. Em Jogo de Cena, ele radicaliza essa idéia e transita pelo fio tênue que separa a realidade da representação ao misturar relatos de mulheres anônimas com os de atrizes convidadas (Andréa Beltrão, Fernanda Torres e Marília Pêra, entre outras), que reinterpretam os mesmos depoimentos. O resultado desse embaralhamento ardiloso e sutil transcende a contundência dos dramas narrados e confunde o espectador, que não consegue identificar quais são os reais protagonistas das histórias.

LAVOURA ARCAICA, de Luiz Fernando Carvalho (2001). O atormentado André retorna à fazenda da família e enfrenta a tirania do pai e o amor incestuoso por sua irmã. Na adaptação do romance homônimo e densamente poético de Raduan Nassar, o diretor consegue traduzir em linguagem cinematográfica recursos essencialmente literários, transformando sensações em imagens igualmente impactantes. A faceta trágica dessa perversa parábola do filho pródigo ambientada entre imigrantes libaneses no interior do Brasil ganha ainda mais força graças às sólidas atuações de Selton Mello (André) e Raul Cortez (o pai).

SANTIAGO, de João Moreira Salles (2007). O documentarista João Moreira Salles filmou em 1992 palavras e gestos de Santiago Badariotti, mordomo argentino de personalidade singular que trabalhou por 30 anos na casa de sua família, no Rio de Janeiro. O cineasta retomou o material somente uma década depois e resolveu transformá-lo num filme sobre sua própria relação com Santiago - muitas vezes autoritária - e com o ato de filmá-lo. Nesse corajoso processo de auto-exposição, acabou iluminando o lugar incômodo de certa elite social e intelectual brasileira diante do mundo do trabalho e da cultura.

CIDADE DE DEUS, de Fernando Meirelles (2002). Longa-metragem brasileiro de maior repercussão internacional da década, o thriller de Fernando Meirelles, baseado no livro de Paulo Lins, gerou controvérsia por seu retrato da favela como império da violência. Filmado com vigor e competência, reciclando técnicas da TV, da publicidade e do videoclipe, Cidade de Deus incorpora em seu elenco principal atores surgidos nas próprias comunidades pobres do Rio de Janeiro, o que confere à sua dramaturgia autenticidade e frescor inauditos. Por tudo isso, tornou-se uma referência incontornável para outras produções sobre o tema.

VIAJO PORQUE PRECISO, VOLTO PORQUE TE AMO, de Karim Ainouz e Marcelo Gomes (2009). Da união dos talentos de Ainouz e Gomes, surgiu esse inusitado road movie, em que um geólogo (Irandhir Santos) se aprofunda no sertão para estudar as condições de transposição de um rio. Enquanto filma as pessoas e paisagens com que cruza em seu caminho, o protagonista (que jamais aparece) fala em off sobre a mulher que o abandonou. Do contraponto entre o que se vê e o que se ouve, os diretores constroem um híbrido de ficção e documentário que tira o máximo proveito estético e poético da precariedade das imagens.

SERRAS DA DESORDEM, de Andréa Jonacci(2006). Partindo da história real de um sobrevivente do massacre de uma aldeia indígena, Tonacci se vale de imagens de arquivo e da reencenacão do crime para tentar compreender o conflito entre duas culturas.

O INVASOR, de Beto Brant (2002). Um assassino de aluguel chantageia os empresários que o contrataram para matar um terceiro sócio. No filme, as ligações perigosas entre o capital e o crime aparecem em cenas de densidade psicológica e muita ação.

O PRISIONEIRO DA GRADE DE FERRO, de Paulo Sacramento (2004). Meses antes da implosão do presídio do Carandiru, em São Paulo, os detentos recebem equipamentos do diretor para filmar seu próprio cotidiano, revelando a vitalidade do humano sob condições desumanas.

BICHO DE SETE CABEÇAS, de Laís Bodanzky (2007). Inspirado no livro autobiográfico de Austregésilo Carrano, o filme narra o drama de um rapaz internado pelo pai num hospício por fumar maconha. Veemente libelo antimanicomial, com atuação visceral de Rodrigo Santoro.

