Hoje Nótlim Jucks me enviou um poema-conto que ele diz ter brotado em sua mente de maneira estranha, pois foi à fusão de um sonho com uma série de sentimentos e pensamentos que fervilhavam em sua cabeça.
Nós tínhamos combinado que eu postaria o poema-conto "Longe do passado", um dos primeiros escritos pelo poeta, mas ele achou por bem que fosse publicado algo mais leve e sutil; até porque, e fez questão de me lembrar, hoje é aniversário de minha tia, então que eu deveria publicar uma poesia que transmitisse harmonia e felicidade.
Em nossa conversa, ele disse: "Mirtu, de nada adianta querer recuperar tudo o que foi perdido durante anos, em apenas alguns meses. Inclusive o tempo. Controle sua ansiedade e deixe os poemas fluírem, eles vão se publicando através das emoções de cada dia, através das perturbações na rotina. Pare, respire, crie, não há o que recuperar, viva o momento, construa algo novo, você sabe que escrevemos a vida com tinta de sonhos, porém sabe também que não temos borracha." – e disse isso rindo e me deixando perdido sem entender muito bem o que quis dizer.
Talvez o poema ajude a tentar entender, assim:
Jardim das emoções
Havia uma ponte que cruzava o abismo do vale, e do outro lado ficava um templo dedicado a felicidade.
Ao seu redor encontravam-se as árvores dos sentimentos e o jardim das emoções.
Para lá se dirigiam as pessoas que precisavam encontrar a si mesmas. Mas todas que cruzavam a ponte do abismo tinham medo de entrar no templo da felicidade.
Muitas preferiam caminhar pelo jardim e colher algumas flores, e estas pessoas se encantavam com as flores do ódio, que possuíam pétalas largas, brilhantes e negras.
Outras se dedicavam a carregar de um lado para o outro, as sementes da inveja, plantando sonhos que pertenciam a outras pessoas, sem poder colher os frutos.
Mas de todas essas pessoas as que mais chamavam a atenção, eram aquelas que se deliciavam com os frutos da árvore da melancolia, que choravam por coisas que nunca tiveram ou por algo que há muito perderam.
O interessante é que não se encontravam crianças nesta parte do jardim, mas ao olhar mais próximo ao templo, viam-se milhares delas, carregando buquês de amores incondicionais, se deliciando com os frutos da árvore das gargalhadas e banhando-se nas águas da amizade.
Estas crianças interagiam com todas as criaturas do jardim das emoções, e para cada flor do ódio elas carregavam uma flor do perdão, que juntavam com as flores do amor, transformando o negro das pétalas do ódio em um azul cintilante, como o azul encontrado nas flores da inteligência.
Estas crianças corriam, entravam e saíam do templo da felicidade, inúmeras vezes.
Quando estavam chorando buscavam o templo, mas sempre apanhavam antes uma flor de esperança e uma de carinho; e ao entrarem no templo da felicidade atiravam as flores ao ar e gritavam "sejam sonhos" e as flores se fundiam e voltavam às mãos das crianças em forma de devaneios e contentamentos.
As crianças juntavam seus devaneios próximos ao coração e não choravam mais.
Se possível, vá visitar o jardim das emoções e tente entrar no templo da felicidade; não é difícil; todas as crianças conseguem quando sorriem.
Você só precisa se lembrar como é, ser criança.
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