quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Um primeiro amor

Foi em uma noite no fim do verão que o ônibus que a levava partiu; essas coisas sempre acontecem no fim do verão. Nótlim Jucks há um tempo me confidenciou que conhecera uma jovem linda, quando ambos estavam na flor da idade, ou na idade do verão, entre os 15 e os 17 anos.

Eles eram todos sorrisos acanhados, olhares encantados e corações carregados. Carregados daquela adrenalina que faz o coração pulsar mais rápido, por estar fazendo algo que se acredita que não se deve fazer. Então, entre as paredes de uma sala semi-escura, com os pais dormindo no quarto dos fundos, eles se amaram puramente; puramente é um jeito que pode ser definido como "amável", em que um carinho mais malicioso faz mais cócegas do que causa excitação, alguma coisa de descoberta, alguma coisa quase infantil.

Naquele verão eles se amaram, descobriram o primeiro amor de verdade, aquele que parece mágico e cheio de fantasias. Aquele amor sem preocupações, sem imaginar o que será amanhã, ou o que deve ser feito depois amanhã; todos os dias era apenas aquele amor. Simples, puro e porque não dizer ingênuo.

Mas este amor, em sua mais sublime concepção, aos olhos dos outros foi visto com malícia e dogmatizado, pois aqueles olhares certamente não entendiam, e desta forma eles foram obrigados a se despedir.

Sobre este primeiro amor, Nótlim Jucks escreveu dezenas de poemas, afogou todos os seus sentimentos em palavras e versos, sobrando apenas uma incerteza do que poderia ter sido, a incerteza de não saber se aquele primeiro amor poderia ter sido o verdadeiro. Mas a verdade é que todo amor, quando intensamente vivido, é genuíno, real e assim verdadeiro.

Aproveito a publicação do poema intitulado "Essa certeza incerta", para indicar a vocês um excelente filme, chamado "Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera". Eu poderia fazer uma resenha do filme e explicar porque decidi indicá-lo aqui, mas cada um que assiste a este filme, encontra algo de si em uma das estações pelas quais o filme e a vida percorrem. Existem coisas que não podemos controlar, inexoravelmente o tempo e inexplicavelmente o coração das pessoas; por isso faço uso mais uma vez dos ensinamentos de Antoine de Saint Exupéry: "Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.".

Espero que apreciem, o poema é sobre uma despedida de um primeiro amor:

Essa certeza incerta.

Uma vez, não há muito tempo,
eu tive você em meus braços.
Agora as noites estão mais curtas
e os dias mais longos.

Eu me lembro que foi algo repentino,
você me olhou fixamente e eu retribuí.
Foi como se tudo estivesse congelado
e apenas nós nos movêssemos.

Não consigo explicar o que aconteceu.
Você tinha todas aquelas dúvidas
e eu todos aqueles problemas,
mas o mundo parecia querer se entregar a nós.

Havia um certo surrealismo no ar,
uma alegria que de tão alegre era triste
e que de tão triste não cabia em si de alegre,
confundindo todas as coisas.

Talvez porque não fosse para acontecer.
Talvez porque no mundo existam regras.
Regras que limitam nossos sentimentos,
que reprimam este amor que sentimos.

Mas eu sei que eu tive você em meus braços,
eu ainda sinto seu coração batendo,
ainda sinto seu peito pressionando o meu
num movimento tranqüilo e aconchegante.

Enquanto você esteve em meus braços,
minhas noites nunca foram vazias
e meus dias nunca foram sem graça.
Hoje tudo me parece tão estranho.

Há essa certeza de que tudo está certo.
Essa alegria que não existe,
essa tristeza que persiste.
E há esse sentimento de que estou errado.

Mas no meio disso tudo eu tenho uma certeza.
Agora minhas noites são vazias e curtas
e meus dias são longos e chatos.
Pois já não te tenho mais em meus braços.

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