TROPA DE ELITE 1 e 2,de José Padilha (2007 e 2010). De modo pouco usual no cinema brasileiro, Padilha aborda o narcotráfico e a corrupção sob a ótica de um policial. Acusados de apostar no maniqueísmo – concepção da realidade através de dois princípios opostos - os filmes atraíram mais de 12 milhões de espectadores.

Dez filmes estrangeiros fundamentais da década:

DOGVILLE, de Lars Von Trier (2003). Partindo de uma situação singela, o dinamarquês Lars Von Trier construiu uma das parábolas mais originais sobre a sociedade norte-americana, vista como uma rede cruel de relações de dominação. No enredo, uma jovem forasteira (Nicole Kidman), perseguida por gângsteres, busca refúgio em um vilarejo próximo às Montanhas Rochosas dos Estados Unidos, na época da Grande Depressão. Todo o filme se passa num único cenário, um enorme palco sem paredes, com marcações no chão que re¬presentam objetos e lugares. A inusitada forma antinaturalista da encenação potencializa o olhar crítico do cineasta.

CIDADE DOS SONHOS, de David Lynch (2001). Nesse longa-metragem perturbador, de narrativa elíptica, uma garota sonhadora (Naomi Watts), recém-chegada a Hollywood, acolhe uma mulher (Laura Harring) que perdeu a memória depois de um acidente. Seqüências desconexas, apoiadas numa densa atmosfera de mistério, embaralham personagens e situações, colocando em xeque as noções de sonho e vigília, de real e imaginário. Uma brilhante reflexão do diretor norte-americano sobre as crises de identidade que atormentam o homem contemporâneo.

O PÂNTANO, de Lucrecia Martel (2007). O filme de estréia da cineasta argentina evidencia seu talento para a observação sutil das relações humanas e das pulsões contraditórias dos indivíduos. Entre relações decadentes e o desconforto de um intenso verão, duas famílias convivem numa casa próxima a um pântano. A embriaguez (alcoólica ou não) dos personagens é traduzida em movimentos de câmera muitas vezes desconfortáveis, que incorporam tropeços, e acentuada pelos ruídos que se sobrepõem às falas. O clima geral de pasmaceira e inconsequência foi visto como uma metáfora da Argentina.

OS SONHADORES, de Bernardo Bertolucci (2003). Enquanto os incêndios e as barricadas das revoltas estudantis agitam as ruas de Paris em maio de 1968, três jovens vivem um insólito triângulo amoroso e mergulham em jogos eróticos e intelectuais. O italiano Bertolucci transforma o relacionamento entre um estudante norte-americano e dois irmãos anglo-franceses no núcleo narrativo de todo um contexto cultural, promovendo a intersecção entre política, arte e sexualidade. Uma visão crítica e amorosa do sonho utópico de mudar o mundo e transformar o homem.

ELEFANTE, de Gus Van Sant (2003). O norte-americano Gus Van Sant traça nesse filme um retrato cruel da juventude como um momento de incompreensão e incompletude. Toda a trama gira em torno de um colégio dos Estados Unidos onde dois alunos promovem um assassinato em massa de colegas e professores. As chacinas reais ocorridas em Columbine e outras escolas do país serviram de inspiração para o diretor. A narrativa, fragmentada no olhar subjetivo de cada personagem, confere veracidade à trama e rendeu a Van Sant a Palma de Ouro em Cannes.

TIO BOONMEE, QUE PODE RECORDAR SUAS VIDAS PASSADAS, de Apichatpong Weerasethakul (2010). À beira da morte, Boonmee recebe o fantasma da esposa e vê o filho metamorfoseado em símio. O diretor tailandês faz do realismo fantástico matéria-prima da vida cotidiana.

BASTARDOS INGLÓRIOS, de Quentin Tarantino (2009). Durante a Segunda Guerra Mundial, na França ocupada, judeus norte-americanos especializados em caçar e escalpelar nazistas planejam matar Adolf Hitler. Audacioso, o diretor norte-americano inverte os papéis e transforma vítimas em algozes.

