Hoje eu gostaria de compartilhar com vocês um poema escrito por Nótlim Jucks, que não chega a ser um romance ou uma novela de cavalaria, mas que trás em sua essência um pouco de amor cortês, um misto de contradição entre o desejo erótico e a realização espiritual alcançada através da conquista da mulher amada. Que no ideário dos que viviam os preceitos cavaleiresco, não havia nada mais sublime do que ser recebido no leito da mulher amada e por incontáveis momentos se sentirem como um só ser, completos, plenos e satisfeitos.
É estranho imaginar que numa época tida como "Idade das Trevas", havia os que procuravam a luz do amor, simples, mesmo que não duradouro, mas idealizado e sonhado, com uma intensidade que talvez seja difícil de encontrar hoje em dia, ou que apenas viva na imaginação dos bardos que compuseram canções e lendas, sobre Brunilda e Siegfried, Tristão e Isolda, e tantos outros. Sugiro que se tiverem um tempo e puderem, adquiram "Sagas de Heróis e Cavaleiros", volumes 1 e 2. São histórias simples e riquíssimas, vale à pena.
Sem mais delongas:
Entre o desejo e a consecução
Oh Deus!
Aclamar-vos-ei, pois meu coração se embaraça com minha mente.
O amor de um homem deveria ser sagrado
e o de uma mulher imaculado.
Mas eis me aqui diante de teus olhos,
a caminhar sobre tuas terras sem compreender,
porque fazes isso a meu tão exíguo ser
perante tua grandeza.
Quão afável é a dama
que ocupa todos os meus pensamentos e sonhos?
Quão grande é minha culpa
por fazer-me parte dos pensamentos de outra dama?
O mundo, no momento em que este meu sentimento se expôs,
nada significa! Pois grande seria a minha alegria
se aquela a quem meus pensamentos se põe aos pés,
dissesse que o que sente por mim é tão grande quanto o que sinto por ela.
Diz a lenda, que um homem sentado em uma nuvem branca,
branca como a barba do homem sentado nela,
redige a vida das pessoas
e que a cada linha redigida um caminho é traçado.
Pois a cada momento que me coloco a refletir,
vejo o homem a minha vida redigir
e a ele atribuo os infortúnios de meu caminho,
como se minhas faltas não fossem minhas e sim dele.
Mas este velho o qual chamam destino,
podia fazer-me sentir o gosto vigoroso da vitória.
E que vitória regozijaria mais meu coração,
do que a conquista da mulher amada.
E quais devaneios se fazem presentes
nos pensamentos de tão esperançosa dama,
que me adora sem saber como realmente sou,
simplesmente adora a imagem que tem mim.
Que culpa tenho eu?
Pergunto-me incansavelmente tentando descobrir;
que culpa tenho eu se ela faz de mim
objeto de seus devaneios.
Meus pensamentos ao extemporâneo são postos,
a expurgar minha mente me vejo,
pois preciso fazer-me esquecer
tudo isso que acontece a minha volta.
Mas quão virtuosos são meus atos, que a mim não encantam,
pois como um larápio de sonhos me vejo,
cujo fardo que me recaí é o de amar aquela que nestes braços já esteve
e como um raio a cortar o céu se esvaiu.
Por ser eu, um homem pobre de pecúnia,
tento me engrandecer nos sentimentos
e talvez isso me torne virtuoso nos atos,
mas apenas sentimentos não fazem uma vida.
Que grande valia tem um sentimentalista virtuoso
diante de um pecuniário grandioso?
Talvez o fato de não se ajoelhar e servi-lo
honrando a si mesmo e aos que acreditam.
Deus! Aclamar-vos-ei uma vez mais.
Pois como um grão de areia na imensidão do oceano me sinto.
Faze com que meu coração se acalme,
pois meus pensamentos agem de maneira inconcebível.
Pequeno sou diante destes pensamentos
por agir a mente do homem de maneira impulsiva.
Uma solução a mim cabe encontrar,
pois esquecer se faz impossível.
Mesmo que eu coloque meus pensamentos em outro lugar,
dirija-os há outros tempos,
eles parecem ajustar-se voltando a este momento,
como se só houvesse agora e aqui.
Mas que solução cabível requer
o amor que sinto por esta mulher,
e que solução cabível seria
a que não feriria a mulher para qual sou o que não sou.
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