domingo, 1 de agosto de 2010

Uma Cantiga, Talvez

Mirtu's Blog em fase diversificada =) Começaremos com uma cantiga moderna, criada por Nótlim Jucks para o concurso de poesias de Santa Rita do Passa Quatro - SP, e findaremos com uma abordagem histórico-política =)
Brasil
Música agradável
poesia de Nótlim Jucks

Não sabia o que dizer,
Então resolvi resolver isso sem saber.
Disse uma palavra duas vezes
e fiz o que tinha de fazer.

Passei pela porta de um bar,
para ouvir uma banda qualquer tocar
sem saber que iria me apaixonar,
desde então nunca tive tanta vontade de amar.

Pelas palavras que fiquei por dizer,
pelo amor que veio sem querer,
quando ouvi uma banda qualquer tocar
uma diferente canção consegui criar.

Pode não ser uma cantiga de maldizer,
mas foi feita tão sem querer,
que no final não me surpreenderia
se uma crítica a sociedade aparecer.

Está longe de ter uma sucessão rítmica de sons simples,
não tem intervalos diferentes,
mas não se pode dizer que não tem
um sentido musical.

Foi por amor,
sem querer,
numa sociedade que já não o tem
nem por bem querer.

Começou quase normal
e pode-se dizer que terminou sem igual.
Foi assim com Bandeira e Fernando Pessoa,
meio à toa e melódico no final.

Conversa de bar...

Numa dessas conversas de bar, eu notei que todos têm uma opinião formada sobre política, economia, sociologia, história ou um emaranhado destas coisas todas. O interessante é que, nos dias de hoje, na velocidade em que a informação é "teletransportada para nosso cérebro", muitas vezes nos esquecemos de indagar qual o real sentido daquilo que estão nos informando. A internet uniu os povos, socializou o conhecimento e pulverizou um "saber por saber", aquele dito pelo Fulano, que foi confirmado pelo Beltrano. 

Não há uma fórmula correta que pode ser estabelecida como formadora de opinião, o que deve existir é uma ousadia pessoal de conhecer as coisas, entender porque o lado A discorda do lado B e vice-versa. No mundo, temos incontáveis religiões, todas divergem em muitos pontos, mas todas com um mesmo direcionamento apontando para um mesmo Deus, inexplicável e magnânimo, e até mesmo os cientistas por vezes só encontram explicação neste Deus que permeia todas as coisas.

Não esqueço uma passagem fantástica do livro "O menino do pijama listrado" de John Boyne, em que o menino Bruno, pergunta a sua irmã porque não podia ir brincar com os meninos do outro lado da cerca, a cerca no caso, separava a casa onde Bruno estava morando e o campo de concentração de Auschwitz. Em sua infantilidade a irmã responde que eles deveriam ficar separados porque eles eram Judeus; o que intrigou Bruno, pois se os do outro lado da cerca eram Judeus, o que eles da lado de cá eram; e ela sem saber o que responder, simplesmente disse: "Bem, não somos judeus", e com isso Bruno concluiu que se eles não eram Judeus, eles eram o contrário. Aqui vale a pena transcrever o pequeno dialogo entre os irmãos:

"Os judeus não gostam do contrário, então?" / "Não, estúpido, somos nós que não gostamos deles." / Bruno enrugou a testa. Gretel já fora repreendida incontáveis vezes por chamar o irmão de estúpido, e mesmo assim insistia. / "Então, por que não gostamos deles?", perguntou ele. / "Porque são judeus", disse Gretel. / "Entendi. E o contrário e os judeus não se dão bem." / ... (diálogo desprezado nesta transcrição) ... / "Bem, será que não dá para alguém chamá-los para conversar e..."

Para Bruno tudo era uma questão de mal entendido, que eles poderiam resolver aquilo com uma conversa e ele então poderia ir brincar com os meninos do outro lado da cerca. Eu quis colocar essa pequena transcrição aqui, apenas para tentar exemplificar que de vez em quando, devemos olhar as coisas com olhos de criança, de forma que nossa opinião formada por vezes possa ser mudada e possamos então conquistar coisas juntos. 

Segue agora então, algumas sugestões minhas. Não formadoras de opinião, mas talvez amplificadoras de horizontes (sou pretensioso não? =) 

Para assistir e assim conhecer:

O filme-documentário "O Velho - A História de Luiz Carlos Prestes" :
(https://archive.org/details/O.Velho) é um filme a ser assistido para se conhecer mais a história de um país, o nosso país. Uma história por vezes esquecida e sem muito destaque entre as tantas coisas que existem hoje para serem vistas. Através da biografia de um homem obstinado e convicto em seus ideais, fazemos uma viagem pelas paragens do Brasil, pelo cenário de uma história escrita com luta, sangue e ostracismo; mas que aos poucos surge para que todos possam conhecê-la e brindá-la.

Para todos que ficam encantados com os filmes Hollywoodianos que nos apresentam a história dos EUA com tanta ênfase que a conhecemos melhor que a nossa própria, vale o esforço, vale o tempo e aquisição de conhecimento.

Para ler e assim saber mais sobre o que achamos que sabemos:

O livro "História do Plano Real" de Luiz Filgueiras traça um panorama histórico-econômico do Brasil dentro do processo de globalização e sua reestruturação produtiva e das políticas neoliberais em nosso país. Retrata toda conjuntura do plano, fazendo um detalhado estudo de sua implantação, dos objetivos de estabilização econômica e seus impactos. Reporta fatos antecedentes à implantação do Plano Real – como a crise da dívida, o Plano Cruzado e o Plano Collor.

E com isso revela a confluência de fenômenos ideológicos marcantes do capitalismo, que são: à busca pela hegemonia das políticas liberais e a difusão do processo de reestruturação produtiva a partir dos países capitalistas como um sistema de produção globalizado. Trás ainda os reflexos que estas políticas neoliberais ocasionaram na cadeia produtiva do Brasil e as conseqüências econômicas para população como um todo.

Ainda seguindo neste clima de leitura histórico-política, gostaria de sugerir também a leitura de "Formação econômica do Brasil" de Celso Furtado:

O livro apóia-se numa visão tanto histórica como econômica. O texto se inicia com a análise da ocupação do território brasileiro, comparada também com as colônias do hemisfério norte e das Antilhas. Seguem-se os ciclos da economia e ao culminar na industrialização, o autor trata o tema com excepcional clareza. 

Paralelo a isso é apresentado um estudo da evolução da mão-de-obra no Brasil, desde a escravidão até o trabalho assalariado, o dos imigrantes europeus e o dos migrantes internos. Findando com a conclusão do autor, que aponta os desafios que até então tinham como meta serem enfrentados até o fim do século XX, mas que continuam sendo os desafios de um país em franco desenvolvimento, cuja essência visa combater o processo de disparidades regionais.

A leitura é extremamente válida para desmistificar alguns conceitos sobre os processos colonialistas, que são tidos como determinantes para as transformações das nações americanas no que elas são hoje, demonstrando com clareza os rumos que história tomou separando a América desenvolvida, da América subdesenvolvida.

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