VINCERE, de Marco Bellocchio (2009). O cineasta italiano investiga o fascismo através do drama de Ida Dalser, amante de Benito Mussolini. Entre a história e a ficção, o personagem do ditador (Filippo Timi) é aos poucos substituído por imagens reais do tirano. Impressionante.

PONTO FINAL - MATCH POINT, de Woody Allen (2005). Um ex-tenista se apaixona pela namorada do amigo rico e precisa optar entre a paixão e o dinheiro. Nesse competente suspense do diretor nova-iorquino, escolhas mundanas e questões metafísicas interferem em igual medida na vida dos personagens.

CACHÊ, de Michael Haneke (2005). Apresentador de talk-show encontra na caixa de correio vídeos com imagens roubadas de sua vida privada. Exemplo precioso do chamado "cinema da crueldade", em que o alemão Haneke sobrepõe a violência psicológica à física.

Dez discos nacionais fundamentais da década:

VENTURA, do Los Hermanos (BMC, 2003). Em seu terceiro álbum, a banda carioca alcança o ápice criativo e traduz com originalidade as angústias dos jovens recém-chegados à fase adulta. Dá, assim, um passo importante para se consolidar como o grupo que melhor associou o rock à MPB nos primeiros dez anos do século. Pouco depois do lançamento do disco, as canções de Marcelo Camelo e as de Rodrigo Amarante – líderes do conjunto, que hoje se apresenta esporadicamente – começaram a ser ouvidas nas vozes de outros talentos da mesma geração e também de veteranos, alçando a dupla à elite dos compositores brasileiros.

, de Caetano Veloso (Universal, 2006). Quando ninguém imaginava que Caetano conseguisse se reinventar novamente, surge . Os méritos do álbum têm de ser divididos com os jovens músicos que acompanharam o cantor: Pedro Sá (guitarra), Ricardo Dias Gomes (baixo e teclado) e Marcelo Callado (bateria). Digerindo as referências roqueiras do trio, o baiano cria seu disco mais áspero, altamente influenciado pelos ruídos e pela concisão dos norte-americanos do Pixies. Até nas letras, Caetano é direto, transformando em versos saborosos a sua separação da empresária Paula Lavigne e questões sobre o envelhecimento.

OURO NEGRO, de Moacir Santos (MP,B, 2001). Graças à persistência do violonista Mario Adnet e do saxofonista Zé Nogueira, Orfeu e outras composições geniais - mas um tanto esquecidas - de Moacir Santos (1924-2006) puderam reaparecer. A dupla de músicos, que assina a produção do disco, reuniu a nata do maestro pernambucano, num comovente trabalho de resgate histórico. Gilberto Gil, Ed Motta, Joyce, Milton Nascimento, João Bosco e Djavan contribuem com suas vozes. No entanto, quem brilha mesmo é o belo time de instrumentistas - do piano de Cristóvão Bastos ao sax alto de Nailor Proveta.

À PROCURA DA BATIDA PERFEITA, de Marcelo D2 (Sony, 2003). Os manos de São Paulo tiveram praticamente duas décadas para tentar abrasileirar o hip hop. Mas foi um carioca oriundo da cena rock quem tirou a idéia do papel. O ex-Planet Hemp Marcelo D2 acreditou na mistura de rap com samba e gravou um álbum (o segundo da carreira solo) que defende essa alquimia da primeira à última rima. O impacto acabou sendo tão forte que D2 ainda não conseguiu mudar de assunto - ou "virar o disco". Ele segue refém do estilo que criou, o que só reforça a importância de À Procura da Batida Perfeita.

...E O MÉTODO TÚFO DE EXPERIÊNCIAS, do Cidadão Instigado (Trafore, 2005). Após um álbum de estréia impressionante, mas de difícil digestão (O Ciclo da Dê.Cadência, de 2002), a banda cearense Cidadão Instigado ressurgiu mais amena em seu segundo trabalho. O abrandamento, porém, não tirou a força das letras quilométricas e extremamente pessoais do líder Fernando Catatau (guitarra e voz), exímio em criar baladas ultra-românticas, que se aproximam do brega. Tampouco enfraqueceu o principal achado do grupo: a fusão do rock progressivo e do rock psicodélico com ritmos nordestinos.

