terça-feira, 24 de novembro de 2009

A arte da conquista

Estava começando a achar os posts do Mirtu's Blog muito repetitivos, iniciando-se sempre com um "hoje", então fui atrás de um sinônimo que refletisse o momento presente, aí o dicionário me sugeriu "no dia em que estamos", então vou usá-lo pra ver como fica.

Gostaria de escrever um pouco sobre o amor
, algo que me vem à mente lendo o poema-conto publicado aqui no dia em que estamos (obs: acho que não ficou bom =), que é formatado como um conto de fadas e remete a composição de histórias do fim da idade-média.

Estas histórias, ou os romances de cavalaria, possuem preceitos quase irreais, quando não mágicos. Vislumbram um amor por demais grandioso, com personagens igualmente magnificentes em seus atos nobres; isso porque, sempre tentam retratar a moral máxima do ser humano. Mas eles trazem em si uma contradição, que é o erotismo constantemente presente, o amor doentio, lascivo, obcecado pela sensualidade, então, ao ler a "Demanda do Santo Graal" o leitor se deparará com o sagrado, com o heróico e com o profano, algo também presente em diferente tom, em "A Canção dos Nibelungos" ou tantas outras obras do ciclo arthuriano. Essa contradição entre o sagrado e o profano, o lascivo e o recato, se torna evidentemente acentuada em meados do século XVIII, com o advento do iluminismo, brotando na mente de Donatien Alphonse François de Sade, o marquês de Sade, toda fantasia reprimida do ser humano.

Certa vez, enquanto estavam sentados em um bar, um amigo perguntou a Jucks: "O que eu preciso saber sobre o amor e a arte de conquistar as mulheres, para me dar bem?". Jucks demorou-se largamente pensando e respondeu: "Não sei precisar com objetividade uma resposta para você!". E o amigo indignado lhe retrucou: "Como não sabe me responder?! Não é você quem escreve aquele monte de coisas sobre o amor, sobre as mulheres e tal?" e Jucks tranquilamente lhe respondeu: "Você mesmo definiu a conquista das mulheres como uma arte, então para realizá-la você primeiro deve se sentir um artista, ter o desejo de encantar. O que você está querendo, é que eu te dê uma fórmula, e não há uma. Você pode encontrar alguns livros, bons, outros divertidos, que por exemplo lhe digam '177 Maneiras de enlouquecer uma mulher na cama', de Margot Saint-Loup, mas eles não te dirão como VOCÊ deve fazer isso. Você pode encontrar hoje na internet uma infindável oferta de 'técnicas arrasadoras de sedução', mas vai perceber que a arte da conquista deve ser sentida, no momento, porque cada mulher é diferente e por vezes diferente em si mesma, cabendo a você descobrir como conquistá-la no momento dela, não no seu. Donatien pode te ensinar como dizer todas aquelas coisas que você fantasia, sem se constranger e sem constranger quem você quer encantar, Giacomo pode te explicar em minúcias o ofício de agradar as mulheres e Juan pode ajudá-lo a tentar captar o momento da mulher desejada, mas ainda assim a interpretação será sua. Para ter sucesso na arte da conquista, você precisa se sentir um artista, precisa se sentir encantador; depois que você acreditar nisso, talvez a mulher desejada por você também acredite." – findando sua explicação Jucks olhou para alto, mordeu o lábio pensativo e completou: "Quanto ao amor, é uma escolha que você faz na vida, independente de querer conquistar alguém ou não. Você pode opta por fazer as coisas com amor, ou sem. Se ao desejar conquistar alguém, você fizer isso com amor, o resultado lhe surpreenderá." – e dizendo isso terminou o copo de Erdinger que quase esquentara.

Nisso o amigo sorriu e disse: "Não sei por que perguntei isso pra você! Você vive sozinho!" e Jucks sorriu com certo escárnio, levantou a mão, pediu outra cerveja e retrucou: "Não tenho problema em conquistar, meu problema está mais em manter. Talvez eu ainda não tenha aprendido a ser um verdadeiro conquistador, aquele que conquista a mesma mulher várias vezes. Então enquanto isso me mantenho como um simples conquistador, aquele que conquista várias mulheres até achar a que consiga conquistar várias vezes." – e ao receber a cerveja gargalhou: "Várias, mas talvez não tantas kakaka...!".

Segue então, um conto de fadas:

Algo que vale a pena

Todo conto de fadas que se preza deve começar com: Era uma vez...
... uma linda garota, que morava lá aonde todos vão durante os sonhos. Sua beleza era sem igual, tanto que achavam que ela fosse uma deusa, não uma simples mortal.
Por onde ela passava, o coração dos homens conquistava e da inveja das damas se a-proximava. Até o pároco da cidade por ela se apaixonara. Mas havia alguém a quem sua beleza não bastava.
Enquanto ela se deitava com ricos e comia com nobres. Aquele que ela desejava, jamais pestanejava e discordava de sua beleza invejada.
Ela fez de tudo para conquistá-lo, mostrou-lhe o corpo nu e o afastou das damas. Mas seu amor jamais conquistou. E foi assim por anos, até que velha e sem encanto decidiu falar com aquele homem a quem não encantava:
_ Sente-se nobre? Por estes anos todos, muitos por mim morreram, degladiaram-se e choraram, mas você, não me dedicou nem um olhar de desejo! O que sente pobre infeliz? E por que só você minha beleza não foi capaz de conquistar?
Com a simplicidade de sempre ele a olha e toca-lhe levemente o rosto. Então diz:
_ Durante quarenta anos eu te amei em cada segundo, e invejei todos que com você se deitaram. Não mais.
_ Quando me mostrou seu corpo, eu seria hipócrita de negar, que desejei tomar-lhe em meus braços, mas eu queria mais, eu queria seu coração. Pois um dia sua beleza se esvairia e eu teria então, aquilo pelo que vale a pena morrer, lutar e chorar. Uma coisa que você desconhece e jamais terá.
Dizendo isso, virou-se e caminhou para longe dela.
Desesperada e amargurada ela gritou:
_ Não me deixa assim. Diga-me o que é que eu desconheço e jamais terei?
Ele voltou-se uma vez mais e seus lábios uma só palavra se propuseram a dizer:
_ Amor!

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