LUZ DA AURORA, de Yamandú Costa e Hamilton de Holanda (Eldorado, 2009). Gravado ao vivo, o álbum registra o encontro entre o violonista gaúcho e o bandolinista carioca. Dois virtuoses que conseguem exibir seus dotes sem se anularem mutuamente, uma combinação raríssima. Destaque para a faixa-título, uma das três composições escritas pela dupla.

TRIBALISTAS, de Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte. (Phonomotor/EMI, 2002). "O tribalismo é um anti-movimento / Que vai se desintegrar no próximo momento", prometia Tribalistas, a faixa que explicava a junção dos três parceiros musicais neste álbum. E assim foi. Não houve show nem segundo CD, mas ficaram os sucessos Velha Infância e Já Sei Namorar.

RUBINHO e FORÇA BRUTA, de Rubinho Jacobina (Nikita Music, 2005). O cantor carioca, autor de letras debochadas, já se destacava como um dos motores da Orquestra Imperial. Com seu disco de estreia, também se mostrou capaz de belos vôos solos. O álbum oferece as deliciosas Dr. Sabe Tudo e Artista É o K, canções-símbolo da orquestra.

SEM NOSTALGIA, de Lucas Santtana (YB Music, 2009). Baiano radicado no Rio de Janeiro, Lucas iniciou sua trajetória como músico de Gilberto Gil. Experimentou o funk carioca e o dub até atingir a plenitude neste quarto álbum, que desconstrói e recombina o estilo de tocar violão de ícones como João Gilberto e Baden Powell.

...DE ÁRVORES E VALSAS, de André Mehmari (Estúdio Monteverdi/Tratore, 2008). Neste primeiro disco, totalmente dedicado às suas composições, Mehmari se exibe em 17 instrumentos. A valsa é o gênero que domina o repertório, ainda que ela apareça amalgamada com outros estilos. Mônica Salmaso contribui para o ótimo resultado.

Dez discos estrangeiros fundamentais da década:

KALA, de M.l.A. (XL/Interscope, 2007). Desde o ótimo Arular (2005), seu primeiro disco, a inglesa M.I.A. ameaçava virar uma voz influente no universo pop. Mas foi só com Kala que o sucesso chegou. Ajudada por produtores do primeiro time, como Diplo e Timbaland, a filha de guerrilheiros cingaleses provou que suas rimas funcionam em cima das mais distintas bases, sejam ritmos indianos e africanos, seja o punk rock. Na essência, ela pinçou sons dos guetos, das periferias do mundo inteiro, e os transformou em algo absolutamente novo. Sem dúvida, um marco da música contemporânea.

SOUND OF SILVER, do LCD Soundsystem (EMI, 2007). Neste início de século, Nova York voltou a ser o lugar mais interessante do mundo para o rock e para a eletrônica. E quem melhor captou o espírito vibrante da cidade foi o grupo liderado pelo produtor norte-americano James Murphy. A metrópole, tema constante do LCD, aparece no título da balada que encerra seu segundo e ótimo álbum: New York, I Love You but You're Bringing Me Down. O disco também traz North American Scum, espécie de pedido de desculpas pelas ações internacionais do governo Bush.

THE GREATEST, de Cat Power (Matador, 2006). Até o lançamento de The Greatest, a norte-americana Cat Power não podia ser levada muito a sério. Seus discos tinham boas idéias, mas execuções pífias. Tudo mudou quando a gravadora Matador descolou os músicos que acompanham Al Green para gravar com a cantora. O que antes parecia esboço virou obra de arte e a carreira de Cat tomou novo rumo. Ela extrapolou a platéia alternativa, atingindo exigentes fãs de soul e gospel. O diretor chinês Wong Kar-Wai também foi tocado pelo disco, peça fundamental na trilha do seu Um Beijo Roubado (em que a cantora faz uma ponta).

ANYTHING GOES, de Brad Mehldau (Warner, 2004). Apesar de ser um compositor de raro talento, Brad Mehldau atingiu seu ponto máximo como intérprete nesse disco de músicas alheias. Acompanhado de baixo e bateria, o pianista norte-americano lapida em dez faixas a fórmula que começou a burilar na década de 1990. Trata com a mesma reverência standards do jazz e rocks de bandas veteranas ou mais novas. Para dar nome ao trabalho, ele escolheu um tema de Cole Porter. Mas as duas melhores recriações do álbum são Still Crazy After These Years, de Paul Simon, e Everything in Its Right Place, do Radiohead.

DIMANCHE À BAMAKO, de Amadou e Mariam (No-nesuch, 2005). O francês Manu Chão tem papel imprescindível na música pop global. No fim dos anos 80, como vocalista do Mano Negra, ele ajudou a adulterar o DNA branco do punk rock, adicionando ritmos árabes e caribenhos ao estilo. No final da década de 1990, transformou suas andanças sem fim num clássico contemporâneo (Clandestino). Sua terceira estocada foi a produção do quarto disco dessa dupla do Mali, que ele conheceu escutando rádio. O trabalho catapultou os cantores cegos ao estrelato, algo que não costuma acontecer com artistas africanos.

SOVIET KITSCH, de Regina Spektor (Sire/Warner, 2005). Em seu primeiro registro por uma grande gravadora, a pianista e cantora russa equilibra influências da seara erudita, do jazz e do rock alternativo. Canções como Us, Carbon Monoxide e The Ghost of Corporate Future estão entre as melhores que ela já escreveu.

SHOW YOUR BONES, do Yeah Yeah Yeahs (Universal, 2006). Os holofotes na vocalista Karen O não impediram que os ouvintes mais atentos percebessem a bela carpintaria sonora do guitarrista Nick Zinner e do baterista Brian Chase nesse segundo CD da banda nova-iorquina. Se a idéia é fazer barulho, que seja com charme e perspicácia.

BACK TO BLACK, de Amy Winehouse (Universal, 2006). Os desdobramentos do êxito comercial deste disco se revelaram os piores possíveis: a cantora londrina aceitou virar o personagem drogado de sua própria canção (Rehab) e sem prognósticos de uma volta gloriosa. Mas a soul music ganhou mais um item na discoteca básica.

FATHERFUCKER, do Peaches (XL, 2003). Em The Teaches of Peaches (2000), a provocadora banda canadense já insinuava ter o poder de mexer com tabus sexuais usando bases eletrônicas minimalistas. No segundo álbum, o grupo só fez confirmar sua vocação anárquica, convidando Iggy Pop para uma ponta.

YOSHIMI BATTLES THE PINK ROBOTS, do Flaming Lips (Warner, 2002). O disco é o segundo capítulo da reinvenção de uma instituição do indie rock norte-americano. O Flaming Lips das guitarras sujas e das alucinações sonoras fica ainda mais distante desse novo grupo, que achou um jeito de soar psicodélico sem se perder.

*Um agradecimento especial aos consultores da revista BRAVO! que montaram as listas apresentadas acima – a qual achamos uma ótima contribuição cultural, que não deve ficar oculta nas páginas fechadas de uma revista já recolhida – a nossa reverencia à: Cássio Starling Carlos, Ismail Xavier, José Geraldo Couto, Ricardo Calil, Carlos Calado, José Flávio Junior e Pedro Alexandre Sanches.

Todas as paixões nos fazem cometer faltas,
porém o amor nos faz cometer as mais ridículas.
La Rochefoucauld

domingo, 20 de fevereiro de 2011

As Escolhas e O Destino

Aquilo que você resiste, persiste.
Carl Gustav Jung


_ Jucks, o que é destino para você?

_ Destino é tudo que acontece conosco cujo fator não depende de nós.

_ Sartre se revira no túmulo cada vez que alguém diz algo assim!

_ Se apenas ele estiver certo, significa que todos os outros filósofos estão errados. O velho Issa não tem te ensinado nada? Ele te pediu para interpretar o que significa destino?

_ Não. Ele pediu que eu tirasse um tempo para pensar em como superar os obstáculos que surgem em nosso caminho e que por vezes resistem as nossas ações. Aí isso me fez pensar no destino.

_ Da próxima vez que vocês forem à Cultura, vou com vocês. Você não entendeu o espírito da coisa. Você precisa se focar na solução, não no problema. Vou lhe contar uma parábola dum feito realizado por um tal Alexandre da Macedônia: 

"Alexandre, precisava cruzar a Tessália com seu exército, mas havia um problema. Os tessálios haviam fechado o vale onde ficava a cidade, à esquerda e à direita do rio, impossibilitando a passagem do seu exército. Ele então se aproximou de um mapa feito por Aristóteles e apontou para a montanha Ossa, que se precipitava do mar, e disse: 'Passaremos por aqui.'
_ E como? - perguntou um de seus generais. – Nenhum de nós tem asas que eu saiba.
_ Cortaremos uma escada na rocha – replicou Alexandre.
_ Está falando sério? – perguntou o general.
_ Eu nunca brinco em dever – respondeu Alexandre.
Os presentes entreolharam-se quase incrédulos: estava claro que nenhum obstáculo, nenhuma barreira feita pelo homem ou natural, jamais iria deter Alexandre. A 'escada de Alexandre' ficou pronta em sete dias e, com a ajuda das sombras da noite, seu exercito penetrou na planície da Tessália sem desferir um só golpe."

"Alexandre da Macedônia jamais duvidou que fosse possível realizar este feito e tantos outros, por isso os realizou.

"Quis o destino que Alexandre sucumbisse a "Febre do Nilo" e Sartre diria que Alexandre sucumbiu a "Febre do Nilo" por resultado de todas as escolhas que ele fez durante a vida. Mas eu te pergunto, poderia Alexandre, saber que uma de suas escolhas o levaria a contrair um vírus? Isso seria a capacidade de prever o futuro. Eis porque não é possível haver 100% de retidão no pensamento de Sartre, o que não quer dizer que ele não esteja certo.

"E aí se encontra a razão de por que às vezes por mais que façamos, os obstáculos parecem ser intransponíveis. Porque olhamos para eles como obstáculos, quando deveríamos fazer um exercício que dá 100% de retidão ao pensamento de Sartre. O exercício de buscar "prever o futuro". Ao realizarmos o exercício de buscar "prever o futuro" e tomarmos uma ação; se não alcançarmos o resultado esperado, realizamos novamente o exercício e tomamos outra ação e assim sucessivamente até que o impossível se torne possível."

_ Não sei quem é mais louco Jucks, você ou o mestre Issa!

_ Por quê? Ele te deu alguma dica para te ajudar com sua interpretação?

_ Ele falou para eu ler Manuel Bandeira.

_ Definitivamente o velho Issa é mais louco do que eu!

Ser Como o Rio que Fluí
(poesia de Manuel Bandeira)

Ser como um rio que fluí
Silencioso no meio da noite
Não temer as trevas da noite

Se há estrelas no céu, refleti-las
E se o céu se encher de nuvens
como o rio, as nuvens são água;

Refleti-las também sem mágoa
Nas profundidades tranquilas.

--

_ Ah, Mirtu. Não esquece de publicar meu poema. Não pode se comparar a Bandeira, mas é o meu poema. E tem haver com o que conversamos.

_ Pode deixar Jucks.

As Escolhas e O Destino
(poesia de Nótlim Jucks)

Noto certa confusão,
que temporariamente
parece permanente.
Idéias confusas
que se misturam
com coisas absurdas.
A razão parece ter fugido
abrindo espaço

à emoções sem sentido.
Por estranhos caminhos
meus pensamentos seguem,
por muitas vezes
eles me comprometem.
Loucura, insanidade,
o que são senão
a perversão da realidade.
Penso quase enlouqueço,
paro repenso
me reconheço.
Escolho e sigo,
construo meu destino
e identifico meu caminho.
A confusão se vai,
os pensamentos engrenam.
Nada mais pode ser
o que já foi,
mas pode ser melhor.
A confusão já não impera,
estou de pé,
o mundo me espera.


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Paladino

O termo paladino (paladim), em linhas gerais remete a nobreza e bravura, qualidades atribuídas aos antigos guerreiros medievais, que trajavam armaduras brilhantes e sempre lutavam por uma causa elevada. Paladino é então um lutador heróico. Aquele que protege os mais fracos. Que combate a injustiça e não pensa duas vezes em arriscar a própria vida para defender seus ideais. Muitos dos cavaleiros do imperador Carlos Magno (747-814 d.C.) ficaram conhecidos como paladinos e tiveram suas façanhas imortalizadas nas "Canções de Gesta" – poemas épicos narrativos – cuja obra mais famosa é a "A Canção de Rolando". Um paladino é, por definição, um cavaleiro andante, um sujeito de grande bravura, um lutador valoroso, um campeão – e assim se denomina este confiante redator que vos escreve.
A canção de Rolando
Sobre "A Canção de Rolando" foi realizado um filme, "The Song of Roland (La Chanson de Roland)" de 1978, que infelizmente não foi lançado no Brasil; infelizmente, pois ele é considerado primorosamente fiel a obra que se baseia e de extraordinária apresentação da história da Idade Média. Porém, confesso que não o assisti, mas já o encontrei para baixar, sendo assim pretendo fazer um esforço intelectual – chique isso não!? =) esforço intelectual – de assistir um filme francês, sem legenda. Se eu conseguir depois conto para vocês.
  
Estou escrevendo sobre isso porque, como parte do projeto "Plenitude" que estou realizando, o mestre Issa me propôs pensar sobre o significado da honestidade, o que é ser verdadeiramente honesto. E ele me deixou uma "chave" para pensar nisso: "Com relação à honestidade, o fundamental é ser honesto consigo mesmo. É ter consciência dos seus propósitos de vida e de que forma são alicerçados os seus princípios. É realizar com freqüência um exame pessoal, com intuito de buscar o conhecimento de si mesmo. Sem iludir, nem criar vãs esperanças, para você ou para os outros. Basicamente é usar o que te moldou até chegar a este momento e se for preciso, mudar o que achar necessário, mas sempre sendo fiel a quem você É."
  
Sendo assim, EU SOU um paladino, cujas façanhas são empreendidas nas "batalhas" dos dias, entre feras, belas e heróis incógnitos; meu escudo é minha formação e minha espada a minha experiência. Apesar de algumas vezes eu (me) iludir e/ou esperar que aconteça – esperança – tento fugir do fútil e realizar o útil. Se isso parecer arrogância, ou falta de humildade, não é um nem outro, é apenas confiança – honestidade. Sei também, que você sendo quem você É, também é um(a) paladim.
  
Para concluir esta publicação, um poema de Nótlim Jucks; baseado na história de um paladino que se tornou rei, um personagem que resume em si muito dos ideais que eu e o poeta carregamos pela vida:

O Filho do Dragão

Ele amou a terra,
amou seus amigos,
e como amou aquela mulher!

Ele guerreou e venceu,
e quando foi insuportável
ele também chorou.

Amou tanto que perdoou
e mesmo assim o traíram,
mesmo assim o culparam.

Por amar a terra ele sempre lutou,
por amar seus amigos ele sempre tentou,
por amar aquela mulher ele chorou.

Por aquela mulher de cabelos vermelhos
e olhos verdes penetrantes,
ele caminhou sobre o fogo e venceu.

Ele jamais gostou de guerras,
mas as guerras o amaram
e como uma fera ele as agradou.

Ele libertou sua terra natal,
e a seus amigos defendeu sem igual.

Guerreou e venceu,
indo além do imaginável.

Amou tanto que perdoou,
mas isso simplesmente não bastou.

Por aquela mulher ele se entregou.

Ele amou a terra,
amou seus amigos,
e como amou aquela mulher! 

*do romance de Arthur e Guinevere
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Para meditar: